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EUA miram Brasil e Índia em reavaliação comercial
Sistema de preferência de tarifas pode cortar benefício de 13 países em desenvolvimento
Medida é vista como pressão sobre brasileiros e indianos, envolvidos em contenciosos de comércio exterior com os EUA
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Susan Schwab, titular do
USTr, o equivalente norte-americano ao Ministério do
Comércio Exterior, anunciou
ontem que a Casa Branca revisará o Sistema Geral de Preferências (GPS, em inglês), programa de tarifas comerciais
que concede vantagens a países
em desenvolvimento e vence
no final do ano. Na revisão, que
promete ser a mais ampla dos
últimos 20 anos, 13 países podem ser excluídos, entre eles
Brasil e Índia.
Pelo sistema, que isenta de
tarifas alguns produtos de alguns países, o Brasil exportou
US$ 3,6 bilhões aos Estados
Unidos em 2005, ou 15% das
vendas brasileiras ao país. A
Folha apurou que o objetivo do
anúncio neste momento é
pressionar os dois países em diversos contenciosos de comércio exterior em andamento
com os EUA, entre eles a chamada Rodada Doha, atualmente em sua pior fase, e, no caso do
Brasil, um litígio na Organização Mundial do Comércio relacionado ao setor de algodão.
"O Brasil não é o alvo isolado
aqui", amenizou Sean M. Spicer, do USTr. "Nossa avaliação
é que há algumas distorções a
ser revistas." O embaixador
brasileiro nos EUA, Roberto
Abdenur, passou a manhã de
ontem falando com diversas
instâncias do governo norte-americano sobre "o impacto
muito negativo que teria para a
atmosfera das relações bilaterais uma exclusão do Brasil ou
algo que redundasse numa limitação muito séria do nosso
acesso", segundo disse à Folha.
Em 2005, os Estados Unidos
importaram pelo GPS US$ 26,7
bilhões de 133 países em desenvolvimento; um terço do total
veio do Brasil, da Índia e da
Tailândia. Estão na mira da
reavaliação da administração
Bush aqueles que exportaram
mais de US$ 100 milhões para
os EUA pelo programa no ano
passado ou representam mais
de 0,25% das exportações
mundiais, um critério introduzido pelo Banco Mundial numa
das últimas reformas.
Encaixam-se em uma dessas
duas categorias dez países,
além de Brasil, Índia e Tailândia: África do Sul, Argentina,
Cazaquistão, Croácia, Filipinas, Indonésia, Romênia, Rússia, Turquia e Venezuela. O comunicado de Susan Schwab,
que esteve no Brasil recentemente para se encontrar com o
chanceler Celso Amorim, diz
que a administração vai avaliar
se "limita, suspende ou cancela" a elegibilidade dos 13. No
mesmo texto, ela defende que o
GPS continue a existir, ainda
que modificado ou expurgado.
Além de mostrar os músculos para os dois países, George
W. Bush joga para a platéia interna, num agrado à poderosa
bancada ruralista, que pede o
fim dos privilégios do Brasil especialmente na área de produtos agrícolas. O Congresso será
renovado parcialmente nas
eleições do final do ano. As pesquisas de opinião indicam que
os republicanos podem perder
o controle para os democratas.
Muitos do partido do presidente têm procurado se afastar de
sua imagem, que amarga índices negativos recordes.
"É óbvio o desejo de alguns
senadores de ver o Brasil sair
dessa lista", disse à Folha Joel
Velasco, vice-presidente da
Stonebridge International de
Washington, que representa
algumas multinacionais com
negócios no Brasil. "Isso pode
ser visto de maneira negativa,
mas também, creio eu, positivamente, como um desejo do
Congresso de aumentar a graduação do Brasil e trazê-lo à
mesa de negociações em pé de
igualdade, sem privilégios dados aos menos desenvolvidos."
Em 2005, os EUA já ameaçaram excluir o Brasil do GPS por
conta da pirataria de produtos,
mas cederam aos argumentos
do governo brasileiro de que
essa prática estava sendo combatida sistematicamente.
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