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Bolsa está à beira de correção, dizem bancos
Fundamentos das empresas não justificam euforia dos últimos meses, alerta o IIF, entidade do setor financeiro global
Ações de bancos, que têm puxado o índice em Nova York, estão entre as mais ameaçadas de cair; cotações estão acima do preço real
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Relatório confidencial distribuído pelo IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla
em inglês) a seus 375 membros,
a maioria grandes bancos, afirma que os mercados de ações
globais estão à beira de uma nova "correção".
A possibilidade de queda,
após vários meses de altas a
partir de março, seria mais forte para as ações do próprio setor financeiro. Os papéis dos
bancos têm sido os principais
"puxadores" do índice da Bolsa
de Valores de Nova York.
Na semana passada, os preços das ações nos EUA tiveram
a maior queda em dois meses,
liderada pelos papéis dos setores bancário e de energia.
"Tanto nos mercados avançados quanto nos emergentes,
a relação entre o preço e o lucro
(P/L) das ações já está muito
acima da média dos últimos
cinco anos", diz o IIF.
Os últimos cinco anos, até o
estouro da atual crise, em setembro de 2008, foram os de
maior crescimento contínuo e
conjunto da economia global.
Isso ajudou a justificar, no passado recente, a relação elevada
entre preço de ações e lucros.
O P/L representa o número
de anos necessários até que o
investidor tenha de volta o capital investido em uma ação. Isso considerando que seja distribuído lucro aos acionistas e que
o montante seja constante em
termos reais (atualizado pela
inflação de cada ano).
Se uma companhia tem uma
ação cotada a R$ 10 e pagou um
dividendo de R$ 0,50 nos últimos 12 meses, por exemplo, seu
P/L (índice preço-lucro) é de
20 (R$ 10 divididos por R$
0,50). Assim, os R$ 10 investidos retornariam ao investidor
em um prazo de 20 anos.
Nos 113 anos de história do
índice Dow Jones da Bolsa de
Nova York, em apenas seis ocasiões a recuperação foi tão forte
e rápida quanto a atual.
Segundo cálculos do economista Robert Shiller, da Universidade de Yale, em março as
ações nos EUA eram negociadas em um nível 12 vezes inferior aos ganhos proporcionados aos acionistas nos últimos
dez anos. Isso deprimiu o valor
total do mercado até o menor
patamar desde 1986.
Hoje, essas ações estão em
um patamar 18,4 vezes maior
em relação à projeção de lucros
das empresas. E acima até da
média de 16,3 vezes calculada
sobre o passado de longo prazo.
O que esses números mostram é que os investidores estão bastante otimistas com a
recuperação da economia
mundial, em especial nos EUA.
Já os dados do IIF ponderam
a possibilidade de a "correção"
estar baseada no fato de os bancos continuarem reduzindo o
volume de empréstimos a consumidores e bancos, como vêm
fazendo desde o ano passado.
Menos financiamento significa menos vendas, produção e
atividade econômica, deprimindo o lucro das empresas. E,
consequentemente, o ganho
por ação dos acionistas.
Nos últimos meses, grande
parte do aumento do lucro das
empresas (que justificou a valorização do mercado) também
ocorreu mais devido ao corte de
custos e empregos do que pelo
aumento das vendas.
Alguns investidores bem informados já estariam se retraindo. Em agosto, segundo a
empresa de pesquisas TrimTabs Investments, diretores de
companhias com ações na Bolsa venderam 31 vezes mais papéis do que compraram. A relação de longo prazo para o indicador é de 7 para 1.
Na sexta-feira, Mohamed El-Erian, presidente da Pimco,
uma das maiores corretoras do
mundo, disse que a valorização
do mercado de ações e títulos
empresariais "ultrapassou a
realidade da economia".
Para El-Erian, há 50% de
chance de a economia dos EUA
voltar ao vermelho em 2010, o
que levaria a atual recessão a
ter um formado de W (queda,
recuperação e nova queda antes de subir de vez). E não de V
(queda e recuperação).
"Não é que as coisas estão começando a melhorar. Elas estão piorando mais lentamente", disse El-Erian ao comentar
a divulgação de que mais 216
mil pessoas foram demitidas
em agosto nos EUA. Nos primeiros meses de 2009, a média
de cortes mensal foi de 700 mil.
Parte da valorização para
além dos "fundamentos econômicos", segundo o IIF, também
seria consequência de os principais bancos centrais do mundo estarem mantendo uma política de taxas juros extremamente baixas para estimular a
atividade econômica.
Assim que as economias
crescerem e quando os gastos
públicos recordes em vários
países começarem a fazer efeito, poderá haver o risco de aumento da inflação.
Se os BCs elevarem os juros
para combater a alta de preços
(que é praxe), haveria um novo
estímulo para os investidores
saírem do mercado de ações e
aplicarem em títulos públicos.
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