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SOCIAIS & CIA.
Mercado ainda resiste a cota para deficientes
Lei que determina que as empresas contratem percentual mínimo de pessoas com deficiência completa 18 anos sem trazer consenso
Sindicatos e organizações querem vê-la aplicada, empresários defendem modificações e deficientes continuam sem trabalho
ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Mesmo chegando à maioridade, a Lei de Cotas para contratação de pessoas portadoras
de deficiência nas empresas
ainda está longe de gerar consenso. Sindicatos e organizações afirmam que a lei tem de
sair do papel, entidades empresariais defendem uma ampla
reformulação em seu conteúdo
e, enquanto isso, uma parcela
relevante dos deficientes no
país continua sem trabalho.
A Lei de Cotas (artigo 93 da
lei 8.213, de julho de 1991) diz
que empresas com mais de cem
funcionários têm que contratar
um percentual mínimo de deficientes, de 2% a 5% de seus
quadros, de acordo com seu
porte. Apesar de sujeitas a multa, são raras as empresas que
cumprem essa determinação.
Segundo levantamento do
Espaço da Cidadania, a partir
de dados do Ministério do Trabalho e Emprego, a média de
cumprimento da lei no país em
2008 foi de apenas 15,4%. Em
São Paulo, Estado com o maior
índice de cumprimento, esse
número chega a 39,7%. Em
Santa Catarina, na Paraíba e em
Roraima, fica abaixo de 3,5%.
Embora a lei seja considerada um avanço no processo de
inclusão dos deficientes na sociedade, os números mostram
que seu objetivo ainda está longe de ser alcançado.
Os motivos geram controvérsia. Há quem afirme que a falta
de informação e o preconceito
ainda são os grandes empecilhos para que as empresas contratem mais deficientes. E há
quem alegue que faltam profissionais no mercado de trabalho, sobretudo os com alguma
qualificação.
"O grande problema é que
ainda existe muita desinformação sobre o potencial da pessoa
portadora de deficiência em
trabalhar, inclusive em cargos
executivos. Se as empresas
concentrassem os esforços que
gastam em recorrer das multas
na inclusão dessas pessoas, poderíamos duplicar os deficientes empregados no país nos
próximos cinco anos", diz Carlos Aparício Clemente, dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região e coordenador de várias publicações
sobre o tema.
"Não há profissionais com
deficiência disponíveis no mercado de trabalho para cumprir
as cotas. Isso é muito claro", rebate o gerente-executivo de Relações do Trabalho da CNI
(Confederação Nacional da Indústria), Emerson Casali. Ele
atribui essa situação a um conjunto de motivos: o grande número de aposentados por invalidez e de deficientes que preferem receber os benefícios de
prestação continuada a trabalhar, a preferência pelas vagas
no setor público, em que a média salarial é mais elevada, e,
principalmente, a diferença entre o que a Lei de Cotas e o que o
IBGE, responsável pelas estatísticas oficiais, consideram como pessoa portadora de deficiência. "Os critérios da lei são
muito mais rígidos do que os do
IBGE. Isso responde, sozinho,
por uma diferença de milhões
de trabalhadores", diz Casali.
Falta de qualificação
Os representantes das empresas alegam ainda que a falta
de qualificação desse trabalhador é um sério problema, motivo pelo qual defendem que o
período de treinamento e capacitação do deficiente em organizações especializadas, patrocinado pela companhia, deveria ser contabilizado para efeito
de cumprimento da lei.
"A qualificação é o maior problema. O que vemos no mercado é uma verdadeira disputa
entre as empresas para contratar um deficiente qualificado,
quase uma "pirataria'", aponta o
superintendente de Relações
de Trabalho da Febraban (Federação Brasileira de Bancos),
Magnus Ribas Apostólico.
A falta de preparação do deficiente na educação básica, afirmam as entidades, é a principal
causa para o problema da qualificação. "Se o próprio Estado
não faz a inclusão dos deficientes nas escolas, e igualmente
não consegue cumprir a Lei de
Cotas em seus quadros, não está certo jogar essa responsabilidade para a iniciativa privada",
afirma Apostólico.
Organizações, órgãos públicos e sindicatos discordam.
Alegam que parcela expressiva
dos trabalhadores adquire a deficiência já na idade adulta e
que a maior parte das empresas
ainda enxerga o emprego de deficientes como um fardo, em
vez de aproveitar os benefícios
decorrentes desse tipo de contratação.
"Há as empresas que entendem o valor da inclusão, com os
ganhos disso no ambiente organizacional e na sua vocação como protagonista na sociedade,
e há as empresas que ainda estão assustadas, que veem a contratação do deficiente como
uma missão impossível, e por
isso preferem financiar uma
organização que mantenha o
deficiente longe ou em um cargo nulo apenas para cumprir
cota", afirmou Linamara Rizzo Battistella, secretária dos
Direitos da Pessoa com Deficiência do governo do Estado
de São Paulo.
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