São Paulo, sábado, 08 de agosto de 2009

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China manda bancos frearem crédito

Governo sinaliza mudanças na política monetária, com a intenção de evitar a criação de bolhas nos mercados de ações e imóveis

Depois de anos de restrição aos empréstimos, governo adotou política mais frouxa em 2008 com o objetivo de estimular a economia


JAMIL ANDERLINI
DO "FINANCIAL TIMES", EM PEQUIM

O banco central da China instruiu os dirigentes dos maiores bancos estatais do país a desacelerar o ritmo de novos empréstimos, depois que o volume de financiamentos no primeiro semestre triplicou ante o total do período em 2008, de acordo com fontes familiarizadas com o assunto.
A pressão vinda do banco central sinaliza uma mudança não declarada de política.
Nas últimas semanas, os líderes chineses vêm enfatizando que o país, por enquanto, continuará a manter sua política de condições monetárias "moderadamente frouxas".
Embora não tenha havido uma mudança formal na diretriz, o banco central e as autoridades reguladoras sinalizaram a intenção de conter os empréstimos excessivos, por meio de anúncios públicos.
O banco central nas últimas semanas elevou as taxas de juros no mercado interbancário e ordenou que os credores mais generosos adquirissem montantes de notas especiais da instituição com baixos juros e prazo de um ano, o que aumenta a pressão sobre os bancos para que acompanhem as instruções do governo.
Dorris Chen, analista do BNP Paribas, afirmou que "o banco central está sendo forçado a caminhar na corda bamba entre, de um lado, medidas que previnam uma séria bolha de crédito e, de outro, a manutenção de condições monetárias em geral folgadas".

Novas bolhas
Os funcionários do governo chinês temem que parte dos 7,37 trilhões de yuans (US$ 1,078 trilhão) em empréstimos concedidos no primeiro semestre tenham chegado aos mercados de imóveis e ações, nos quais estão se formando bolhas. Isso está reinflacionando preços que haviam caído severamente como resultado da crise financeira mundial.
Os mercados de capitais da China se tornaram altamente sensíveis a qualquer sugestão de restrições no crédito. Em certo momento do pregão, no final da semana, a Bolsa de Xangai caiu quase 8% devido a boatos de que os maiores bancos comerciais estatais reduziriam severamente os seus novos empréstimos no segundo semestre.
O governo também está preocupado com a possibilidade de que empréstimos excessivos em meio a uma crise resultem em alta inadimplência no sistema bancário.
Depois de anos de repressão aos empréstimos bancários novos, o governo abriu os portões no ano passado, instruindo os bancos a inundar a economia de dinheiro a fim de reanimar o crescimento. As instituições rapidamente excederam a meta anual de 5 trilhões de yuans em novos empréstimos, estabelecida por Pequim no começo do ano.
O China Construction Bank informou à agência de notícias Bloomberg que planeja conceder 200 bilhões de yuans em empréstimos novos no segundo semestre deste ano, volume bem abaixo dos 709 bilhões de yuans que o segundo maior banco do mundo em capitalização de mercado concedeu no período anterior.
Na China, é comum que os bancos concentrem empréstimos no primeiro semestre e reduzam o volume no segundo, mas uma queda de 70% seria extrema.
Os rivais Bank of China e Industrial and Commercial Bank of China informaram que não têm metas estabelecidas para empréstimos no segundo semestre deste ano.
No primeiro semestre, o Industrial and Commercial Bank of China elevou em 826 bilhões de yuans os seus empréstimos, enquanto o Bank of China os elevava em 902 bilhões de yuans.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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