São Paulo, sexta-feira, 08 de maio de 2009

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BC indica ciclo maior de corte do juro

Segundo o Copom, bancos ainda não incorporaram cenário de melhora da inflação na definição de suas taxas

Banco Central prevê inflação "sensivelmente" abaixo do centro da meta e sinaliza que redução da Selic poderá ser feita em mais etapas


SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos estão maiores do que deveriam porque o mercado não está levando em conta a melhora da inflação projetada pelo Banco Central. Na avaliação dos diretores da instituição, as taxas futuras de juros -para um e dois anos à frente- não incorporaram a melhora prevista para este ano e para 2010.
Como são essas taxas que servem de referência na hora em que os bancos determinam quanto cobrarão dos clientes nas operações de crédito, isso faz com que o custo dos empréstimos fique maior. Mesmo com as reduções efetuadas na Selic, que é o juro fixado a cada cinco semanas pelo BC.
A preocupação consta da ata da última reunião do Copom -o comitê formado por diretores do BC que decide o nível dos juros no país-, divulgada ontem. A ênfase do documento na melhora do quadro inflacionário foi também um sinal de que os cortes na Selic, taxa fixada pelo governo, poderão durar mais tempo do que imaginavam analistas.
Depois das reduções mais agressivas do início deste ano, a expectativa no mercado financeiro era a de que haveria uma desaceleração, com mais um ou dois cortes de menor magnitude. Na semana passada, o Banco Central reduziu os juros em um ponto percentual, para 10,25% ao ano. Na reunião do mês anterior, a queda havia sido de 1,5 ponto percentual.
Após essas novas diminuições, o BC manteria os juros estáveis e poderia iniciar um ciclo de elevação a partir do início de 2010. Essa análise se baseava nas apostas de que a turbulência internacional está arrefecendo e que economias como a brasileira poderão retomar o crescimento antes do que se projetava.
Com mais crescimento, espera-se recomposição de preços. Para o BC, no entanto, continuam "se consolidando as perspectivas de concretização de um cenário inflacionário benigno". Nas simulações baseadas em diferentes cenários, as projeções de inflação para 2009 e para o ano que vêm caíram em relação à última reunião e estão "sensivelmente" abaixo do centro da meta, fixado em 4,5% ao ano.
Além disso, os diretores defendem que, como as empresas não estão usando 100% da sua capacidade de produção, há espaço para aumentar a oferta de produtos, e a economia pode voltar a crescer sem pressão nos preços.
"Esse desenvolvimento deve contribuir para conter as pressões inflacionárias, (...) abrindo espaço para flexibilização da política monetária", destacam no documento de nove páginas.
Para o economista para América Latina do banco WestLB, Roberto Padovani, o BC tem claro o diagnóstico de que há uma recuperação em curso e que isso não traz risco para inflação. "Ele bate nessa tecla o tempo todo e procura coordenar as expectativas do mercado, indicando que os cortes poderão continuar. Isso quando já se começava a questionar a hora da parada nas reduções", afirma.
O recado do Banco Central mexeu com a curva de juros ao longo do dia de ontem. Porém, para a economista-chefe do ING, Zeina Latif, isso não se sustentará no longo prazo, pois ainda há dúvidas no cenário econômico e muitos indicadores importantes de crescimento e nível de produção serão divulgados nas próximas semanas, podendo mudar a avaliação do BC. "Num quadro de incertezas, o mercado não vai abraçar a ata e fechar os olhos", afirma.


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