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Governo prevê receita e despesa maiores
Planejamento anuncia corte de R$ 19 bi em despesas previstas no Orçamento, mas gastos são elevados em R$ 17 bi
Bloqueio deve atingir
obras em redutos eleitorais
de congressistas; gastos
maiores virão da Previdência
e do seguro-desemprego
Sergio Lima/Folha Imagem
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Lula, ao lado de Mantega, em reunião com governadores do Nordeste no Palácio do Planalto
GUSTAVO PATU
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo anunciou ontem
um corte de R$ 19,4 bilhões em
despesas previstas no Orçamento deste ano, mas os primeiros dados fornecidos mostram que a mudança efetiva nas
previsões do Congresso para a
carga tributária e os gastos federais será próxima de zero.
O corte -ou contingenciamento, no jargão da burocracia- atingirá as despesas não
obrigatórias de custeio e investimento da União. No entanto,
nota oficial divulgada pelo Ministério do Planejamento informa que está sendo elevada
em R$ 16,9 bilhões a previsão
de despesas obrigatórias, fora
um aumento também esperado
nas contas da Previdência Social. Logo, parte do gasto esperado cai, mas outra sobe.
Os números apontam que o
governo repetirá neste ano, em
maior escala, uma estratégia
adotada em 2007, quando foi
lançado o PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento):
bloquear gastos aprovados pelo
Congresso, especialmente
obras incluídas no Orçamento
por deputados e senadores em
benefício de seus redutos eleitorais, e substituí-los por gastos
definidos pelo Executivo.
Segundo a nota do governo, o
aumento da previsão com gastos obrigatórios se concentra
em seguro-desemprego, subsídios, fundos regionais de desenvolvimento e "créditos extraordinários" -estes últimos
são despesas criadas nos últimos meses pelo governo por
meio de medidas provisórias e,
sozinhos, respondem por cerca
de R$ 10 bilhões.
Pela primeira vez na história
recente, o Executivo está prevendo uma receita até superior
à calculada pelo Congresso. O
Planejamento informou que a
estimativa foi elevada em R$
3,3 bilhões, sem incluir na conta uma redução da arrecadação
da contribuição previdenciária,
de valor não revelado.
Os gastos só não subirão na
mesma proporção porque houve um ajuste na meta federal de
superávit primário (a economia destinada ao abatimento
da dívida pública). O Congresso
havia reduzido o superávit do
Tesouro Nacional de 2,2% para
2,1% do PIB (Produto Interno
Bruto), compensando a mudança com um aumento na previsão de superávit das estatais.
O governo está desfazendo a alteração, o que resulta em uma
elevação de R$ 3 bilhões na meta do Tesouro.
A equipe econômica também
terá de bancar uma despesa extra de cerca de R$ 1 bilhão com
Previdência, assistência social
e seguro-desemprego por causa
do novo salário mínimo. O texto aprovado no Congresso previa um mínimo de R$ 412, mas
ele ficou em R$ 415. Com previsão de queda na receita previdenciária, a previsão de déficit
do INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social) foi elevada em
R$ 2,8 bilhões. A previsão de
gastos com pessoal também
pode subir em razão dos reajustes salariais negociados com o
funcionalismo público.
Versão alimentada
Nos últimos dias, o governo
chegou a alimentar a versão de
que haveria um aperto da política fiscal, capaz até de moderar
a intenção do Banco Central de
elevar os juros para controlar
as pressões sobre a inflação.
O Congresso, ao aprovar o
Orçamento, já havia feito um
corte de R$ 12,6 bilhões. Agora,
com o corte de R$ 19,4 bilhões,
a redução total das despesas
chegaria a R$ 32 bilhões. Só que
os cortes anunciados ontem,
assim como os promovidos pelos deputados e senadores, estão sendo usados basicamente
para acomodar despesas maiores do que as previstas inicialmente.
Além disso, a decisão do presidente Lula de fazer um corte
acima do inicialmente previsto
foi tomada para contemplar as
reduções de impostos que serão concedidas com o lançamento da nova política industrial, prevista para ser divulgada na próxima semana.
"Tem vários cenários para a
política industrial. Quanto
maior o corte no Orçamento,
mais fácil fica fazer a política
industrial", disse o secretário
de Acompanhamento Econômico, Nelson Barbosa, um dos
principais responsáveis no Ministério da Fazenda pela elaboração da política industrial.
Lula analisava três cenários
de cortes: R$ 14,5 bilhões, R$
16,5 bilhões e R$ 19,5 bilhões.
Acabou ficando com o valor
maior, defendido pelo ministro
Guido Mantega (Fazenda) sob
o argumento de que o momento é de demonstrar rigor no
cumprimento das metas fiscais
do governo.
Colaboraram JULIANA ROCHA e
JULIANNA SOFIA , da Sucursal de Brasília
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