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BC indica ciclo maior de corte do juro
Segundo o Copom, bancos ainda não incorporaram cenário de melhora da inflação na definição de suas taxas
Banco Central prevê inflação "sensivelmente" abaixo do centro da meta e sinaliza que redução da Selic poderá
ser feita em mais etapas
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos estão
maiores do que deveriam porque o mercado não está levando em conta a melhora da inflação projetada pelo Banco Central. Na avaliação dos diretores
da instituição, as taxas futuras
de juros -para um e dois anos à
frente- não incorporaram a
melhora prevista para este ano
e para 2010.
Como são essas taxas que
servem de referência na hora
em que os bancos determinam
quanto cobrarão dos clientes
nas operações de crédito, isso
faz com que o custo dos empréstimos fique maior. Mesmo
com as reduções efetuadas na
Selic, que é o juro fixado a cada
cinco semanas pelo BC.
A preocupação consta da ata
da última reunião do Copom
-o comitê formado por diretores do BC que decide o nível dos
juros no país-, divulgada ontem. A ênfase do documento na
melhora do quadro inflacionário foi também um sinal de que
os cortes na Selic, taxa fixada
pelo governo, poderão durar
mais tempo do que imaginavam analistas.
Depois das reduções mais
agressivas do início deste ano, a
expectativa no mercado financeiro era a de que haveria uma
desaceleração, com mais um ou
dois cortes de menor magnitude. Na semana passada, o Banco Central reduziu os juros em
um ponto percentual, para
10,25% ao ano. Na reunião do
mês anterior, a queda havia sido de 1,5 ponto percentual.
Após essas novas diminuições, o BC manteria os juros estáveis e poderia iniciar um ciclo
de elevação a partir do início de
2010. Essa análise se baseava
nas apostas de que a turbulência internacional está arrefecendo e que economias como a
brasileira poderão retomar o
crescimento antes do que se
projetava.
Com mais crescimento, espera-se recomposição de preços. Para o BC, no entanto, continuam "se consolidando as
perspectivas de concretização
de um cenário inflacionário benigno". Nas simulações baseadas em diferentes cenários, as
projeções de inflação para
2009 e para o ano que vêm caíram em relação à última reunião e estão "sensivelmente"
abaixo do centro da meta, fixado em 4,5% ao ano.
Além disso, os diretores defendem que, como as empresas
não estão usando 100% da sua
capacidade de produção, há espaço para aumentar a oferta de
produtos, e a economia pode
voltar a crescer sem pressão
nos preços.
"Esse desenvolvimento deve
contribuir para conter as pressões inflacionárias, (...) abrindo
espaço para flexibilização da
política monetária", destacam
no documento de nove páginas.
Para o economista para América Latina do banco WestLB,
Roberto Padovani, o BC tem
claro o diagnóstico de que há
uma recuperação em curso e
que isso não traz risco para inflação. "Ele bate nessa tecla o
tempo todo e procura coordenar as expectativas do mercado, indicando que os cortes poderão continuar. Isso quando já
se começava a questionar a hora da parada nas reduções",
afirma.
O recado do Banco Central
mexeu com a curva de juros ao
longo do dia de ontem. Porém,
para a economista-chefe do
ING, Zeina Latif, isso não se
sustentará no longo prazo, pois
ainda há dúvidas no cenário
econômico e muitos indicadores importantes de crescimento e nível de produção serão divulgados nas próximas semanas, podendo mudar a avaliação do BC. "Num quadro de incertezas, o mercado não vai
abraçar a ata e fechar os olhos",
afirma.
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