São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2008

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AgroFolha

Bancos estrangeiros cobram US$ 70 milhões da Braspelco

Ex-exportadora de couro é "operada" pelo grupo Bertin, afirma perita judicial

Instituições conseguiram na Justiça penhora de bens da empresa; para Braspelco, bancos não cumpriram acordo de financiamento

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Três instituições financeiras estrangeiras -Goldman Sachs, Pactual Overseas e Maple Trade- cobram na Justiça cerca de US$ 70 milhões da Braspelco, empresa que foi a maior exportadora de couro do país e que hoje presta serviços para o grupo Bertin, um dos três maiores frigoríficos do Brasil.
A primeira ação para cobrança da Braspelco -que em 2006 mudou a razão social para Xinguleder Couros- foi ajuizada na 17ª Vara Cível do Rio em abril de 2007 no valor de US$ 37,8 milhões pelas três instituições. A segunda ação de execução foi ajuizada pelo Maple Trade em dezembro de 2007 no valor de US$ 33,2 milhões. Outras instituições, como o Banco do Brasil, também têm créditos com a Braspelco.
Essas três instituições financeiras emprestaram dinheiro à Braspelco para refinanciamento de dívidas de curto prazo e aquisição de couro cru, que, após beneficiado, destinava-se ao mercado externo -o couro da Braspelco era exportado para cerca de 50 países.
"Tentamos de todas as formas, desde 2005, acordo com o dono da Braspelco [Arnaldo José Frizzo Filho] para recuperar a empresa e ter o que emprestamos de volta, mas ele não aceitou. Em 40 anos de vida profissional, nunca vi uma situação como essa", afirma Adrian Urquiola, diretor da Maple Trade.
A Justiça do Rio de Janeiro determinou a penhora de vários bens da Braspelco, como as unidades de Itumbiara (GO) e Nova Esperança do Sul (RS), além de estoques de couro das empresas. A avaliação desses bens ainda está em curso.
Também determinou a penhora de créditos da Braspelco com terceiros no início deste ano. "O Bertin e outras empresas deverão depositar em conta judicial, por determinação da Justiça do Rio, valores que porventura venham a pagar à Braspelco", diz Alexandre Espinola Catramby, advogado do escritório Castro, Barros, Sobral, Gomes Advogados, que cuida da ação das três instituições financeiras contra a Braspelco.
Desde 2006, o Bertin utiliza as fábricas da Braspelco em Uberlândia (MG) e em Itumbiara (GO) para processar couro cru, que, após beneficiado, segue para o mercado externo.
Assim que entrou em crise financeira, a Braspelco parou de exportar couro e mudou a razão social da empresa. O couro que sai hoje da Braspelco para exportação é do Bertin.
As operações feitas entre os bancos e a Braspelco, segundo informa Urquiola, eram lastreadas nos estoques da empresa. "A Braspelco apostou que o preço do couro ia subir e elevou os estoques, só que o preço do couro caiu. Por que a empresa não entrou com pedido de recuperação judicial? Porque a Justiça iria deferir a recuperação judicial [figura que substituiu a concordata] da empresa e apontar um administrador, o que o sr. Arnaldo não queria", afirma Urquiola.
A relação entre a Braspelco e o Bertin, na avaliação dos representantes jurídicos das três instituições financeiras, mostra que a Braspelco, e agora denominada Xinguleder, "está se escondendo atrás do Bertin para não pagar as suas dívidas", segundo Urquiola.
Nomeada pela Justiça do Rio para fazer uma avaliação dos bens da Braspelco -que envolvem fazendas, unidades industriais e estoques-, a perita judicial Jane Freitas de Andrade constatou que "dois complexos industriais vistoriados, em Uberlândia e em Itumbiara, são operados pelo grupo Bertin, que mantém funcionários em cargos de chefia, provendo, mantendo e determinando estoques, aquisição de produtos químicos, de equipamentos, peças, demitindo e admitindo pessoal, enfim, operando e gerindo as atividades comerciais e industriais dos dois complexos", afirma a perita em laudo com data de 14 de dezembro de 2007, que consta no processo.

"Parceria"
A Secretaria de Planejamento Urbano e Meio Ambiente da Prefeitura de Uberlândia vê "parceria" entre a Braspelco e o Bertin. Após interditar por 70 dias e multar no início deste ano a fábrica da Braspelco por causar mau cheiro, fez as duas empresas se comprometerem a resolver o problema.
"Fizemos um termo de ajustamento de conduta em que as duas empresas assinaram. Porque a Bertin fez uma parceria com a essa empresa, arrendou a Braspelco [hoje Xinguleder]", diz o secretário Claudio Guedes. "Qualquer problema que acontecer, o Bertin responde conjuntamente com o Frizzo."
A Folha apurou que os bancos e os demais credores da Braspelco já estudam medidas jurídicas para envolver o grupo Bertin como alvo da cobrança da dívida total da empresa, estimada em US$ 200 milhões pelos credores.


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