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Chefe da Susep é acusado de ajudar Falk
8 procuradores pedem afastamento de ex-secretário do governo Benedita, acusado de favorecer ex-dono do Papa-Tudo
Renê Garcia nega acusação do Ministério Público Federal e afirma que não existem provas de favorecimento
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Oito procuradores da República entraram ontem com
ação civil contra o superintendente da Susep (Superintendência de Seguros Privados),
Renê Garcia, por improbidade
administrativa, e pediram seu
afastamento. A Susep é o órgão
do Ministério da Fazenda responsável pela fiscalização das
companhias de seguro.
Segundo os procuradores, ele
teria beneficiado o empresário
Artur Falk, acionista da Interunion Capitalização (dos antigos
sorteios Papa-Tudo), em liquidação extrajudicial. Garcia é
acusado de ""acobertar, tomar
parte e executar" tentativas de
Falk de tumultuar a liquidação
para obter desfecho favorável.
À Folha, Garcia negou a acusação, e disse que não existe
prova de uma ação sequer de
sua parte que tenha favorecido
Falk. Garcia foi secretário de
Controle do Estado do Rio de
Janeiro, em 2002, no governo
de Benedita da Silva, do PT.
No dia 12 de julho, Falk foi
condenado, em segunda instância, pela Justiça Federal, a 9
anos e dois meses de prisão,
por causar prejuízo a milhares
de pequenos investidores que
compraram títulos de capitalização da Interunion, nos anos
1990. Ele recorria em liberdade
quando foi preso, acusado de
tentar obstruir a ação do Ministério Público Federal.
A ação contra Garcia é sustentada nos depoimentos do
ex-liquidante da Interunion,
Antônio Nóbrega Telles de Menezes, destituído do cargo em 7
de julho. O estopim foi a publicação do quadro de credores da
Interunion, no dia 10 de julho,
dois antes do julgamento de
Falk na Justiça Federal.
O edital com a relação dos
credores, publicado pelo novo
liquidante, diz que a Interunion tem patrimônio suficiente
para pagar os credores, o que,
segundo o MPF, induz à conclusão errada de que a empresa
estaria solvente. O ex-liquidante disse ao MPF que a publicação do quadro foi um "estratagema" para esvaziar a acusação
criminal contra Falk, que consistia em destinar R$ 1 milhão
do caixa da Interunion para pagar os créditos de 10 mil pequenos investidores prejudicados
e as dívidas trabalhistas antes
do julgamento, para descaracterizar crime financeiro.
Nóbrega disse que participou
de uma reunião na Susep, no
dia 6 de julho, quando foi decidido que o edital deveria ser
publicado em caráter ""urgente,
urgentíssimo". Ele atribuiu sua
demissão ao fato de ter se negado a publicar o edital.
Segundo Nóbrega, Falk também pediu à Susep que o relatório da comissão de sindicância, que apurou o passivo a descoberto em 1998, fosse refeito.
Quando houve a liquidação, a
reserva técnica da Interunion
era formada por títulos do Estado de Alagoas (então considerados "moedas podres"), pelo Hotel Nacional, do Rio de Janeiro (há vários anos abandonado) e por ações da Varig. Mas
os títulos da dívida de Alagoas
foram federalizados e passaram a valer R$ 32 milhões.
A ação proposta pelo Ministério Público Federal questiona também a redução de cerca
de R$ 19 milhões nos valores
do quadro de credores.
A Interunion sofreu intervenção da Susep em 1996. A liquidação, que já dura quase oito anos, foi decretada em 1998.
Segundo os procuradores,
Garcia mentiu sobre o motivo
da destituição do liquidante.
Disse que a decisão foi a pedido
do Banco Central, mas o próprio BC disse que foi iniciativa
da Susep. Nóbrega declarou ao
MPF que seu substituto, Renato Cordeiro, apóia Falk.
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