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Desenvolvidos gastam demais com saúde
GILSON SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
As economias desenvolvidas têm aumentado seus gastos sociais, como os com saúde, numa velocidade incompatível com seus crescimentos econômicos.
Esse déficit social cria novas incertezas numa economia global premida pelos desafios da eficiência e da governança. Se a condição para
ser competitivo é dar sustentabilidade ao gasto social, o
capitalismo precisa de reformas urgentes.
O alerta resulta de um estudo publicado pelo "National Bureau of Economic Research", nos Estados Unidos.
Para os autores da pesquisa,
entre 1970 e 2002 os gastos
públicos com saúde cresceram 2,3 vezes mais do que o
PIB nos Estados Unidos, 2,0
vezes mais na Alemanha e 1,4
vez mais no Japão.
O agravamento do desequilíbrio decorre menos do
envelhecimento da população, como geralmente se faz
crer (especialmente no Japão), e mais do aumento nos
níveis de benefícios oferecidos. Os felizes países em que
se coletaram esses dados são
Austrália, Áustria, Canadá,
Alemanha, Japão, Noruega,
Espanha, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos.
A "parte do leão", segundo
o relatório, é o crescimento
de 89% nos níveis reais de
benefícios oferecidos à sociedade. A preocupação com o
desequilíbrio do sistema, caso as taxas históricas sejam
mantidas, aumenta na medida em que a geração conhecida como a do "baby boom"
está agora entrando em períodos de aposentadoria.
A projeção das taxas atuais
no Japão levaria o governo a
ter que praticamente dobrar
os gastos como proporção do
PIB, chegando a 12% do PIB
(atualmente está abaixo de
7%). Nos Estados Unidos, os
gastos com saúde podem
chegar a 18% do PIB nas próximas quatro décadas (hoje,
estão em nível próximo ao do
Japão). Ou seja, mesmo tendo uma população bem mais
velha, na média, do que a
norte-americana, o desequilíbrio seria maior nos Estados Unidos.
O modelo de negócios dos
serviços de saúde nos Estados Unidos também contribui para o agravamento mais
intenso dos desequilíbrios
entre aumento nos benefícios e crescimento econômico.
Brasil
No Brasil, a preocupação
com a racionalidade dos gastos sociais é uma questão
central desde o final do governo FHC. O estudo sobre
os países da OCDE confirma
que os países mais ricos têm
melhores indicadores sociais
não necessariamente devido
às suas despesas públicas serem mais eficientes ou sustentáveis. Segundo a OCDE,
as despesas do governo brasileiro com saúde em 2002
foram de 4,7% do PIB.
Há uma polêmica em torno das medidas, mas neste
ano o Brasil ficou 0,3 ponto
percentual do PIB acima da
média da América Latina,
abaixo apenas da Argentina.
Em relação à China, os gastos
do governo brasileiro com
saúde são quase o dobro.
A manutenção de gastos
sociais em taxas superiores
ao crescimento do PIB é um
sinal de alerta para o equilíbrio fiscal dos governos. Significa uma pressão pelo aumento de impostos sobre as
novas gerações para financiar os níveis de benefícios
alcançados pelos mais velhos. Nos mercados financeiros internacionais, é mais
um elemento de incerteza.
NA INTERNET - "Who's Going Broke? Comparing Healthcare
Costs in Ten OECD Countries", de
L.J. Kotlikoff e C. Hagist www.nber.org/papers/w11833
GILSON SCHWARTZ, economista e sociólogo, é professor de economia da informação na ECA-USP.
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