São Paulo, terça-feira, 08 de julho de 2008

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Banco Mundial cobra do G8 ação para evitar "desastre"

Para instituição, crise dos alimentos pode levar à fome mais 100 milhões de pessoas

Robert Zoellick, presidente do Bird, defende socorro emergencial a nações mais pobres e fim de restrições às exportações de alimentos

Kimimasa Mayama/Associated Press
George W. Bush é recebido por líderes do G8 durante encontro

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HOKKAIDO

O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, cobrou ontem que os líderes do G8 (os sete países mais ricos do mundo e a Rússia) evitem o que chamou de "desastre", ou seja, "a crise alimentícia global" que cálculos do banco, com base em verificações de campo, demonstram que pode levar à fome um contingente adicional de 100 milhões de pessoas.
"É um teste para o sistema internacional. Não temos o direito de falhar", disse Zoellick, em entrevista coletiva à margem do encontro de cúpula do G8, ontem iniciado. Segundo os dados mais recentes da FAO (órgão da ONU para a agricultura e a alimentação), existem 854 milhões de pessoas subnutridas no mundo.
O presidente do Bird listou três providências imediatas que deveriam ser tomadas -e que, ao que tudo indica, constarão do documento final do encontro do G8:
1) Atender as necessidades mais urgentes dos países muito pobres, em especial na merenda escolar e no aleitamento materno;
2) Ajudar pequenos produtores com sementes e fertilizantes para que possam aumentar a produção;
3) Eliminar as restrições à exportação de alimentos impostas por 26 países e que "provocam uma ruptura no sistema internacional de alimentação". Aqui, entra em ponto sensível para o governo argentino, que impôs taxa adicional às exportações de soja, o que deu origem a um conflito prolongado com os produtores rurais, do qual resultou uma forte queda na popularidade da presidente Cristina Kirchner.
Retirar as restrições tem o apoio do presidente francês, Nicolas Sarkozy. "Notei, com interesse, que vários países, entre eles a Rússia, fizeram recentemente anúncios de que eliminariam limites às exportações de alimentos", disse Sarkozy.
O presidente francês também deixou implícito que o pacote delineado por Zoellick está na agenda do G8, ao afirmar que, após "a resposta urgente [às necessidades mais imediatas], o G8 deve também oferecer respostas a médio e longo prazo".
Mas, ao entrar no detalhe de uma das respostas, Sarkorzy demonstrou que os governantes não estão seguros sobre as causas que levaram à disparada de preços de alimentos. Propôs a criação de um grupo internacional de especialistas para "oferecer um diagnóstico preciso sobre as dificuldades alimentares e agrícolas e para emitir alertas sobre riscos de crises".
Seguiria o modelo do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), um vasto condomínio de especialistas que identificou os riscos do aquecimento global.
Enquanto não há clareza sobre a crise, o alerta é dado pelo secretário-geral da ONU, o coreano Ban Ki-moon, para quem os altos preços de alimentos "fizeram retroceder o relógio do desenvolvimento".
Ban Ki-moon afirmou também que não está havendo progresso para que sejam atingidas as "Metas do Milênio", conjunto de indicadores que o mundo deveria alcançar até 2015.
A falta de progresso é mais evidente na África, diz o dirigente da ONU, por ser a região mais atingida pela crise alimentar. Não por acaso, os líderes do G8 começaram sua cúpula deste ano com uma reunião com governantes de sete países africanos mais o presidente da Comissão Africana.
Todos reclamaram de que o G8 não cumpre as promessas que repetidamente faz à África. Há três anos, em cúpula na Escócia, os países ricos prometeram US$ 25 bilhões adicionais, dos quais apenas um quarto foi efetivamente desembolsado, conforme denúncia de organizações não-governamentais que trabalham no continente africano.


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