São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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Governos elevam intervenção, mas mercados caem mais

Estados Unidos, Europa e Ásia lançam medidas bilionárias para estimular crédito

Apesar da ação oficial, Bolsas voltam a cair pelo mundo, com Nova York recuando 5,1% mesmo após queda de 3,58% na véspera

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

As autoridades americanas e européias -ministros e bancos centrais- abriram ontem todo um novo pacote de bondades para tentar domar o pânico que assola os mercados financeiros, mas o resultado foi de novo pífio: a principal Bolsa do mundo, a de Nova York, caiu muito de novo (mais de 5%) e, na Europa, microganhos nem de longe compensaram o desastre de segunda-feira.
Na maior economia européia, a Alemanha, nem isso: caiu de novo, agora 1,12%. Paris subiu 0,55%; Londres, 0,35%; Madri, 1,2%. No Brasil, quase 5% de queda.
O pacote inclui de novo recursos em grande escala, garantias igualmente suculentas e palavras eloqüentes, como a da ministra francesa de Finanças, Christine Lagarde: "Não toleraremos um Lehman Brothers europeu", disse, ao término da reunião com seus colegas de Economia dos 27 países europeus, em Luxemburgo.
É uma alusão ao banco americano de investimentos cuja quebra é tida, pelos europeus, como o ponto de partida para a viagem da crise financeira ao outro lado do Atlântico.
Os ministros decidiram elevar de 20 mil para 50 mil a garantia para os depósitos bancários no bloco, mas sem criar um fundo conjunto para tanto. Cada país agirá conforme suas próprias necessidades.
A Espanha já agiu ontem mesmo: elevou a garantia de 20 mil para 100 mil, coerente com a sua própria proposta, com apoio da França, para que a Europa adotasse esse patamar em conjunto.
Os mercados e muitos acadêmicos vinham demandando há semanas uma resposta coordenada, mas tudo o que os ministros conseguiram foi uma "moldura coordenada" para "ações públicas que têm que ser decididas no nível nacional", conforme comunicado do governo alemão.
Decidiram também dar apoio à instituições financeiras que representem um risco sistêmico -ou seja, cuja quebra poderia pôr em risco todo o sistema financeiro. É a versão técnica de não tolerar "um Lehman Brothers europeu".
O governo espanhol ontem mesmo anunciou a criação de um fundo de 30 bilhões, ampliável a 50 bilhões, para comprar ativos sadios de entidades financeiras, com o objetivo de "sustentar a atividade produtiva e o crédito", como disse o presidente do governo, José Luis Rodríguez Zapatero.
O premiê britânico, Gordon Brown, fez o mesmo: anunciou esquema, a ser detalhado hoje, de usar até 50 bilhões de libras (US$ 88 bilhões) para comprar ações preferenciais de bancos relevantes.
Nos EUA, Ben Bernanke, presidente do Fed, anunciou o BC americano comprará "commercial papers", títulos de curto prazo de grandes empresas. Com isso, espera lubrificar os congelados mecanismos de crédito.
Já o BCE (Banco Central Europeu) anunciou a duplicação dos recursos a emprestar a bancos comerciais por períodos de até seis meses, elevando-os para 50 bilhões. Além disso, em operação conjunta, o Fed e os BCs de Canadá, Reino Unido, Japão e Suíça decidiram despejar mais US$ 450 bilhões para os bancos destravarem os créditos.

Crédito congelado
Muito mais que a queda nas Bolsas é o congelamento do crédito que assusta as autoridades porque a economia não funciona sem ele. Os bancos temem até emprestar dinheiro uns aos outros, quanto mais a pessoas físicas ou jurídicas, o que trava a economia.
O resultado do pacote de bondades de ontem ainda não pode ser devidamente avaliado porque as medidas foram pingando ao longo do dia. De todo modo, um dado é relevante: a Libor (a taxa com a qual os bancos emprestam uns aos outros) está no mais alto nível em quase oito anos. Subiu a 3,94%, "taxa de parar o coração", segundo a revista britânica "The Economist".
Sinal claro de que as instituições financeiras preferem entesourar recursos em vez de emprestá-los ao mercado, embora essa seja sua razão de viver.
Mas pânico é pânico, e se revela em outra taxa, a Euribor, usada na maioria das hipotecas na Espanha: subiu ontem de novo, até chegar aos 5,49%, o ponto mais alto de sua história.
Nesse cenário, é razoável supor que as autoridades acabarão por seguir a decisão de ontem da Austrália de reduzir sua taxa de juros de 7% para 6%, um corte que duplica o que o mercado esperava.
Já há um pequeno coro se formando a favor do corte de juros, começando pelo diretor da Câmara Britânica de Comércio, David Frost, para quem "o Banco da Inglaterra [o BC britânico] precisa reduzir as taxas de juros imediatamente".
É uma idéia que tem o apoio do novo guru da economia, Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, chamado de "Mr. Doom" (sr. catástrofe), porque vivia prevendo uma baita crise.
Em entrevista ao "site" do Council on Foreign Relations, Roubini disse que "a Europa, os Estados Unidos e outras economias líderes deveriam coordenar grandes reduções de juros, para mostrar que estão levando a sério o combate à crise e aos problemas econômicos mais abrangentes que ela poderia gerar".


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