São Paulo, sexta-feira, 08 de setembro de 2006

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PIB de 4% é ficção, afirmam analistas

Crescimento derrapou no 2º tri e voltou a andar no 3º tri, mas não terá fôlego para se expandir como o governo espera

Na história recente do país, foram raros os trimestres em que taxas próximas a 2% foram alcançadas; a última vez foi no 2º tri de 1998

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O desempenho da economia no segundo trimestre sepultou as chances de o Brasil crescer os 4% esperados pelo governo. Os primeiros indicadores do terceiro trimestre, é verdade, dão sinais de que a atividade acelerou-se a partir de julho, mas não em ritmo que seja suficiente para a economia crescer mais que 3%.
"Crescer 4% me parece muito improvável", diz Luis Cezário, economista do HSBC. Cezário lembra que, para que a economia termine o ano crescendo a este ritmo, a taxa de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) dos próximos dois trimestres, em relação ao trimestre imediatamente anterior, teria que girar em torno de 2%, ritmo muito superior ao parco 0,5% do segundo trimestre. "Para chegar lá [crescer 4%] teríamos que crescer muito acima da média. 2% é uma taxa muito elevada [para as condições atuais da economia brasileira]", diz Giovana Rocca, economista do Unibanco.

Momentos raros
Na história recente da economia brasileira, foram raros os trimestres em que taxas próximas a 2% foram alcançadas. A última vez foi no segundo trimestre de 1998. Apenas em 8 dos 62 trimestres desde o primeiro de 1991 o Brasil cresceu 2% ou mais. Dois trimestres consecutivos com taxas assim, só em 1991, 1993 e 1994.
"Na verdade, para chegar no resultado de 3%, crescimento médio deverá ficar próximo de 1% nos próximos dois trimestres, é um crescimento bastante robusto", diz Cezário.
O economista do HSBC chama a atenção para o fato de que todas as projeções para crescimento já levam em consideração um reaquecimento da economia. "Há estímulos significativos para aceleração da demanda doméstica, com expansão da massa salarial, crédito. Ou seja, teremos crescimento robusto da demanda doméstica", diz ele, fazendo a ressalva de que o impulso não será suficiente para e economia crescer 4% como ainda insiste em projetar o ministro Guido Mantega (Fazenda).
O crescimento da produção industrial em julho, de 0,6%, também não é condizente com projeções de crescimento anual muito superiores a 3%, diz Rocca, do Unibanco.
"A atividade econômica no terceiro trimestre está dando sinais relevantes de recuperação, estamos vendo sim uma aceleração boa, inclusive o setor externo está tendo um impacto positivo", diz Bráulio Borges, da LCA Consultores. Ainda assim, a projeção dele para o crescimento anual é de 3,5%, estimativa um pouco mais otimista do que os 3,2% que, em média, os analistas do setor privado têm previsto.
Os dados da produção industrial de julho mostram, de acordo com a LCA, "sinais auspiciosos de recuperação", inclusive do investimento, que no segundo trimestre caiu 2,2% em relação ao primeiro. Nas contas da LCA, tudo indica que o investimento cresça algo em torno de 1,3% neste trimestre.
De novo, os sinais são positivos, mas não o suficiente para que o nível de atividade cresça os 4% esperados pelo governo. A economia derrapou no segundo trimestre e voltou a crescer, mas não terá fôlego para recuperar o terreno perdido entre abril e junho.


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