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ARTIGO
Cresce temor sobre velocidade e vigor da recuperação nos EUA
FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"
O s primeiros dias da atual
recuperação econômica estão começando a parecer os primeiros dias da anterior. Isso talvez signifique que o crescimento
econômico seja mais lento do que
muitas pessoas esperam e que o
desemprego continue aumentando por algum tempo, mesmo enquanto a economia cresce.
"Estamos em plena recuperação, mas há mais incerteza sobre
sua força", disse ontem Nanette
Abuhoff, estrategista de mercado
de títulos no JP Morgan Chase,
depois que o governo divulgou
que o índice de desemprego em
abril subiu para 6%.
Mas as preocupações sobre a
força da recuperação poderiam
fornecer o estímulo para ajudar a
economia a crescer mais depressa, enquanto o governo reage a temores de que essa seja uma recuperação sem empregos.
As semelhanças entre a recente
recessão e a anterior certamente
são grandes. Ambas foram relativamente brandas em cortes de
empregos e ambas tiveram um
choque internacional que terminou com um sucesso militar dos
Estados Unidos: a Guerra do Golfo em 1991 e a ação no Afeganistão
neste ano.
As duas recessões também foram diferentes das anteriores na
medida em que tenderam a cortar
menos empregos nas indústrias
automobilística e de construção,
tradicionalmente entre as mais
atingidas nas recessões. Em 1990-91, o maior impacto pareceu recair sobre os gerentes médios, enquanto as companhias tentavam
se enxugar. Desta vez, os setores
mais atingidos foram as estrelas
do boom anterior: tecnologia e telecomunicações.
Nas recuperações normais, as
indústrias que mais sofreram foram as que retornaram mais fortes. Mas depois de 1991 muitas
empresas decidiram evitar a volta
ao que consideravam estruturas
de custo inchadas. Agora há evidências limitadas de uma recuperação em tecnologia e quase nenhuma do fim dos cortes de gastos em telecomunicações. Mas a demanda eventualmente voltará
para essas empresas, e há motivos
para esperar que o período de
crescimento lento não seja tão
longo quanto depois de 1991.
Muitas pessoas gostariam de
ver repetida a recuperação da recessão de 1990-91. Essa recuperação mais do que compensou em
duração o que faltou em vigor inicial, e veio a ser a mais longa recuperação da história dos EUA. Mas
também custou o cargo ao primeiro presidente Bush, um dano
que sem dúvida é lembrado pelo
atual presidente Bush.
Alguns acham que essa lembrança tornará o governo mais
disposto a fazer o que é preciso
para movimentar a economia.
"Hoje temos uma tonelada de estímulos", disse James Glassman,
economista sênior no JP Morgan
Chase, salientando que o primeiro presidente Bush relutou em
forçar medidas de estímulo, como
os amplos benefícios aos desempregados hoje vigentes. Glassman
disse acreditar que o Congresso e
o atual presidente fornecerão
mais estímulos, se necessário.
Wall Street, comenta Glassman,
acha que hoje o Federal Reserve
(o banco central dos EUA) tem
menos motivos para aumentar as
taxas de juros em breve.
Se essa recuperação seguir o caminho normal traçado pelas oito
recuperações após a Segunda
Guerra Mundial, o aumento do
desemprego deve estar quase terminando. Em média, nesses oito
períodos, o índice de desemprego
atingiu o pico dois meses após o
fim da recessão. O índice nunca
subiu mais que 0,4 ponto percentual depois do fim da recessão, e
nunca levou mais de quatro meses para atingir o pico.
Então veio a recessão de 1990-91. Segundo o Departamento Nacional de Pesquisas Econômicas,
o árbitro oficial desses assuntos,
aquela recessão terminou em
março de 1991 com o índice de desemprego em 6,8%. Mas o índice
levou mais 15 meses para atingir
seu eventual pico de 7,8%.
"A construção não caiu muito
desta vez, por isso não há muita
margem para ela subir", disse Robert J. Barbera, diretor-econômico da Hoenig & Company. No
passado, o emprego no setor foi a
principal ajuda para tirar a economia da recessão.
Embora a data não tenha sido
definida oficialmente, muitos
economistas dizem que esta recessão terminou em dezembro
passado. Nesse caso, o índice de
desemprego subiu 0,2 ponto percentual quatro meses após o fim
do declínio econômico.
O mercado de ações teve dificuldades para lidar com as tendências econômicas. Ele se recuperou
rapidamente no quarto trimestre
do ano passado, quando aumentou a confiança de que a recessão
estava terminando, mas caiu neste ano devido ao temor de que a
recuperação não seja vigorosa.
Os preços das ações caíram depois do informe sobre desemprego, com a média industrial Dow Jones perdendo 85,24 pontos, indo para 10.006,63. Mas o Dow
continuou em alta na semana passada, enquanto os investidores migravam para empresas sólidas, deixando os setores mais fracos. O índice composto Nasdaq
caiu 3,1% na semana e está em seu nível mais baixo desde outubro.
Em geral, os relatórios de lucros empresariais no primeiro trimestre foram fracos, mas não piores do que as expectativas. Mas Wall Street parece ter ficado surpresa e decepcionada com o fato de os executivos não preverem rápidos
aumentos dos lucros.
"O mercado faz previsões para seis meses, mais ou menos", disse Chuck Hill, diretor de pesquisas da Thomson Financial/First Call, que contabiliza as estimativas dos
analistas. "O que o mercado está
vendo é muita incerteza."
Hill disse que para as empresas
do índice de ações Standard &
Poor's 500 o primeiro trimestre
foi o quinto em sequência a apresentar lucros menores que nos trimestres correspondentes no ano anterior. Segundo analistas, deve haver ganho de 1% no segundo trimestre, mas será menor do que estavam prevendo. E eles ainda acham que haverá grandes ganhos, de 21% a 32%, nos dois últimos trimestres do ano.
Se a América corporativa compartilhar essas previsões, a contratação poderá melhorar, assim como os gastos de capital que ajudarão a promover o crescimento.
Mas por enquanto a maioria das empresas parece hesitar em se comprometer com gastos maiores, sejam em máquinas ou em trabalhadores.
Tradução: Luiz Roberto Mendes
Gonçalves
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