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Crise aumenta economia informal
DE BUENOS AIRES
A maior crise econômica da
história incentivou o crescimento
explosivo da economia informal
na Argentina. Segundo estimativa
da consultoria Fiel, o trabalho, a
produção e os bens não-registrados representavam 30% do PIB
(Produto Interno Bruto) em 1995
mas, hoje, já são equivalentes a
50% da economia do país vizinho.
O lado visível da informalidade
está nas ruas: diariamente, as cidades argentinas são invadidas
por exércitos de camelôs, feiras de
escambo (para troca de produtos)
e pelos chamados "cartoneiros"
(catadores de papelão e lixo reciclável).
O economista-chefe da Fiel,
Juan Luis Bour, explicou ao jornal
"Clarín" que, somados a esses trabalhadores informais, também há
indicadores fiscais, monetários,
cambiais e de comércio exterior
que mostram a explosão da economia "oculta".
Ele citou como exemplo o fato
de que, neste ano, a arrecadação
federal atingiu seu pico em julho
e, depois, recuou em agosto e em
setembro apesar de que, nesses
últimos dois meses, tenha havido
uma leve recuperação produtiva.
Trabalho informal
No mercado de trabalho, a dificuldade dos empresários em sobreviver no atual ambiente de crise levou à informalidade 40% dos
trabalhadores argentinos. Boa
parte desses assalariados não paga impostos e é remunerada por
empresas que não declaram despesas.
O sistema financeiro também
sentiu os reflexos do crescimento
da informalidade. Hoje, o próprio
Indec (o IBGE local) calcula que
mais de US$ 100 bilhões são guardados pelos argentinos "debaixo
do colchão" ou no exterior.
Com isso, o dinheiro depositado nos bancos -em contas correntes e em cadernetas de poupança- caiu para níveis semelhantes aos registrados na década
de 80. Sem registro nos bancos,
esse dinheiro pode ser omitido
mais facilmente nas declarações
de bens.
Outro incentivo à informalidade no sistema financeiro foi dado
pelos próprios governos provinciais e federal que, a partir do ano
passado, emitiram títulos públicos para pagar despesas de funcionalismo. Esse papéis equivalem hoje a 36% do dinheiro em
circulação no país, mas não podem ser depositados nos bancos.
Um último exemplo da informalidade, disse Bour, está nas
operações de comércio exterior.
O governo criou neste ano uma
série de impostos sobre exportações e também controles para a liquidação dos dólares obtidos
com essas vendas. O resultado foi
uma progressiva queda das exportações desde maio.
Segundo estimativas de consultorias privadas, o governo deverá
deixar de arrecadar 30 bilhões de
pesos neste ano por conta da sonegação.
Por isso, dizem especialistas, o
próximo governo argentino, que
assume em maio de 2003, deverá
ser obrigado a conceder incentivos -como o perdão de dívidas
tributárias- para que parte das
empresas e da população traga recursos de volta para a economia
formal.
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