São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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FINANÇAS

Dólar e risco-país recuam após conversa dos diretores do Banco Central com investidores e analistas estrangeiros

País pode usar US$ 10 bi do FMI contra crise

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O Brasil pode sacar os cerca de US$ 10 bilhões de que ainda dispõe no FMI a fim de enfrentar a turbulência financeira provocada pelas dificuldades de rolagem da dívida pública. "O Brasil possui essa opção de sacar o dinheiro do FMI e se preciso for, se a gente achar que vale a pena, nós vamos sacar esse dinheiro", disse à Folha o diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo.
A informação de que o país pode recorrer ao FMI foi dada pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, durante entrevista por telefone na manhã de ontem com cerca de 800 investidores e analistas econômicos estrangeiros, organizada pelo banco nova-iorquino Goldman Sachs. A teleconferência contou ainda com a participação de Figueiredo, de Beny Parnes, diretor de Assuntos Internacionais do BC, e de Amaury Bier, secretário-executivo do Ministério da Fazenda.
Fraga afirmou que poderia usar qualquer instrumento de que dispõe para intervir no câmbio. A Folha apurou ainda que o governo está disposto a reduzir os prazos dos títulos de sua dívida e aumentar o prêmio pago pelos papéis se for necessário. Isto é, ceder mais às pressões do mercado. As declarações do BC foram bem recebidas pelo mercado. Antes mesmo do término da conferência, por volta da hora do almoço, o dólar já estava recuando, assim como risco-país. A Bolsa subiu. Também contribuiu para acalmar o mercado a expectativa quanto à divulgação de pesquisas eleitorais favoráveis ao pré-candidato governista, José Serra.
"O movimento de pânico foi interrompido com as declarações dos diretores do Banco Central", afirmou Carlos Kawall, economista do Citibank.
Bier disse que o Tesouro está com R$ 53 bilhões em caixa e que teria um colchão para defender a economia brasileira. Fraga teria se irritado com um investidor inglês que perguntou a ele por que o BC cortou contatos com os mercados e ficou menos transparente nos últimos meses. Fraga respondeu que não é obrigado a "mostrar as cartas" aos mercados.
Fraga deu a entender que a recente pressão sobre o dólar é efeito de especulação, não de procura, por parte das empresas, de proteção cambial ("hedge"). Ele disse também que, se o nível de preços continuar em queda, a tendência é de o BC cortar os juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) deste mês, que será realizada nos dias 18 e 19.
O presidente do BC fez questão de diferenciar a atual turbulência no mercado financeiro da crise enfrentada pelo país no final do ano passado, sob efeito do colapso da Argentina.
Segundo o BC, no ano passado a procura por proteção cambial, no auge da crise -quando o dólar chegou a ser cotado a R$ 2,83-, dobrou. De acordo com eles, de uma posição de cerca de US$ 22 bilhões, o total de "hedge" pulou para US$ 44 bilhões em 2001.
Eles disseram que hoje não há procura por "hedge", que a posição de proteção tem se mantido estável nos últimos dias, em torno de US$ 43 bilhões. "Isso significa que o potencial de crescimento de "hedge" é muito baixo, que as empresas já estão protegidas", disse Figueiredo. Se não há procura por "hedge" no mercado, a explicação que sobra para a recente alta do dólar é a especulação dos bancos.



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