São Paulo, terça-feira, 08 de outubro de 2002

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Crise aumenta economia informal

DE BUENOS AIRES

A maior crise econômica da história incentivou o crescimento explosivo da economia informal na Argentina. Segundo estimativa da consultoria Fiel, o trabalho, a produção e os bens não-registrados representavam 30% do PIB (Produto Interno Bruto) em 1995 mas, hoje, já são equivalentes a 50% da economia do país vizinho.
O lado visível da informalidade está nas ruas: diariamente, as cidades argentinas são invadidas por exércitos de camelôs, feiras de escambo (para troca de produtos) e pelos chamados "cartoneiros" (catadores de papelão e lixo reciclável).
O economista-chefe da Fiel, Juan Luis Bour, explicou ao jornal "Clarín" que, somados a esses trabalhadores informais, também há indicadores fiscais, monetários, cambiais e de comércio exterior que mostram a explosão da economia "oculta".
Ele citou como exemplo o fato de que, neste ano, a arrecadação federal atingiu seu pico em julho e, depois, recuou em agosto e em setembro apesar de que, nesses últimos dois meses, tenha havido uma leve recuperação produtiva.

Trabalho informal
No mercado de trabalho, a dificuldade dos empresários em sobreviver no atual ambiente de crise levou à informalidade 40% dos trabalhadores argentinos. Boa parte desses assalariados não paga impostos e é remunerada por empresas que não declaram despesas.
O sistema financeiro também sentiu os reflexos do crescimento da informalidade. Hoje, o próprio Indec (o IBGE local) calcula que mais de US$ 100 bilhões são guardados pelos argentinos "debaixo do colchão" ou no exterior.
Com isso, o dinheiro depositado nos bancos -em contas correntes e em cadernetas de poupança- caiu para níveis semelhantes aos registrados na década de 80. Sem registro nos bancos, esse dinheiro pode ser omitido mais facilmente nas declarações de bens.
Outro incentivo à informalidade no sistema financeiro foi dado pelos próprios governos provinciais e federal que, a partir do ano passado, emitiram títulos públicos para pagar despesas de funcionalismo. Esse papéis equivalem hoje a 36% do dinheiro em circulação no país, mas não podem ser depositados nos bancos.
Um último exemplo da informalidade, disse Bour, está nas operações de comércio exterior. O governo criou neste ano uma série de impostos sobre exportações e também controles para a liquidação dos dólares obtidos com essas vendas. O resultado foi uma progressiva queda das exportações desde maio.
Segundo estimativas de consultorias privadas, o governo deverá deixar de arrecadar 30 bilhões de pesos neste ano por conta da sonegação.
Por isso, dizem especialistas, o próximo governo argentino, que assume em maio de 2003, deverá ser obrigado a conceder incentivos -como o perdão de dívidas tributárias- para que parte das empresas e da população traga recursos de volta para a economia formal.


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