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LUÍS NASSIF
O xadrez da batalha final
A eleição , de fato, começa
agora, com o segundo turno. Não significa que se deva ignorar a enorme vantagem de
Lula, mas admitir que será jogada uma nova partida nesse xadrez. Na preliminar, a estratégia
do PT bateu de longe a do PSDB.
Agora, haverá um realinhamento de estratégias.
No primeiro turno, ambos os
candidatos tinham pontos fortes
e fracos. Em Lula, o ponto forte é
a marca nitidamente oposicionista, em um país impaciente
com o quadro atual, galvanizando o descontentamento com os
erros do governo Fernando Henrique Cardoso. Os pontos fracos
eram o menor preparo para falar de problemas nacionais de
forma mais ampla, o discurso
pré-eleitoral do PT, ainda bastante radical -e o risco que poderia representar para as conquistas do governo.
Em José Serra, o ponto forte é o
maior preparo, a imagem de um
ministro operacional e poder se
apresentar como avalista das
conquistas do governo Fernando
Henrique Cardoso. O ponto fraco, o fato de ser candidato do governo e ter que arcar com as críticas aos erros do governo Fernando Henrique, e a imagem de
"demolidor" da biografia alheia
que lhe foi pespegada no caso
Lunus.
Embora se possa dizer que Lula tenha se beneficiado do fato
de ter ficado de fora da disputa
eleitoral -pela razão de estar
sozinho em primeiro lugar-, a
verdade é que a estratégia petista foi brilhante para realçar pontos positivos e esconder os negativos. Lula foi apresentado como
o negociador por excelência
-imagem que é verossímil, por
sua biografia. Essa postura permitiu ao candidato se eximir de
dar sua opinião sobre qualquer
tema mais delicado. Serviu para
esconder a posição do PT em relação a temas politicamente polêmicos e evitar que Lula entrasse em divididas ou se enrolasse
em temas complexos. Se o tema
era politicamente complexo,
bastava remeter a solução para
um futuro conselho de sábios,
que, na hora oportuna daria a
resposta adequada. Desideologizou amplamente o debate, sem
se comprometer formalmente
com nenhuma posição.
Ao mesmo tempo, o presidente
do partido, José Dirceu, iniciou
uma maratona de conversas
com agentes econômicos e com o
próprio presidente da República,
conseguindo um efeito curioso: o
PT virou a própria reforma fiscal, todo mundo a favor, sem
conseguir captar a contra-indicação.
Do lado de Serra, a estratégia
não funcionou. Quando confrontado com as críticas ao governo, a posição de Serra era:
não vamos olhar para trás, vamos olhar para a frente. Na prática, a leitura do eleitor era a seguinte: nem Serra consegue
achar nada de bom no governo.
Com isso, Serra ficou com o
ônus, mas não com o bônus de
ser governo.
Além disso, houve falta de
ação no episódio Lunus, em que
foi acusado de ter colocado a escuta no escritório de Jorge Murad, acusação que não veio
acompanhada de nenhuma evidência sequer. A posição do candidato foi a de ignorar olimpicamente as insinuações para não
se misturar com a lama. Não poderia. Não bastava a constatação de que não havia evidências
de sua participação. O jogo de
insinuações não se move de evidências e só consegue ser detido
com manifestações enérgicas de
indignação.
No segundo tempo do jogo, começa tudo de novo. Do lado de
Lula, será obrigado a explicitar
suas propostas em relação aos
avanços obtidos pelo país nos últimos anos. Vai continuar a profissionalização das empresas públicas? As políticas sociais não
serão mais politizadas? Sua política para a empresa nacional
implicará a volta do protecionismo? Haverá politização da máquina pública? Qual sua posição
sobre encargos trabalhistas?
De seu lado, José Serra terá que
assumir amplamente a defesa do
governo Fernando Henrique
Cardoso, nos acertos e nos erros,
mesmo em decisões das quais ele
discordou na época. Terá que se
mover em um discurso mais claro, de apresentar as conquistas
do período, convencer o eleitor
de que nem tudo pode ser feito
em prazos curtos e se propor a
corrigir o que deve ser corrigido.
Terá campo livre, agora, para
fugir da polarização incômoda
de não poder criticar Lula, para
não transferir votos para Garotinho. E vice-versa.
Seja qual for o resultado, o embate entre os dois candidatos será fundamental para conferir
clareza antecipada ao próximo
governo.
E-mail -
LNassif@uol.com.br
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