São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2007

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Cresce cerco a papel de agências na crise

Procurador-geral de Nova York e de Ohio abrem investigação, e comitê do Senado já convocou representantes a depor

Agências como Fitch e Standard & Poor's certificaram papéis que agora geram a crise nos mercados de crédito

STEPHEN FOLEY
DO "INDEPENDENT"

Andrew Cuomo, o sucessor do hoje governador de Nova York, Eliot Spitzer, no cargo de procurador-geral do Estado, deve emular a implacável ação de seu predecessor contra os deslizes de Wall Street com uma investigação sobre o papel das agências de avaliação de risco na alimentação da bolha nos mercados de crédito dos Estados Unidos.
Duas das maiores agências do país, a Standard & Poor's e a Fitch, já foram notificadas por Cuomo como parte de uma investigação sobre a crise no mercado de crédito imobiliário. E a pressão está crescendo também sobre outras agências.
A Securities & Exchange Commission (SEC), que regula o mercado americano de ações e títulos, confirmou ontem que começou a investigar as práticas e procedimentos das agências de avaliação de risco, que cresceram muito durante o boom de crédito nos EUA graças à demanda por avaliação de instrumentos cada vez mais exóticos de concessão de empréstimos.
Os certificados que concederam a derivativos baseados em empréstimos "subprime" (de alto risco), atestando que eram tão seguros quanto títulos do governo, estimularam os investidores a comprá-los em número recorde. Mas a confiança na solidez desses papéis desde então ruiu, a demanda por eles secou e parte deles já foi rebaixada pelas agências de risco (as mesmas que avaliam os papéis brasileiros e podem dar ao Brasil o tão almejado "grau de investimento" -que atestaria que o país é capaz de honrar suas dívidas).
O procurador-geral de Ohio, Marc Dann, também está analisando as formas com que as agências de risco interagiram com os grandes bancos de Wall Street que financiaram a venda de papéis lastreados por hipotecas e outros derivativos. A poderosa comissão de bancos do Senado americano também já sinalizou que chamará representantes das agências para depor. Elas também estão sendo investigadas por órgãos europeus.
"Quanto mais olhamos para elas, mais percebemos o quanto essas empresas [de avaliação de risco] são importantes", disse Dann ao diário "The Wall Street Journal".

Conflito de interesse
As três principais agências de avaliação de risco -S&P, Fitch e Moody's- são remuneradas para certificar a solidez de dívidas em poder dos bancos de Wall Street. Políticos e órgãos reguladores estão preocupados porque isso pode representar um conflito de interesse, já que quanto, melhor a avaliação do crédito, maior a demanda por eles.
Com o aumento das críticas a sua atuação, a S&P trocou sua presidente, Kathleen Corbet, na semana passada. Ontem, as agências disseram que vão cooperar totalmente com os pedidos de informação dos órgãos reguladores.
Spitzer foi eleito governador de Nova York no ano passado, em parte pelo resultado de suas batalhas com Wall Street, particularmente quando ele fechou um acordo multibilionário com bancos de investimento por causa de conflitos de interesse na explosão da bolha da internet, em 2001.


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