São Paulo, terça, 8 de setembro de 1998

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MERCADO TENSO
Ameaça de corte nos juros dos EUA e de mais intervenções de governos provocam altas na região
Bolsas asiáticas vivem dia longe de crise

MARCIO AITH
de Tóquio

As ameaças de corte nos juros norte-americanos e de mais intervenções de governos e de fundos públicos fizeram com que os mercados asiáticos se comportassem ontem como se nenhuma crise financeira tivesse atingido a região.
Bolsas de Valores tiveram altas recordes e o iene valorizou-se para seu mais forte patamar frente ao dólar dos últimos quatro meses (131,9 por dólar).
O comportamento de ontem dos mercados distancia a economia real dos países asiáticos, quase todas em recessão, das cotações de suas moedas e de suas Bolsas de Valores.
A Bolsa de Tóquio liderou a euforia com uma alta de 5,3%, a segunda maior do ano. A causa: fundos de pensão compraram ações para garantir as vendas a descoberto que fizeram no mercado de opções e futuros e que serão liquidadas na sexta-feira.
O mercado acionário de Tóquio também tem sido beneficiado parcialmente pela repatriação de fundos japoneses fugindo dos mercados emergentes.

Malásia
A Bolsa de Kuala Lumpur, na Malásia, subiu 22,5%, simplesmente a maior alta em todos os seus 24 anos de história.
O motivo não foi dos mais "saudáveis" e é o mesmo que vem causando uma alta "histérica" do mercado de ações no país desde a semana passada, depois do pacote econômico que praticamente isolou essa economia dos mercados financeiros internacionais.
Fundos controlados pelo governo gastaram alguns bilhões de dólares comprando ações. A Malásia também abaixou suas taxas de juros e estimulou bancos a comprarem ações.
As empresas mais valorizadas na Bolsa pertencem ao empresário Halim Saad, ligado ao primeiro-ministro Mahathir Mohamad.
Ao mesmo tempo, novas regras de liquidação de negócios estão impedindo investidores estrangeiros, desesperados para fugirem da Malásia, de vender suas ações.
Ontem, o primeiro-ministro nomeou a si mesmo para o cargo de ministro das Finanças, no lugar de Anwar Ibrahim, que ele havia demitido na semana passada.
Mahathir nomeou como seu assistente na pasta das Finanças um aliado, Mustapha Mohamad, e também anunciou o nome do novo presidente do banco central, Ali Abul Hassan Sulaiman.

Hong Kong
A Bolsa de Hong Kong também teve uma alta "eufórica". Subiu 7,9%, no primeiro dia de vigência das novas regras, anunciadas oficialmente pela administração da ilha no final de semana, para restringir as vendas a descoberto nos mercados futuro e de ações.
Venda a descoberto significa a venda de uma ação ou de um contrato por alguém que não os possui e que pretende obter lucro prevendo (ou provocando) mudanças no mercado entre a data da operação e a de sua liquidação.
Com base nessas novas restrições, Hong Kong quer anular as ações de especuladores e manter o valor de sua moeda sem alterar as taxas de juros. As medidas estão surtindo efeito no mercado de ações, mas ferem a reputação de Hong Kong como a de um dos mercados mais livres do mundo.
Ontem, o secretário das Finanças Donald Tsang disse que o governo de Hong Kong continuará sua intervenção no mercado para frear a atividade especulativa.
Tsang disse que o governo está "absolutamente determinado a proteger a estabilidade e a integridade da moeda e do mercado financeiro".
As autoridades locais começaram a intervir na Bolsa há cerca de duas semanas. Analistas afirmam que a intervenção afeta negativamente o princípio de livre mercado e a consideração de Hong Kong como uma das economias mais abertas do mundo.
"O governo continua com a política de economia livre e não estabelecerá controles de câmbio", afirmou Tsang, em referência às mudanças implementadas na última semana pelo governo malaio.
Outras Bolsas do Sudeste Asiático tiveram um dia de recuperação ontem. A de Seul, na Coréia do Sul, subiu 3,9%, a de Cingapura, 7,1%, e a de Bancoc, na Tailândia, 6,4%. No mercado de Jacarta, na Indonésia, as ações tiveram alta de 3%, e no de Manila, nas Filipinas, de 2,4%.


com agências internacionais



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