São Paulo, quarta-feira, 08 de maio de 2002

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FÓRUM NACIONAL

País precisa se inserir mais no comércio mundial, diz Pastore

"Crescimento sustentado está longe"

ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O Brasil ainda está longe de entrar em uma rota que leve ao crescimento econômico sustentado. Faltam maior rigor no corte de despesas por parte do governo federal, a realização de uma reforma tributária e uma inserção melhor do país no comércio mundial.
Essa foi a opinião defendida ontem pelo economista e ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore durante as discussões do segundo dia do 14º Fórum Nacional, organizado pelo economista e ex-ministro Reis Velloso. O tema deste ano do Fórum, realizado na sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), é "O Brasil e a Economia do Conhecimento".
"Embora a qualidade das políticas macroeconômicas tenha crescido nos últimos quatro anos, ainda há um extenso caminho a ser percorrido", disse Pastore.
Segundo o economista, o ajuste fiscal feito pelo governo ainda é frágil e não tem sido suficiente para estabilizar a relação entre a dívida pública e o PIB (Produto Interno Bruto), que saltou de 30,8%, em 1994, para cerca de 55% hoje.
Na opinião de Pastore, faltam políticas que forcem o governo a poupar mais, reduzindo a enorme dependência do país de recursos externos.
A opinião de Pastore é partilhada por Raul Velloso, especialista em contas públicas, que também se apresentou ontem no Fórum. Velloso destacou que os expressivos superávits fiscais conseguidos nos últimos quatro anos foram resultado de uma combinação que está se esgotando, de arrecadações temporárias de impostos, como a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), com uma forte depreciação do câmbio.
Pastore ressaltou que nem mesmo a depreciação do real frente ao dólar, desde a adoção do modelo de câmbio flutuante em 1999, tem sido suficiente para promover um aumento expressivo das exportações. "Ainda há distorções tributárias que limitam a inserção do Brasil no comércio internacional", disse.
De acordo com o economista, o aumento da participação das exportações no PIB aumentaria o fluxo de recursos externos para o país, reduzindo a dependência externa.
Pastore disse também que faltam políticas do governo que estimulem o crescimento por meio, por exemplo, do aumento da produtividade da economia.
O ministro da Fazenda Pedro Malan, que também se apresentou ontem no Fórum Nacional, garantiu que a reforma tributária-que, entre outras coisas, diminuiria os custos das exportações- poderá ser feita ainda este ano. Segundo Malan, o governo tem trabalhado discretamente, mas já avançou bastante.
"Se houver entendimento entre os partidos, temos chance de fazer a reforma tributária ainda este ano", disse Malan.
O ministro rebateu as críticas de que o atual governo foi relapso em relação a políticas que estimulassem o desenvolvimento da indústria nacional.
"Não é correta a observação de que nada foi feito nesta área", disse Malan, que citou os empréstimos concedidos pelo BNDES, a política de financiamento às exportações e os recursos destinados a subsídios e isenções como medidas de política industrial adotadas pelo governo.



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