São Paulo, quarta-feira, 08 de maio de 2002

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MERCADO

Dívida é maior que o desejável

Preocupação com Brasil não é imediata, diz FMI

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

A vice-diretora gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Anne Krueger, disse ontem que o volume da dívida pública brasileira é maior que o desejável mas que isso não causa preocupações "muito imediatas" à instituição.
Krueger mencionou ainda o risco de as economias da América Latina serem atingidas pela crise da Argentina de maneira mais destruidora, por meio de pressões sobre as moedas ou da fuga de investimentos. No entanto, elogiou a responsabilidade fiscal de países como o Brasil e disse que, à exceção da Argentina, a perspectiva para as economias latino-americanas é positiva.

Retrocesso eleitoral
Falando a um grupo de empresários do Conselho das Américas, a diretora do Fundo também fez uma referência ao risco de as eleições na América Latina provocarem um retrocesso no processo de reformas liberais.
Segundo ela, os investidores podem ficar preocupados com o calendário eleitoral (há cinco eleições presidenciais previstas para 2002 na América Latina), reduzindo seus investimentos na região.
Krueger mencionou o receio de alguns países voltarem-se contra as reformas de mercado e contra a liberalização do comércio mundial, o que, segundo ela, poderia detonar um "contágio político" na região.
A diretora creditou esse receio a "analistas", e não a ela própria ou ao Fundo.
"Alguns analistas também temem o contágio político vindo de países que se afastam das reformas de mercado e da integração à economia mundial", afirmou. "Mas muitos países da América Latina já optaram por esse caminho antes, obtendo resultados insatisfatórios."
A referência ao Brasil foi feita em resposta a David Malpass, economista-chefe da área internacional do banco de investimentos Bear Sterns. Malpass perguntou se Krueger vê riscos de a dívida pública brasileira chegar a um ponto insustentável.
Em resposta, a diretora elogiou o controle fiscal e o câmbio flexível brasileiros e afirmou que, ao contrário da Argentina, o Brasil fez "muitas reformas" que conseguem proteger o país de crises financeiras.

Sinais de controle
Krueger afirmou também que, apesar de o câmbio brasileiro ter sofrido uma depreciação nas últimas duas semanas, a taxa de juros e a inflação ficaram estáveis, num sinal de controle e de estabilidade da economia do país.
Considerando todos esses fatores, Krueger disse que a dívida pública brasileira "está maior do que gostaríamos que estivesse, mas não é uma preocupação muito imediata."
A diretora do FMI disse ainda que a instituição espera urgência da Argentina na modificação das leis de falência e de subversão econômica.
Segundo ela, o FMI só poderá ajudar o país quando o governo do presidente Eduardo Duhalde conseguir transformar seu plano de 14 pontos num "programa econômico consistente e substancial".



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