São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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Crescimento dos lucros dos bancos deve perder fôlego

Para analistas, rentabilidade deve se manter alta, em torno de 30% ao ano, superando de longe a do setor produtivo

Expansão do crédito ainda será a principal alavanca dos ganhos dos bancos brasileiros nos próximos anos, dizem especialistas


SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os lucros dos grandes bancos brasileiros devem continuar provocando inveja aos empresários dos outros setores da economia, mas já não crescem como antigamente. As taxas de crescimento do lucro líquido do Bradesco e do Itaú, os dois maiores do setor privado, vêm diminuindo trimestre a trimestre desde meados do ano passado, após darem saltos em 2004 e no início de 2005, quando superaram o crescimento dos bancos norte-americanos.
O lucro líquido do Bradesco -que cresceu 17,5% no segundo trimestre de 2005 em relação ao primeiro- neste ano expandiu-se apenas 4,7% na comparação do segundo trimestre com o primeiro.
Já o Itaú, cujo lucro crescia à taxa de 16,8% no segundo trimestre do ano passado (em relação ao primeiro), aumentou só 2,6% no segundo trimestre deste ano na comparação com os três meses anteriores. "O ritmo de crescimento dos lucros do setor tende a ser menor", observa José Augusto Frota Salles, analista da consultoria Lopes Filho.
Para o economista-chefe da Febraban (federação dos bancos), Roberto Troster, o lucro dos bancos vai continuar crescendo, pois as operações de crédito e os serviços bancários tendem à expansão. "O país está crescendo, nada mais natural que os lucros cresçam."
O que vem alavancando os resultados dos bancos brasileiros nos últimos dois anos é a expansão do crédito. "Os bancos estão entrando em novos segmentos -como o imobiliário- que devem impulsionar seus lucros nos próximos anos", diz Edson Carminatti, analista do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração).
Segundo dados coletados por ele nos balanços, a participação das receitas de crédito na receita total saltou de 47% em 2000 para 52%, no caso do Bradesco. Já no Itaú, o pulo foi de 47% para 62%.
As aplicações em títulos e em valores mobiliários vêm perdendo peso nas receitas dessas instituições. O Bradesco obtinha 44% das suas receitas com essas aplicações, em junho de 2000. Neste ano, a participação caiu para 14%. No caso do Itaú, a participação das aplicações em títulos caiu de 43% em 2000 para 28% neste ano.

Rentabilidade
A rentabilidade do setor também tende à estabilidade na faixa dos 30% ao ano, segundo Salles. Isso pressupõe que a taxa de crescimento dos lucros terá uma constância, não acelerando 80% num ano, como ocorreu com o Bradesco em 2005 (na comparação com 2004), ou 39%, caso do Itaú naquele mesmo período.
Os três grandes bancos que já divulgaram balanços do primeiro semestre -Bradesco, Itaú e Banespa- estão com rentabilidade sobre o patrimônio líquido de 31% ao ano, segundo dados da Economática.
"É um retorno altíssimo, comparado ao obtido pelos bancos americanos no período, que ficou em 15,9%", diz Fernando Exel, presidente da Economática. Ele faz uma ressalva, entretanto: a rentabilidade dos brasileiros é a mediana de apenas três grandes bancos, enquanto a dos americanos considera 30 instituições, grandes e pequenas. "A mediana brasileira deve cair um pouco quando entrarem os balanços dos bancos menores", diz Exel.
No caso brasileiro, a rentabilidade dos bancos também supera de longe a de empresas do setor produtivo, que foi de 15% no semestre, segundo balanços de 54 empresas de capital aberto analisadas pela Economática. "Nos EUA, a rentabilidade dos bancos também é maior, historicamente, do que a das empresas, mas o diferencial é pequeno", observa Einar Rivero, coordenador da Economática para a América Latina.


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