São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Economistas vêem EUA rumando para recessão

Eliminação de 4.000 vagas gera temor que toda a economia tenha sido afetada

Analistas apostam que BC dos EUA cortará taxa de juros em 0,25 ponto na reunião deste mês e que taxa chegará a 4,5% até o final do ano

JEREMY W. PETERS
DO "NEW YORK TIMES"

Após o anúncio do Departamento do Trabalho dos EUA de que as empresas eliminaram 4.000 postos de trabalho em agosto - pondo fim a quatro anos de crescimento ininterrupto nos empregos-, economistas disseram que o Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) tem ampla justificativa para reduzir sua taxa básica de juros em ao menos 0,25 ponto percentual, na reunião do dia 18. Mas os números também suscitaram novos temores de uma recessão e sugeriram que os danos decorrentes do turbilhão recente nas Bolsas possam estar se espalhando. "Se a economia não está se dirigindo a uma recessão, está muito perto disso", opinou Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Economy.com. Se o relatório sobre os empregos tivesse sido apenas ligeiramente negativo, poderia ter sido saudado pelos investidores como sinal de que os temores de inflação tinham diminuído suficientemente para tornar praticamente certa a perspectiva de um corte dos juros pelo BC americano. Mas a inversão do crescimento dos empregos superou as expectativas de longe, suscitando temores de que os lucros das empresas vão enfraquecer, à medida que a mudança drástica no mercado ultrapassa os problemas dos setores habitacional e financeiro, lançando uma sombra sobre a economia mais ampla.
"O fato de a redução ter sido de 4.000 empregos é realmente um pouco assustador", disse o economista John Shin, do Lehman Brothers. "O que os números da folha de pagamentos confirmam é que os danos podem estar se espalhando pelo resto da economia." Wall Street estava aguardando ansiosamente o relatório sobre o emprego porque é o dado econômico mais significativo divulgado desde que os mercados financeiros começaram a cair, no início de agosto. As pesquisas foram feitas entre os dias 12 e 18, quando o arrocho do crédito e a turbulência subseqüente no mercado financeiro começaram a ganhar força.
A previsão ampla de investidores e economistas é que o Fed reduzirá em 0,25 ponto percentual a taxa de juros, para 5%, em sua próxima reunião. Alguns economistas dizem que o relatório sobre empregos de agosto eleva as chances de uma segunda redução nos juros neste ano -ou uma redução de meio ponto na próxima reunião. E os negociantes no mercado de futuros estão prevendo que o Fed vá reduzir os juros para 4,5% até o final do ano.
"Se houvesse alguma dúvida quanto às chances de o Fed reduzir os juros em 18 de setembro, esse relatório deve acabar com ela", disse Nigel Gault, economista da Global Insight. "A dúvida agora é se ele deveria agir com mais agressividade."
Os investidores correram para os investimentos seguros, como ouro e títulos governamentais. Os preços do ouro subiram, e o rendimento sobre a nota do Tesouro de dez anos -um ponto de referência chave para o mercado de títulos, que se move em direção oposta a seu preço- caiu para 4,38%, o nível mais baixo em mais de um ano e meio. Na noite de anteontem, ele estava em 4,51%.
O dólar caiu em relação à maioria das moedas fortes mundiais, na antecipação de uma redução dos juros e do enfraquecimento das condições econômicas dos EUA.
O relatório divulgado ontem não apenas mostrou que não houve crescimento no número de empregos no mês passado mas que o mercado de empregos esteve significativamente mais fraco em junho e julho do que o governo havia anunciado num primeiro momento. Revisões feitas de relatórios anteriores sobre o emprego indicam que foram criados 81 mil empregos menos do que o número inicialmente estimado.

"Não é tendência"
Alguns economistas notaram que, embora o relatório tenha sido inegavelmente fraco, ele representa apenas um mês.
"Realmente o relatório não contém indícios que justifiquem otimismo", disse Mickey Levy, economista-chefe do Bank of America. "Mas um mês não representa uma tendência." Para Levy, um conjunto de fatores deve ajudar a impedir a ocorrência de recessão, entre eles o forte crescimento econômico no exterior e taxas de juros que estão baixas pelos padrões históricos. Ele disse que mantém sua previsão de uma chance em três de recessão.
"O turbilhão econômico e os problemas extensos no setor habitacional situam os riscos para a economia claramente num caminho negativo -não há dúvida disso", disse. "Mas também existem fatores que apontam para um período mais longo de crescimento mais lento, mas não para recessão."
Um desses fatores positivos é o crescimento sólido dos salários. O salário médio por hora da maioria dos trabalhadores americanos aumentou 3,9% em relação ao mesmo mês do ano passado, chegando a US$ 17,50, e não sofreu nenhuma queda em julho.


Tradução de CLARA ALLAIN


Texto Anterior: Boris Tabacof: Crescer ou inchar?
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.