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Após moratória, Argentina toca sino em NY
País deve registrar em 2007 o 5º ano seguido de crescimento, mas analistas alertam para problemas
Associated Press/5.mai.06
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Néstor Kirchner, presidente argentino, acena para multidão |
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Enquanto analistas prevêem
que a Argentina completará em
2007 um período de cinco anos
consecutivos de crescimento
-repetindo feito que alcançou
pela última vez em 1902-, o
presidente Néstor Kirchner
prepara sua ida aos EUA neste
mês para, entre outras atividades, reunir-se com investidores
e tocar o sino que abre o pregão
da Bolsa de Nova York.
As negociações para soar a
campainha foram confirmadas
à Folha pela Bolsa de Nova
York. A cerimônia, que ainda
não está no calendário oficial,
deve acontecer no dia 19 ou 20.
Após quase cinco anos da
moratória da dívida, a Argentina tem bons indicadores para
comemorar, mas tem pela
frente o desafio de atrair investidores estrangeiros. O governo
sabe que, sem eles, não será
viável manter o ritmo de crescimento do país.
"Ainda não está claro que a
Argentina possa, se quiser, fazer uma emissão de bônus no
mercado internacional. Mas o
país tem tido acesso a esse
mercado. Dos três últimos bônus que a Argentina emitiu no
mercado interno, entre 80% e
90% foram comprados por investidores estrangeiros", diz
Sebastian Briozzo, diretor de
ratings soberanos da Standard
& Poor's em Buenos Aires.
No último dia 5, o risco-país
da Argentina atingiu o menor
patamar desde a saída do "default": 306 pontos. O superávit
fiscal é outro trunfo.
Enquanto isso, a população
passa a consumir mais. Entre
julho de 2005 e julho deste ano,
subiram 9,3% as vendas em supermercados e 5,5% as compras em shoppings.
Rédea curta
Em agosto, a taxa de inflação
foi de 0,6%, enquanto os salários cresceram 1,9%. Foi o
quarto mês seguido com inflação menor que 1%, o que aproxima o país da meta de fechar
2006 com taxa de um dígito. O
acumulado dos oito primeiros
meses do ano ficou em 6,1%
-no mesmo período de 2005,
foi de 7,7%.
Para os analistas, porém, é
preocupante a pressão exercida
pelo governo sobre as empresas
para conter aumentos. O controle é tanto que uma empresa
denuncia o reajuste da outra.
"É uma taxa artificial, mas,
mesmo que o governo a soltasse, ela não chegaria a 20%. O
problema é que a intervenção
gera incertezas, afeta a rentabilidade das empresas e influi nos
investimentos", diz o economista Dante Sicca, da abeceb.com.
Aldo Abran, da consultora
Exante, diz não acreditar que a
visita a Wall Street funcione como sinal positivo sem que o governo mude essa política. "Ninguém investe num país onde o
governo controla as empresas,
não há segurança jurídica."
"Kirchner quer mostrar que
é um presidente pró-mercado,
por mais que tenha uma atitude controladora das empresas.
Mas não se recupera a confiança de forma instantânea", opina Hernan Fardi, da Maxinver.
O modelo de Kirchner, segundo o cientista político Sergio Berensztein, também segue
a cartilha chinesa: cria empregos com salários baixos.
Mantendo o peso desvalorizado e controlando as importações, o governo financia a indústria local, que é pouco competitiva. Hoje, com a mão-de-obra barata, as fábricas gastam
menos para produzir e podem
exportar mais. Mas esse sistema, para os especialistas, não é
sustentável no longo prazo.
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