São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

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Visita de O'Neill ao Brasil divide opinião pública norte-americana

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A visita que o secretário do Tesouro dos EUA fez ao Brasil, ao Uruguai e à Argentina dividiu a opinião pública norte-americana mas, segundo analistas, serviu para recolocar a região no mapa das prioridades do país.
O jornal econômico "The Wall Street Journal" liderou os ataques à intenção do périplo de O'Neill em seu terceiro editorial de ontem, um pesado texto intitulado "O deslize brasileiro de O"Neill", com direito a uma imagem em bico-de-pena do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
O artigo, que chega a dizer que o candidato do PT foi um "marxista insano" ("crackpot marxist", no original em inglês), afirma que o secretário norte-americano fez mal ao recuar de suas declarações no passado de que não aprovaria mais ajudas financeiras ao Brasil.
"O dinheiro para o Uruguai é defensável, já que a minúscula nação está sofrendo uma crise de liquidez que não é inteiramente sua culpa", diz o texto.
"O contrário ocorre no Brasil. Investidores estão fugindo porque vêem dois populistas de esquerda liderando as pesquisas eleitorais."
"O que o FMI e o Tesouro podem fazer para ajudar aqui é um mistério. Um outro pacote do FMI pode evitar uma moratória agora, mas, se os brasileiros quiserem entrar nos pântanos da febre socialista, a moratória virá mais cedo ou mais tarde", conclui o diário conservador.
Na mesma edição, um artigo do economista Allan H. Meltzer faz eco. "O FMI e o Tesouro abandonaram sua política de negligência benigna e voltaram galopando em direção à América Latina", diz o acadêmico da Universidade Carnegie Mellon . "Eles nunca vão aprender?"

Do outro lado
Na direção oposta vai o principal editorial da edição de ontem do "The Washington Post". Com o título de "Brasil e a Doutrina Powell", o texto defende a ajuda americana à América Latina em geral e ao país em particular com planos de resgates financeiros em massa.
"Os resgates devem ser concebidos como algo idêntico à doutrina Powell na área de intervenção militar: se se vai para um lado, é preciso ir com tudo", escreve o jornal, lembrando que na Guerra do Golfo o atual secretário de Estado dos EUA reuniu o maior número de tropas possível antes de atacar as forças iraquianas invasoras no Kuwait.
"Mas os resgates só funcionarão se conseguirem modificar a percepção do mercado", continua. "Se os investidores seguem perdendo a fé em um país, tiram seu dinheiro, empurram para o alto os juros e impossibilitam o governo de pagar as dívidas."
Analistas acreditam, no entanto, que independentemente de o interlocutor ser a favor ou contra o auxílio financeiro à região, o fato é que a América Latina voltou a dividir o centro de prioridades do governo Bush, posição que havia perdido desde o ataque terrorista de 11 de setembro último.
"O Brasil vai ser o verdadeiro orientador de qual será a política financeira do governo de Bush para a região", disse Nancy Birdsall, presidente do Centro para o Desenvolvimento Global do Diálogo Interamericano, ONG baseada em Washington.



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