São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004

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RETOMADA

Utilização da capacidade instalada chega a 82,52%, o maior nível desde 92; vendas reais cresceram 1,76% em maio

Indústria bate recorde e confirma expansão

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A indústria atingiu em maio o nível recorde de 82,52% de utilização da capacidade instalada, segundo os Indicadores Industriais da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Os dados confirmam a recuperação da atividade industrial, o que fez a entidade elevar para 4% sua projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano.
Em março, a CNI projetava um crescimento econômico de 3% a 3,5% para 2004 -no ano passado, o PIB registrou queda de 0,2%. No caso da atividade industrial, a entidade avalia que a expansão deverá ser da ordem de 4,8%. A previsão anterior era de 4% a 4,5%.
"Os dados têm sido sistematicamente positivos, consolidando o quadro de crescimento, que deixa de depender só das exportações e também é resultado do aumento do consumo das famílias", disse o coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
Na avaliação dele, as condições para o crescimento econômico neste ano já estão dadas. "Mas se os juros caírem, o consumo aumenta e isso pode contribuir para o crescimento", afirmou.
Desde que a entidade começou a divulgar os Indicadores Industriais, em 1992, a utilização da capacidade tinha alcançado seu maior nível em outubro de 2002, quando chegou a 82,45%. Em maio, o indicador atingiu 82,52%.
Castelo Branco destaca que o aumento na utilização da capacidade instalada sinaliza um crescimento contínuo da indústria. "E se ele é contínuo, significa que vai ocorrer no futuro ou já está ocorrendo investimento", disse.

Investimentos
Uma frustração na expectativa de crescimento combinada com um aumento na utilização da capacidade instalada, no entanto, pode ter efeitos negativos para a economia. Castelo Branco enfatiza que esse quadro poderia afetar as exportações brasileiras ou, se houver aumento no consumo interno, provocar alta na inflação.
"Se o investimento não for feito ou não vier em uma intensidade forte, poderá afetar as exportações ou os preços", disse. Para ele, fatores que ainda contribuem para adiar a decisão de investimento por parte dos empresários são o custo do financiamento e regras institucionais no país (marcos regulatórios).

Vendas
As vendas reais da indústria em maio aumentaram 1,76% em relação a abril na série ajustada -descontados fatores temporários. Sem levar em conta tais fatores, o crescimento foi de 7,11%. Na comparação com maio de 2003, o aumento nas vendas ficou em 20,33%. Nos cinco primeiros meses de 2004, as vendas acumulam crescimento de 14,67%.
Os dados de contratação de funcionários também são animadores, diz a CNI. "As empresas estão contratando porque acreditam no futuro. Se não tivessem confiança, usariam outros recursos como mais horas extras", afirmou Castelo Branco.
O emprego industrial cresceu 0,31% em maio na comparação com abril na série ajustada. O índice completo foi de 0,9%. Em relação a maio de 2003, o crescimento foi de 1,58%.
Os dados sobre horas trabalhadas mostraram estabilidade no mês, com aumento de apenas 0,05%. "As horas trabalhadas foram o dado menos positivo. Mas é preciso lembrar que foram três meses seguidos de crescimento." De janeiro a maio, o aumento foi de 3,05%.
A massa salarial da indústria teve um crescimento de 0,13% na série ajustada. No ano, os salários líquidos reais aumentaram 7,46%. A CNI enfatiza que em maio foi registrado quase um ano de crescimento da atividade industrial. "É um crescimento gradual, mas contínuo", afirmou Castelo Branco.
Para manter a continuidade do crescimento, a CNI defende não só novas quedas nas taxas de juros, hoje em 16% ao ano, como uma redução na carga tributária.
"O custo do investimento precisa cair. Isso é fundamental para os empresários investirem e haver manutenção do ritmo de crescimento. A carga tributária brasileira é excessiva", disse.
Ele afirmou ainda que a decisão da Argentina de impor restrições às exportações brasileiras de eletrodomésticos preocupa. "O Mercosul é como se fosse um clube em que existem regras. Não se pode simplesmente mudar de uma hora para outra", afirmou.


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