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AgroFolha
Bancos estrangeiros cobram US$ 70 milhões da Braspelco
Ex-exportadora de couro é "operada" pelo grupo Bertin, afirma perita judicial
Instituições conseguiram na Justiça penhora de bens da empresa; para Braspelco, bancos não cumpriram acordo de financiamento
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Três instituições financeiras
estrangeiras -Goldman Sachs,
Pactual Overseas e Maple Trade- cobram na Justiça cerca de
US$ 70 milhões da Braspelco,
empresa que foi a maior exportadora de couro do país e que
hoje presta serviços para o grupo Bertin, um dos três maiores
frigoríficos do Brasil.
A primeira ação para cobrança da Braspelco -que em 2006
mudou a razão social para Xinguleder Couros- foi ajuizada
na 17ª Vara Cível do Rio em
abril de 2007 no valor de US$
37,8 milhões pelas três instituições. A segunda ação de execução foi ajuizada pelo Maple
Trade em dezembro de 2007
no valor de US$ 33,2 milhões.
Outras instituições, como o
Banco do Brasil, também têm
créditos com a Braspelco.
Essas três instituições financeiras emprestaram dinheiro à
Braspelco para refinanciamento de dívidas de curto prazo e
aquisição de couro cru, que,
após beneficiado, destinava-se
ao mercado externo -o couro
da Braspelco era exportado para cerca de 50 países.
"Tentamos de todas as formas, desde 2005, acordo com o
dono da Braspelco [Arnaldo José Frizzo Filho] para recuperar
a empresa e ter o que emprestamos de volta, mas ele não aceitou. Em 40 anos de vida profissional, nunca vi uma situação
como essa", afirma Adrian Urquiola, diretor da Maple Trade.
A Justiça do Rio de Janeiro
determinou a penhora de vários bens da Braspelco, como as
unidades de Itumbiara (GO) e
Nova Esperança do Sul (RS),
além de estoques de couro das
empresas. A avaliação desses
bens ainda está em curso.
Também determinou a penhora de créditos da Braspelco
com terceiros no início deste
ano. "O Bertin e outras empresas deverão depositar em conta
judicial, por determinação da
Justiça do Rio, valores que porventura venham a pagar à Braspelco", diz Alexandre Espinola
Catramby, advogado do escritório Castro, Barros, Sobral,
Gomes Advogados, que cuida
da ação das três instituições financeiras contra a Braspelco.
Desde 2006, o Bertin utiliza
as fábricas da Braspelco em
Uberlândia (MG) e em Itumbiara (GO) para processar couro cru, que, após beneficiado,
segue para o mercado externo.
Assim que entrou em crise financeira, a Braspelco parou de
exportar couro e mudou a razão social da empresa. O couro
que sai hoje da Braspelco para
exportação é do Bertin.
As operações feitas entre os
bancos e a Braspelco, segundo
informa Urquiola, eram lastreadas nos estoques da empresa. "A Braspelco apostou que o
preço do couro ia subir e elevou
os estoques, só que o preço do
couro caiu. Por que a empresa
não entrou com pedido de recuperação judicial? Porque a
Justiça iria deferir a recuperação judicial [figura que substituiu a concordata] da empresa
e apontar um administrador, o
que o sr. Arnaldo não queria",
afirma Urquiola.
A relação entre a Braspelco e
o Bertin, na avaliação dos representantes jurídicos das três
instituições financeiras, mostra que a Braspelco, e agora denominada Xinguleder, "está se
escondendo atrás do Bertin para não pagar as suas dívidas",
segundo Urquiola.
Nomeada pela Justiça do Rio
para fazer uma avaliação dos
bens da Braspelco -que envolvem fazendas, unidades industriais e estoques-, a perita judicial Jane Freitas de Andrade
constatou que "dois complexos
industriais vistoriados, em
Uberlândia e em Itumbiara, são
operados pelo grupo Bertin,
que mantém funcionários em
cargos de chefia, provendo,
mantendo e determinando estoques, aquisição de produtos
químicos, de equipamentos,
peças, demitindo e admitindo
pessoal, enfim, operando e gerindo as atividades comerciais
e industriais dos dois complexos", afirma a perita em laudo
com data de 14 de dezembro de
2007, que consta no processo.
"Parceria"
A Secretaria de Planejamento Urbano e Meio Ambiente da
Prefeitura de Uberlândia vê
"parceria" entre a Braspelco e o
Bertin. Após interditar por 70
dias e multar no início deste
ano a fábrica da Braspelco por
causar mau cheiro, fez as duas
empresas se comprometerem a
resolver o problema.
"Fizemos um termo de ajustamento de conduta em que as
duas empresas assinaram. Porque a Bertin fez uma parceria
com a essa empresa, arrendou a
Braspelco [hoje Xinguleder]",
diz o secretário Claudio Guedes. "Qualquer problema que
acontecer, o Bertin responde
conjuntamente com o Frizzo."
A Folha apurou que os bancos e os demais credores da
Braspelco já estudam medidas
jurídicas para envolver o grupo
Bertin como alvo da cobrança
da dívida total da empresa, estimada em US$ 200 milhões
pelos credores.
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