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Governos elevam intervenção, mas mercados caem mais
Estados Unidos, Europa e Ásia lançam medidas bilionárias para estimular crédito
Apesar da ação oficial,
Bolsas voltam a cair pelo
mundo, com Nova York
recuando 5,1% mesmo após queda de 3,58% na véspera
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
As autoridades americanas e
européias -ministros e bancos
centrais- abriram ontem todo
um novo pacote de bondades
para tentar domar o pânico que
assola os mercados financeiros,
mas o resultado foi de novo pífio: a principal Bolsa do mundo,
a de Nova York, caiu muito de
novo (mais de 5%) e, na Europa, microganhos nem de longe
compensaram o desastre de segunda-feira.
Na maior economia européia, a Alemanha, nem isso:
caiu de novo, agora 1,12%. Paris
subiu 0,55%; Londres, 0,35%;
Madri, 1,2%. No Brasil, quase
5% de queda.
O pacote inclui de novo recursos em grande escala, garantias igualmente suculentas e
palavras eloqüentes, como a da
ministra francesa de Finanças,
Christine Lagarde: "Não toleraremos um Lehman Brothers
europeu", disse, ao término da
reunião com seus colegas de
Economia dos 27 países europeus, em Luxemburgo.
É uma alusão ao banco americano de investimentos cuja
quebra é tida, pelos europeus,
como o ponto de partida para a
viagem da crise financeira ao
outro lado do Atlântico.
Os ministros decidiram elevar de 20 mil para 50 mil a
garantia para os depósitos bancários no bloco, mas sem criar
um fundo conjunto para tanto.
Cada país agirá conforme suas
próprias necessidades.
A Espanha já agiu ontem
mesmo: elevou a garantia de
20 mil para 100 mil, coerente
com a sua própria proposta,
com apoio da França, para que
a Europa adotasse esse patamar em conjunto.
Os mercados e muitos acadêmicos vinham demandando há
semanas uma resposta coordenada, mas tudo o que os ministros conseguiram foi uma
"moldura coordenada" para
"ações públicas que têm que
ser decididas no nível nacional", conforme comunicado do
governo alemão.
Decidiram também dar
apoio à instituições financeiras
que representem um risco sistêmico -ou seja, cuja quebra
poderia pôr em risco todo o sistema financeiro. É a versão técnica de não tolerar "um Lehman Brothers europeu".
O governo espanhol ontem
mesmo anunciou a criação de
um fundo de 30 bilhões, ampliável a 50 bilhões, para
comprar ativos sadios de entidades financeiras, com o objetivo de "sustentar a atividade
produtiva e o crédito", como
disse o presidente do governo,
José Luis Rodríguez Zapatero.
O premiê britânico, Gordon
Brown, fez o mesmo: anunciou
esquema, a ser detalhado hoje,
de usar até 50 bilhões de libras
(US$ 88 bilhões) para comprar
ações preferenciais de bancos
relevantes.
Nos EUA, Ben Bernanke,
presidente do Fed, anunciou o
BC americano comprará "commercial papers", títulos de curto prazo de grandes empresas.
Com isso, espera lubrificar os
congelados mecanismos de
crédito.
Já o BCE (Banco Central Europeu) anunciou a duplicação
dos recursos a emprestar a
bancos comerciais por períodos de até seis meses, elevando-os para 50 bilhões. Além
disso, em operação conjunta, o
Fed e os BCs de Canadá, Reino
Unido, Japão e Suíça decidiram
despejar mais US$ 450 bilhões
para os bancos destravarem os
créditos.
Crédito congelado
Muito mais que a queda nas
Bolsas é o congelamento do
crédito que assusta as autoridades porque a economia não
funciona sem ele. Os bancos temem até emprestar dinheiro
uns aos outros, quanto mais a
pessoas físicas ou jurídicas, o
que trava a economia.
O resultado do pacote de
bondades de ontem ainda não
pode ser devidamente avaliado
porque as medidas foram pingando ao longo do dia. De todo
modo, um dado é relevante: a
Libor (a taxa com a qual os bancos emprestam uns aos outros)
está no mais alto nível em quase oito anos. Subiu a 3,94%, "taxa de parar o coração", segundo
a revista britânica "The Economist".
Sinal claro de que as instituições financeiras preferem entesourar recursos em vez de
emprestá-los ao mercado, embora essa seja sua razão de viver.
Mas pânico é pânico, e se revela em outra taxa, a Euribor,
usada na maioria das hipotecas
na Espanha: subiu ontem de
novo, até chegar aos 5,49%, o
ponto mais alto de sua história.
Nesse cenário, é razoável supor que as autoridades acabarão por seguir a decisão de ontem da Austrália de reduzir sua
taxa de juros de 7% para 6%,
um corte que duplica o que o
mercado esperava.
Já há um pequeno coro se
formando a favor do corte de
juros, começando pelo diretor
da Câmara Britânica de Comércio, David Frost, para quem
"o Banco da Inglaterra [o BC
britânico] precisa reduzir as taxas de juros imediatamente".
É uma idéia que tem o apoio
do novo guru da economia,
Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, chamado
de "Mr. Doom" (sr. catástrofe),
porque vivia prevendo uma
baita crise.
Em entrevista ao "site" do
Council on Foreign Relations,
Roubini disse que "a Europa, os
Estados Unidos e outras economias líderes deveriam coordenar grandes reduções de juros,
para mostrar que estão levando
a sério o combate à crise e aos
problemas econômicos mais
abrangentes que ela poderia gerar".
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