São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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CONJUNTURA

Semana Santa em março e vendas de TV com evento impulsionam setor em abril; continuidade da expansão é dúvida

Copa e "efeito Páscoa" reanimam indústria

RICARDO REGO MONTEIRO
DA SUCURSAL DO RIO

A indústria brasileira apresentou em abril uma tendência de recuperação, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado, medido pela Pesquisa Industrial Mensal, apresentou crescimento de 4,1%, na comparação com março, e de 6% em relação a abril do ano passado.
A expectativa do mercado, no entanto, é que o resultado não se repita nos próximos meses, por conta de uma combinação de fatores, como emprego em baixa, crédito escasso e alta inadimplência. O resultado de abril foi fortemente influenciado pelo maior número de dias trabalhados em relação a março, por causa da Semana Santa.
O economista Antônio Correia de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica), calcula um resultado de 0,5% da produção industrial no ano. "Isso indica estagnação industrial", afirmou. O Produto Interno Bruto industrial do ano passado ficou em 0,6% negativo.
O chefe do Departamento de Indústria do IBGE, Sílvio Salles, afirmou que a expressiva alta de abril foi influenciada pelo maior número de dias em relação a março. Diferentemente dos anos anteriores, a Semana Santa caiu em março, o que afetou o resultado.
Salles disse que ainda não dá para avaliar se as indicações do resultado de abril apontam a permanência da recuperação da atividade industrial. "Isso só será possível com a divulgação dos indicadores de maio e junho deste ano", afirmou.

Alimentos
Ainda de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal, a tendência de retomada do crescimento se deveu ao desempenho positivo de 17 dos 20 ramos pesquisados, principalmente dos setores de alimentos (variação de 8,5% na comparação com março) e de mecânica (8,4%).
O aumento da produção dos alimentícios resultou do incremento das exportações, principalmente de frango e de açúcar cristal.
Na área de bens de capital, que aumentou 7,1% no período, houve crescimento da produção voltada ao setor agrícola, com destaque para máquinas de colheita e tratores.
Também mereceram destaque o desempenho dos segmentos de bens de consumo duráveis (a produção cresceu 7%) e semi e não-duráveis -crescimento de 6% em relação a março.

Futebol
A alta dos indicadores foi influenciada também por fatores pontuais, como a Copa do Mundo, que contribuiu para o aumento de 16,2% na produção de eletrodomésticos, na comparação com abril do ano passado. Só a chamada "linha marrom" (TV, rádio e som), favorecida pelo evento da Coréia do Sul e do Japão, registrou alta de 21,9%.
Salles disse que o "efeito Semana Santa" "exagera" o resultado de abril, mas não excluiu a possibilidade de a indústria ter apresentado no mês uma tendência de retomada do crescimento.
Como exemplo, citou os resultados do primeiro e segundo bimestres do ano. Enquanto em janeiro e fevereiro a atividade industrial apresentou variação negativa de 1,3%, a indústria, no segundo bimestre, cresceu 1,2%.

No negativo
No acumulado dos primeiros quatro meses do ano, em relação ao mesmo período de 2001, a variação da produção ainda está 0,1% negativa. Mesmo no vermelho, o indicador demonstra uma certa melhoria, segundo Salles, pois o resultado acumulado de janeiro a março apresentava queda de 2,1%.
No acumulado de 12 meses, a variação está negativa em 0,7%, mantendo-se estável em relação ao período encerrado em março, também de 0,7% negativo.
"O indicador do acumulado dos últimos 12 meses vinha de quedas sucessivas desde maio de 2001. A partir de março ele continuou negativo, mas apresentando uma tendência de estabilização em 0,7% negativo", afirmou Salles.
O pesquisador também chama a atenção para o resultado indicado pelo gráfico da média móvel trimestral, cuja variação foi de 1,3% nos três meses encerrados em abril. A média móvel do trimestre encerrado em março foi de 0,4%.



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