|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Economistas vêem EUA rumando para recessão
Eliminação de 4.000 vagas gera temor que toda a economia tenha sido afetada
Analistas apostam que BC dos EUA cortará taxa de juros em 0,25 ponto na reunião deste mês e que taxa chegará a 4,5% até o final do ano
JEREMY W. PETERS
DO "NEW YORK TIMES"
Após o anúncio do Departamento do Trabalho dos EUA de
que as empresas eliminaram
4.000 postos de trabalho em
agosto - pondo fim a quatro
anos de crescimento ininterrupto nos empregos-, economistas disseram que o Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA)
tem ampla justificativa para reduzir sua taxa básica de juros
em ao menos 0,25 ponto percentual, na reunião do dia 18.
Mas os números também
suscitaram novos temores de
uma recessão e sugeriram que
os danos decorrentes do turbilhão recente nas Bolsas possam
estar se espalhando.
"Se a economia não está se
dirigindo a uma recessão, está
muito perto disso", opinou
Mark Zandi, economista-chefe
da Moody's Economy.com.
Se o relatório sobre os empregos tivesse sido apenas ligeiramente negativo, poderia
ter sido saudado pelos investidores como sinal de que os temores de inflação tinham diminuído suficientemente para
tornar praticamente certa a
perspectiva de um corte dos juros pelo BC americano.
Mas a inversão do crescimento dos empregos superou
as expectativas de longe, suscitando temores de que os lucros
das empresas vão enfraquecer,
à medida que a mudança drástica no mercado ultrapassa os
problemas dos setores habitacional e financeiro, lançando
uma sombra sobre a economia
mais ampla.
"O fato de a redução ter sido
de 4.000 empregos é realmente
um pouco assustador", disse o
economista John Shin, do Lehman Brothers. "O que os números da folha de pagamentos
confirmam é que os danos podem estar se espalhando pelo
resto da economia."
Wall Street estava aguardando ansiosamente o relatório sobre o emprego porque é o dado
econômico mais significativo
divulgado desde que os mercados financeiros começaram a
cair, no início de agosto. As pesquisas foram feitas entre os
dias 12 e 18, quando o arrocho
do crédito e a turbulência subseqüente no mercado financeiro começaram a ganhar força.
A previsão ampla de investidores e economistas é que o
Fed reduzirá em 0,25 ponto
percentual a taxa de juros, para
5%, em sua próxima reunião.
Alguns economistas dizem que
o relatório sobre empregos de
agosto eleva as chances de uma
segunda redução nos juros neste ano -ou uma redução de
meio ponto na próxima reunião. E os negociantes no mercado de futuros estão prevendo
que o Fed vá reduzir os juros
para 4,5% até o final do ano.
"Se houvesse alguma dúvida
quanto às chances de o Fed reduzir os juros em 18 de setembro, esse relatório deve acabar
com ela", disse Nigel Gault,
economista da Global Insight.
"A dúvida agora é se ele deveria
agir com mais agressividade."
Os investidores correram para os investimentos seguros,
como ouro e títulos governamentais. Os preços do ouro subiram, e o rendimento sobre a
nota do Tesouro de dez anos
-um ponto de referência chave
para o mercado de títulos, que
se move em direção oposta a
seu preço- caiu para 4,38%, o
nível mais baixo em mais de um
ano e meio. Na noite de anteontem, ele estava em 4,51%.
O dólar caiu em relação à
maioria das moedas fortes
mundiais, na antecipação de
uma redução dos juros e do enfraquecimento das condições
econômicas dos EUA.
O relatório divulgado ontem
não apenas mostrou que não
houve crescimento no número
de empregos no mês passado
mas que o mercado de empregos esteve significativamente
mais fraco em junho e julho do
que o governo havia anunciado
num primeiro momento. Revisões feitas de relatórios anteriores sobre o emprego indicam que foram criados 81 mil
empregos menos do que o número inicialmente estimado.
"Não é tendência"
Alguns economistas notaram
que, embora o relatório tenha
sido inegavelmente fraco, ele
representa apenas um mês.
"Realmente o relatório não
contém indícios que justifiquem otimismo", disse Mickey
Levy, economista-chefe do
Bank of America. "Mas um mês
não representa uma tendência." Para Levy, um conjunto de
fatores deve ajudar a impedir a
ocorrência de recessão, entre
eles o forte crescimento econômico no exterior e taxas de juros que estão baixas pelos padrões históricos. Ele disse que
mantém sua previsão de uma
chance em três de recessão.
"O turbilhão econômico e os
problemas extensos no setor
habitacional situam os riscos
para a economia claramente
num caminho negativo -não
há dúvida disso", disse. "Mas
também existem fatores que
apontam para um período mais
longo de crescimento mais lento, mas não para recessão."
Um desses fatores positivos é
o crescimento sólido dos salários. O salário médio por hora
da maioria dos trabalhadores
americanos aumentou 3,9%
em relação ao mesmo mês do
ano passado, chegando a US$
17,50, e não sofreu nenhuma
queda em julho.
Tradução de CLARA ALLAIN
Texto Anterior: Boris Tabacof: Crescer ou inchar? Próximo Texto: Frase Índice
|