São Paulo, quarta-feira, 08 de maio de 2002

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ARTIGO

Cresce temor sobre velocidade e vigor da recuperação nos EUA

FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"

O s primeiros dias da atual recuperação econômica estão começando a parecer os primeiros dias da anterior. Isso talvez signifique que o crescimento econômico seja mais lento do que muitas pessoas esperam e que o desemprego continue aumentando por algum tempo, mesmo enquanto a economia cresce.
"Estamos em plena recuperação, mas há mais incerteza sobre sua força", disse ontem Nanette Abuhoff, estrategista de mercado de títulos no JP Morgan Chase, depois que o governo divulgou que o índice de desemprego em abril subiu para 6%.
Mas as preocupações sobre a força da recuperação poderiam fornecer o estímulo para ajudar a economia a crescer mais depressa, enquanto o governo reage a temores de que essa seja uma recuperação sem empregos.
As semelhanças entre a recente recessão e a anterior certamente são grandes. Ambas foram relativamente brandas em cortes de empregos e ambas tiveram um choque internacional que terminou com um sucesso militar dos Estados Unidos: a Guerra do Golfo em 1991 e a ação no Afeganistão neste ano.
As duas recessões também foram diferentes das anteriores na medida em que tenderam a cortar menos empregos nas indústrias automobilística e de construção, tradicionalmente entre as mais atingidas nas recessões. Em 1990-91, o maior impacto pareceu recair sobre os gerentes médios, enquanto as companhias tentavam se enxugar. Desta vez, os setores mais atingidos foram as estrelas do boom anterior: tecnologia e telecomunicações.
Nas recuperações normais, as indústrias que mais sofreram foram as que retornaram mais fortes. Mas depois de 1991 muitas empresas decidiram evitar a volta ao que consideravam estruturas de custo inchadas. Agora há evidências limitadas de uma recuperação em tecnologia e quase nenhuma do fim dos cortes de gastos em telecomunicações. Mas a demanda eventualmente voltará para essas empresas, e há motivos para esperar que o período de crescimento lento não seja tão longo quanto depois de 1991.
Muitas pessoas gostariam de ver repetida a recuperação da recessão de 1990-91. Essa recuperação mais do que compensou em duração o que faltou em vigor inicial, e veio a ser a mais longa recuperação da história dos EUA. Mas também custou o cargo ao primeiro presidente Bush, um dano que sem dúvida é lembrado pelo atual presidente Bush.
Alguns acham que essa lembrança tornará o governo mais disposto a fazer o que é preciso para movimentar a economia. "Hoje temos uma tonelada de estímulos", disse James Glassman, economista sênior no JP Morgan Chase, salientando que o primeiro presidente Bush relutou em forçar medidas de estímulo, como os amplos benefícios aos desempregados hoje vigentes. Glassman disse acreditar que o Congresso e o atual presidente fornecerão mais estímulos, se necessário. Wall Street, comenta Glassman, acha que hoje o Federal Reserve (o banco central dos EUA) tem menos motivos para aumentar as taxas de juros em breve.
Se essa recuperação seguir o caminho normal traçado pelas oito recuperações após a Segunda Guerra Mundial, o aumento do desemprego deve estar quase terminando. Em média, nesses oito períodos, o índice de desemprego atingiu o pico dois meses após o fim da recessão. O índice nunca subiu mais que 0,4 ponto percentual depois do fim da recessão, e nunca levou mais de quatro meses para atingir o pico.
Então veio a recessão de 1990-91. Segundo o Departamento Nacional de Pesquisas Econômicas, o árbitro oficial desses assuntos, aquela recessão terminou em março de 1991 com o índice de desemprego em 6,8%. Mas o índice levou mais 15 meses para atingir seu eventual pico de 7,8%.
"A construção não caiu muito desta vez, por isso não há muita margem para ela subir", disse Robert J. Barbera, diretor-econômico da Hoenig & Company. No passado, o emprego no setor foi a principal ajuda para tirar a economia da recessão.
Embora a data não tenha sido definida oficialmente, muitos economistas dizem que esta recessão terminou em dezembro passado. Nesse caso, o índice de desemprego subiu 0,2 ponto percentual quatro meses após o fim do declínio econômico.
O mercado de ações teve dificuldades para lidar com as tendências econômicas. Ele se recuperou rapidamente no quarto trimestre do ano passado, quando aumentou a confiança de que a recessão estava terminando, mas caiu neste ano devido ao temor de que a recuperação não seja vigorosa.
Os preços das ações caíram depois do informe sobre desemprego, com a média industrial Dow Jones perdendo 85,24 pontos, indo para 10.006,63. Mas o Dow continuou em alta na semana passada, enquanto os investidores migravam para empresas sólidas, deixando os setores mais fracos. O índice composto Nasdaq caiu 3,1% na semana e está em seu nível mais baixo desde outubro.
Em geral, os relatórios de lucros empresariais no primeiro trimestre foram fracos, mas não piores do que as expectativas. Mas Wall Street parece ter ficado surpresa e decepcionada com o fato de os executivos não preverem rápidos aumentos dos lucros.
"O mercado faz previsões para seis meses, mais ou menos", disse Chuck Hill, diretor de pesquisas da Thomson Financial/First Call, que contabiliza as estimativas dos analistas. "O que o mercado está vendo é muita incerteza."
Hill disse que para as empresas do índice de ações Standard & Poor's 500 o primeiro trimestre foi o quinto em sequência a apresentar lucros menores que nos trimestres correspondentes no ano anterior. Segundo analistas, deve haver ganho de 1% no segundo trimestre, mas será menor do que estavam prevendo. E eles ainda acham que haverá grandes ganhos, de 21% a 32%, nos dois últimos trimestres do ano.
Se a América corporativa compartilhar essas previsões, a contratação poderá melhorar, assim como os gastos de capital que ajudarão a promover o crescimento. Mas por enquanto a maioria das empresas parece hesitar em se comprometer com gastos maiores, sejam em máquinas ou em trabalhadores.


Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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