São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2007

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BORIS TABACOF

Crescer ou inchar?


O verdadeiro remédio que cura o risco do inchaço é mais consumo, que se equilibra com mais produção


O SEMPRE citado Jack Welch, respondendo uma consulta de um jovem executivo preocupado com sua carreira que havia empacado depois de rápidos sucessos, afirma que, com sorte e talento, alguns não crescem, mas incham. O resultado é uma arrogância insuportável, que acaba por barrar carreiras promissoras.
Mal comparando, o Brasil, que vem experimentando consideráveis sucessos econômicos, está novamente diante do dilema com que se deparou várias vezes na história recente: continuar a crescer, desafiando os apavorados que enxergam o dragão inflacionário afiando suas garras, ou pisar no freio prematuramente, o que transformaria o crescimento que começa a se sustentar num mero inchaço transitório, que, como toda afecção, deve ser rapidamente debelada. O antibiótico preferido é o juro na veia.
O sistema utilizado nos Estados Unidos para medir a inflação exclui os preços de alimentos e de energia, pois eles estão sujeitos a flutuações circunstanciais que não podem ser controladas por política de juros. No caso atual da nossa economia, a pressão nos preços é, sem dúvida, resultante dos alimentos, que certamente refluirão com as expectativas de safras abundantes e a possível acomodação das commodities.
O recrudescimento de uma política constrangedora da evolução positiva da economia acaba recaindo praticamente sobre a produção de bens e serviços das empresas que estão tomadas de expectativas favoráveis que levam aos investimentos em aumento de produção. Esse é o verdadeiro remédio que cura o risco do inchaço: mais consumo, que se equilibra com mais produção.
Diz-se que a autoridade monetária busca atingir seu objetivo, que é o de ficar dentro da meta de inflação, controlando as expectativas dos agentes econômicos. Pois bem, os responsáveis de Brasília devem ficar conscientes de que o que pode mudar nas expectativas é quebrar a firme intenção das empresas de investir, que se revela no aumento de 19% na produção de bens de capital em julho de 2007, complementada pelas importações desses bens, de 28% ante julho de 2006.
A relação entre juros e preços é muito ambígua. Mas os estragos de uma política de juros altos são evidentes em pelo menos dois aspectos. O primeiro já agora confirmado pelo BIS, o Banco de Compensações Internacionais, é que o real, no 2º trimestre deste ano, foi a moeda preferida pelos investidores globais, os mesmos que montaram verdadeiras pirâmides especulativas. As operações com derivativos de câmbio envolvendo a moeda brasileira cresceram 34% entre abril e junho, mas, no mundo, essas operações subiram apenas 3%. Os negócios com contratos de taxas de juros brasileiros de curto prazo se expandiram em 37% no período. Boa parte da valorização do real se deveu a essa especulação calcada na elevada taxa de juros. A isso, insistem em chamar de livre flutuação dos mercados.
O outro efeito é que, mesmo com a crescente carga dos impostos e o acentuado aumento da arrecadação, continuamos com déficit real das contas após o pagamento dos juros da enorme dívida pública.
A imaginária taxa de equilíbrio do crescimento do PIB brasileiro, que se transformaria em inflação quando passasse de 4%, é um bicho que deve ser espantado do país. Agora é o momento de ouvir os que labutam na economia real, tomados por um ânimo positivo que não pode, de novo, ser asfixiado pela pisada no freio visando parar o crescimento apresentado como o adversário da estabilidade. São os empresários os maiores interessados na preservação da estabilidade, cuja verdadeira garantia é esse empenho do crescimento que começa a se concretizar.

BORIS TABACOF é diretor do Departamento de Economia do Ciesp e vice-presidente do Conselho de Administração da Suzano.


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