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Visita de O'Neill ao Brasil divide opinião pública norte-americana
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
A visita que o secretário do Tesouro dos EUA fez ao Brasil, ao
Uruguai e à Argentina dividiu a
opinião pública norte-americana
mas, segundo analistas, serviu para recolocar a região no mapa das
prioridades do país.
O jornal econômico "The Wall
Street Journal" liderou os ataques
à intenção do périplo de O'Neill
em seu terceiro editorial de ontem, um pesado texto intitulado
"O deslize brasileiro de O"Neill",
com direito a uma imagem em bico-de-pena do petista Luiz Inácio
Lula da Silva.
O artigo, que chega a dizer que o
candidato do PT foi um "marxista
insano" ("crackpot marxist", no
original em inglês), afirma que o
secretário norte-americano fez
mal ao recuar de suas declarações
no passado de que não aprovaria
mais ajudas financeiras ao Brasil.
"O dinheiro para o Uruguai é
defensável, já que a minúscula nação está sofrendo uma crise de liquidez que não é inteiramente sua
culpa", diz o texto.
"O contrário ocorre no Brasil.
Investidores estão fugindo porque vêem dois populistas de esquerda liderando as pesquisas
eleitorais."
"O que o FMI e o Tesouro podem fazer para ajudar aqui é um
mistério. Um outro pacote do
FMI pode evitar uma moratória
agora, mas, se os brasileiros quiserem entrar nos pântanos da febre socialista, a moratória virá
mais cedo ou mais tarde", conclui
o diário conservador.
Na mesma edição, um artigo do
economista Allan H. Meltzer faz
eco. "O FMI e o Tesouro abandonaram sua política de negligência
benigna e voltaram galopando em
direção à América Latina", diz o
acadêmico da Universidade Carnegie Mellon . "Eles nunca vão
aprender?"
Do outro lado
Na direção oposta vai o principal editorial da edição de ontem
do "The Washington Post". Com
o título de "Brasil e a Doutrina Powell", o texto defende a ajuda
americana à América Latina em
geral e ao país em particular com
planos de resgates financeiros em
massa.
"Os resgates devem ser concebidos como algo idêntico à doutrina
Powell na área de intervenção militar: se se vai para um lado, é preciso ir com tudo", escreve o jornal, lembrando que na Guerra do
Golfo o atual secretário de Estado
dos EUA reuniu o maior número
de tropas possível antes de atacar
as forças iraquianas invasoras no
Kuwait.
"Mas os resgates só funcionarão
se conseguirem modificar a percepção do mercado", continua.
"Se os investidores seguem perdendo a fé em um país, tiram seu
dinheiro, empurram para o alto
os juros e impossibilitam o governo de pagar as dívidas."
Analistas acreditam, no entanto, que independentemente de o
interlocutor ser a favor ou contra
o auxílio financeiro à região, o fato é que a América Latina voltou a
dividir o centro de prioridades do
governo Bush, posição que havia
perdido desde o ataque terrorista
de 11 de setembro último.
"O Brasil vai ser o verdadeiro
orientador de qual será a política
financeira do governo de Bush
para a região", disse Nancy Birdsall, presidente do Centro para o
Desenvolvimento Global do Diálogo Interamericano, ONG baseada em Washington.
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