São Paulo, sexta-feira, 08 de setembro de 2006

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Após moratória, Argentina toca sino em NY

País deve registrar em 2007 o 5º ano seguido de crescimento, mas analistas alertam para problemas

Associated Press/5.mai.06
Néstor Kirchner, presidente argentino, acena para multidão


BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Enquanto analistas prevêem que a Argentina completará em 2007 um período de cinco anos consecutivos de crescimento -repetindo feito que alcançou pela última vez em 1902-, o presidente Néstor Kirchner prepara sua ida aos EUA neste mês para, entre outras atividades, reunir-se com investidores e tocar o sino que abre o pregão da Bolsa de Nova York.
As negociações para soar a campainha foram confirmadas à Folha pela Bolsa de Nova York. A cerimônia, que ainda não está no calendário oficial, deve acontecer no dia 19 ou 20.
Após quase cinco anos da moratória da dívida, a Argentina tem bons indicadores para comemorar, mas tem pela frente o desafio de atrair investidores estrangeiros. O governo sabe que, sem eles, não será viável manter o ritmo de crescimento do país.
"Ainda não está claro que a Argentina possa, se quiser, fazer uma emissão de bônus no mercado internacional. Mas o país tem tido acesso a esse mercado. Dos três últimos bônus que a Argentina emitiu no mercado interno, entre 80% e 90% foram comprados por investidores estrangeiros", diz Sebastian Briozzo, diretor de ratings soberanos da Standard & Poor's em Buenos Aires.
No último dia 5, o risco-país da Argentina atingiu o menor patamar desde a saída do "default": 306 pontos. O superávit fiscal é outro trunfo.
Enquanto isso, a população passa a consumir mais. Entre julho de 2005 e julho deste ano, subiram 9,3% as vendas em supermercados e 5,5% as compras em shoppings.

Rédea curta
Em agosto, a taxa de inflação foi de 0,6%, enquanto os salários cresceram 1,9%. Foi o quarto mês seguido com inflação menor que 1%, o que aproxima o país da meta de fechar 2006 com taxa de um dígito. O acumulado dos oito primeiros meses do ano ficou em 6,1% -no mesmo período de 2005, foi de 7,7%.
Para os analistas, porém, é preocupante a pressão exercida pelo governo sobre as empresas para conter aumentos. O controle é tanto que uma empresa denuncia o reajuste da outra.
"É uma taxa artificial, mas, mesmo que o governo a soltasse, ela não chegaria a 20%. O problema é que a intervenção gera incertezas, afeta a rentabilidade das empresas e influi nos investimentos", diz o economista Dante Sicca, da abeceb.com.
Aldo Abran, da consultora Exante, diz não acreditar que a visita a Wall Street funcione como sinal positivo sem que o governo mude essa política. "Ninguém investe num país onde o governo controla as empresas, não há segurança jurídica."
"Kirchner quer mostrar que é um presidente pró-mercado, por mais que tenha uma atitude controladora das empresas. Mas não se recupera a confiança de forma instantânea", opina Hernan Fardi, da Maxinver.
O modelo de Kirchner, segundo o cientista político Sergio Berensztein, também segue a cartilha chinesa: cria empregos com salários baixos.
Mantendo o peso desvalorizado e controlando as importações, o governo financia a indústria local, que é pouco competitiva. Hoje, com a mão-de-obra barata, as fábricas gastam menos para produzir e podem exportar mais. Mas esse sistema, para os especialistas, não é sustentável no longo prazo.


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