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PIB de 4% é ficção, afirmam analistas
Crescimento derrapou no 2º tri e voltou a andar no 3º tri, mas não terá fôlego para se expandir como o governo espera
Na história recente do país, foram raros os trimestres em que taxas próximas a 2% foram alcançadas; a última vez foi no 2º tri de 1998
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O desempenho da economia
no segundo trimestre sepultou
as chances de o Brasil crescer
os 4% esperados pelo governo.
Os primeiros indicadores do
terceiro trimestre, é verdade,
dão sinais de que a atividade
acelerou-se a partir de julho,
mas não em ritmo que seja suficiente para a economia crescer
mais que 3%.
"Crescer 4% me parece muito improvável", diz Luis Cezário, economista do HSBC. Cezário lembra que, para que a
economia termine o ano crescendo a este ritmo, a taxa de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) dos próximos dois
trimestres, em relação ao trimestre imediatamente anterior, teria que girar em torno de
2%, ritmo muito superior ao
parco 0,5% do segundo trimestre. "Para chegar lá [crescer
4%] teríamos que crescer muito acima da média. 2% é uma
taxa muito elevada [para as
condições atuais da economia
brasileira]", diz Giovana Rocca,
economista do Unibanco.
Momentos raros
Na história recente da economia brasileira, foram raros os
trimestres em que taxas próximas a 2% foram alcançadas. A
última vez foi no segundo trimestre de 1998. Apenas em 8
dos 62 trimestres desde o primeiro de 1991 o Brasil cresceu
2% ou mais. Dois trimestres
consecutivos com taxas assim,
só em 1991, 1993 e 1994.
"Na verdade, para chegar no
resultado de 3%, crescimento
médio deverá ficar próximo de
1% nos próximos dois trimestres, é um crescimento bastante robusto", diz Cezário.
O economista do HSBC chama a atenção para o fato de que
todas as projeções para crescimento já levam em consideração um reaquecimento da economia. "Há estímulos significativos para aceleração da demanda doméstica, com expansão da massa salarial, crédito.
Ou seja, teremos crescimento
robusto da demanda doméstica", diz ele, fazendo a ressalva
de que o impulso não será suficiente para e economia crescer
4% como ainda insiste em projetar o ministro Guido Mantega
(Fazenda).
O crescimento da produção
industrial em julho, de 0,6%,
também não é condizente com
projeções de crescimento
anual muito superiores a 3%,
diz Rocca, do Unibanco.
"A atividade econômica no
terceiro trimestre está dando
sinais relevantes de recuperação, estamos vendo sim uma
aceleração boa, inclusive o setor externo está tendo um impacto positivo", diz Bráulio
Borges, da LCA Consultores.
Ainda assim, a projeção dele
para o crescimento anual é de
3,5%, estimativa um pouco
mais otimista do que os 3,2%
que, em média, os analistas do
setor privado têm previsto.
Os dados da produção industrial de julho mostram, de acordo com a LCA, "sinais auspiciosos de recuperação", inclusive
do investimento, que no segundo trimestre caiu 2,2% em relação ao primeiro. Nas contas da
LCA, tudo indica que o investimento cresça algo em torno de
1,3% neste trimestre.
De novo, os sinais são positivos, mas não o suficiente para
que o nível de atividade cresça
os 4% esperados pelo governo.
A economia derrapou no segundo trimestre e voltou a
crescer, mas não terá fôlego para recuperar o terreno perdido
entre abril e junho.
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