São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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FINANÇAS

Armínio tem insistido em dizer que não havia excesso de oferta

Mercado estava inundado de títulos pós, afirma Anbid

Moacyr Lopes Júnior/Folha Imagem
Operadores de câmbio em São Paulo; dólar teve queda ontem


ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao contrário do que tem afirmado o Banco Central, havia sim uma oferta excessiva de LFTs, títulos públicos corrigidos pelos juros pós-fixados, no mercado. Essa oferta excessiva, somada a um maior risco de crédito, levou à desvalorização desses papéis, à necessidade de mudança na contabilidade dos fundos de investimento e aos recentes prejuízos nessas aplicações. Essa é a opinião de Demosthenes Madureira de Pinho Neto, vice-presidente da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
O presidente do BC, Armínio Fraga, tem insistido em afirmar que o mercado não estava inundado por uma grande quantidade de LFTs. Demosthenes, que já foi diretor do BC, discorda:
"A minha percepção é a de que havia uma oferta maior de LFTs no mercado do que a demanda. Conforme diz o jargão, o mercado ficou empossado".
Segundo o vice-presidente da Anbid, o excesso de LFTs no mercado, iniciado há cerca de três meses, foi provocado por duas causas principais. Em primeiro lugar, o governo passou a fazer muitos leilões de LFTs com swaps cambiais. "O problema é que não havia demanda grande por esses papéis pelo mercado, que passou a vender as LFTs e a manter apenas o swap", disse Demosthenes.
Além disso, os fundos de pensão passaram a vender grandes volumes de LFTs que tinham para pagar imposto de renda.
"Essa oferta excessiva somada à maior insegurança em relação ao cenário eleitoral levou os preços desses papéis para baixo", afirmou o ex-diretor do BC.
Segundo Demosthenes, inclusive, a necessidade de se mudar a forma de contabilidade de ativos dos fundos foi, em parte, consequência da desvalorização que esses papéis passaram a sofrer.
"Antes era difícil marcar LFTs a mercado porque a liquidez (quantidade de negócios) com esses papéis não era tão grande". "Com a maior oferta e o grande deságio que esses papéis passaram a apresentar, aumentou a necessidade da marcação a mercado", diz Demosthenes.
A marcação a mercado é uma forma de contabilidade de ativos que registra suas oscilações diárias de preço no mercado. Quando os fundos passaram a adotar esse cálculo, por determinação do BC e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), na semana passada, alguns fundos amargaram grandes perdas, refletindo a depreciação dos preços das LFTs.
Demosthenes acredita que a decisão do BC de antecipar o prazo para o início da marcação a mercado, antes fixado em 30 de setembro, foi acertada.
"Ninguém sabe como estaria a situação em setembro". Segundo Demosthenes, a Anbid vinha orientando seus associados a iniciarem a marcação a mercado.
Ele também defendeu a forma de atuação do BC no mercado. "Não acho que o BC tardou em notar esse excesso de LFTs no mercado, não. Pelo contrário, eles tentaram reagir como podiam e foram mudando os instrumentos que podiam usar conforme as dificuldades foram surgindo".
Daqui para a frente, alerta o ex-diretor do BC, os fundos vão oscilar muito mais. Segundo ele, o investidor brasileiro terá de passar por uma adaptação "educacional" para assimilar as mudanças.
Demosthenes diz não estar preocupado com os saques ocorridos nos fundos nos últimos dias: "Esse movimento tende a passar daqui para a frente".



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