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FINANÇAS
Dólar e risco-país recuam após conversa dos diretores do Banco Central com investidores e analistas estrangeiros
País pode usar US$ 10 bi do FMI contra crise
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O Brasil pode sacar os cerca de US$ 10 bilhões de que ainda dispõe no FMI a fim de enfrentar a turbulência financeira provocada pelas dificuldades de rolagem da
dívida pública. "O Brasil possui essa opção de sacar o dinheiro do
FMI e se preciso for, se a gente achar que vale a pena, nós vamos
sacar esse dinheiro", disse à Folha o diretor de Política Monetária do
Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo.
A informação de que o país pode recorrer ao FMI foi dada pelo
presidente do Banco Central, Armínio Fraga, durante entrevista
por telefone na manhã de ontem
com cerca de 800 investidores e
analistas econômicos estrangeiros, organizada pelo banco nova-iorquino Goldman Sachs. A teleconferência contou ainda com a
participação de Figueiredo, de
Beny Parnes, diretor de Assuntos
Internacionais do BC, e de
Amaury Bier, secretário-executivo do Ministério da Fazenda.
Fraga afirmou que poderia usar
qualquer instrumento de que dispõe para intervir no câmbio. A
Folha apurou ainda que o governo está disposto a reduzir os prazos dos títulos de sua dívida e aumentar o prêmio pago pelos papéis se for necessário. Isto é, ceder
mais às pressões do mercado. As
declarações do BC foram bem recebidas pelo mercado. Antes mesmo do término da conferência,
por volta da hora do almoço, o
dólar já estava recuando, assim
como risco-país. A Bolsa subiu.
Também contribuiu para acalmar
o mercado a expectativa quanto à
divulgação de pesquisas eleitorais
favoráveis ao pré-candidato governista, José Serra.
"O movimento de pânico foi interrompido com as declarações
dos diretores do Banco Central",
afirmou Carlos Kawall, economista do Citibank.
Bier disse que o Tesouro está
com R$ 53 bilhões em caixa e que
teria um colchão para defender a
economia brasileira. Fraga teria se
irritado com um investidor inglês
que perguntou a ele por que o BC
cortou contatos com os mercados
e ficou menos transparente nos
últimos meses. Fraga respondeu
que não é obrigado a "mostrar as
cartas" aos mercados.
Fraga deu a entender que a recente pressão sobre o dólar é efeito de especulação, não de procura, por parte das empresas, de
proteção cambial ("hedge"). Ele
disse também que, se o nível de
preços continuar em queda, a tendência é de o BC cortar os juros na
reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária) deste mês,
que será realizada nos dias 18 e 19.
O presidente do BC fez questão
de diferenciar a atual turbulência
no mercado financeiro da crise
enfrentada pelo país no final do
ano passado, sob efeito do colapso da Argentina.
Segundo o BC, no ano passado a
procura por proteção cambial, no
auge da crise -quando o dólar
chegou a ser cotado a R$ 2,83-,
dobrou. De acordo com eles, de
uma posição de cerca de US$ 22
bilhões, o total de "hedge" pulou
para US$ 44 bilhões em 2001.
Eles disseram que hoje não há
procura por "hedge", que a posição de proteção tem se mantido
estável nos últimos dias, em torno
de US$ 43 bilhões. "Isso significa
que o potencial de crescimento de
"hedge" é muito baixo, que as empresas já estão protegidas", disse
Figueiredo. Se não há procura por "hedge" no mercado, a explicação
que sobra para a recente alta do dólar é a especulação dos bancos.
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