São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2008

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análise

Medidas podem reforçar atuação do BC com juros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Anunciar cortes de algumas despesas de um lado e, do outro, elevar o volume geral dos gastos não ajuda a amenizar o ritmo atual de crescimento da economia -que tanto tem assustado o Banco Central- e muito menos a coordenar as expectativas do mercado financeiro. Ao contrário, poderá reforçar o papel dos juros como instrumento soberano para conter o consumo, que tem pressionado os preços.
A idéia de fazer um corte maior do que o anunciado inicialmente no Orçamento deste ano tinha como objetivo reafirmar o compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas, sinalizando que uma das fontes de estímulo para economia estaria sendo mais calibrada.
A tese foi defendida pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) como uma alternativa a um aumento dos juros no curtíssimo prazo (na reunião do Comitê de Política Monetária da semana que vem) e surgiu depois que o Copom reforçou o discurso de que poderia elevar a Selic já neste mês. Avaliava-se que isso teria um impacto pequeno na demanda, mas enorme nas expectativas dos agentes financeiros e empresários.
O pano de fundo da disputa que se travou a partir daí na equipe econômica são os diferentes diagnósticos que Fazenda e BC têm sobre a trajetória da inflação nos próximos 12 meses. O BC demonstrou claramente suas preocupações com o impacto que a combinação de reajustes salariais, aumento do salário mínimo, gastos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), expansão do emprego e crescimento econômico terá no IPCA do ano.
A Fazenda acredita que as pressões atuais na inflação se dissiparão ainda neste semestre e que o BC pode avaliar melhor o cenário antes de optar por uma alta dos juros, considerada balde de água fria no apetite das empresas para investir.
Com isso, a proposta defendida por Mantega era reter ganhos adicionais de arrecadação nos cofres da União, em vez de transformá-los em novos gastos. Segundo esse raciocínio, isso daria um pouco mais de tempo para o BC analisar os desdobramentos do atual nível de crescimento da economia.
Mesmo com essa promessa, o BC já não parecia tão satisfeito, e as apostas no mercado de que haverá elevação dos juros na semana que vem cresceram. Agora, se essa contribuição fiscal não vier ou ficar muito abaixo do necessário para tranqüilizar o Copom, os opositores dentro do governo ao conservadorismo do BC entregarão de bandeja para o presidente Henrique Meirelles e sua equipe motivos para justificarem uma alta da taxa Selic.


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