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Empresas mudam posição e elevam alta do dólar no país
Corrida ao mercado de câmbio impulsiona moeda
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Além da crise de crédito e da
fuga de recursos para investimentos de menor risco, a alta
do dólar, no Brasil, que já chega
a cerca de 50% desde agosto,
tem um componente adicional.
Muitas empresas que fizeram aposta de alto risco na manutenção do dólar numa faixa
de R$ 1,60 a R$ 1,70 até o final
do ano em operações complexas de câmbio estão desmontando suas posições abruptamente e, para isso, compram
dólar de forma alucinada.
É essa a razão que fez o dólar
subir ontem 5,14% e atingir R$
2,311 -maior valor desde 31 de
maio de 2006-, apesar das
vendas da moeda realizadas pelo Banco Central.
A equipe econômica, incluindo o BC, já foi informada desse
movimento e nada pode fazer.
São operações legais e sigilosas.
Só os bancos e as empresas que
realizaram a operação podem
tornar as informações transparentes.
Os rumores do mercado são
que o total dessas operações
pode ter atingido R$ 40 bilhões.
Para muitos especialistas, depois da conclusão dessas operações de desmonte, o dólar deve
recuar.
A duas únicas operações que
vieram a público foram da Aracruz e da Sadia. As perdas da
Aracruz somaram R$ 1,9 bilhão, e as da Sadia, R$ 750 milhões. As informações do mercado são que muitas outras empresas e fundos de investimento fizeram essas mesmas operações e agora se desfazem delas para evitar um prejuízo
maior se o dólar subir mais.
Complexas e sofisticadas, essas operações de derivativos
proporcionaram lucros enormes às empresas e continuariam a possibilitá-los, caso a
crise não tivesse alterado o rumo dos acontecimentos. Nenhuma instituição previa que o
dólar fosse romper a barreira
de R$ 1,90, muito menos que
chegasse a R$ 2,30.
Apesar de complexas, as operações tinham mais ou menos o
seguinte formato: as empresas
ou fundos apostaram que o dólar não iria passar de R$ 1,90
neste ano. Elas venderam para
os bancos opções de compra de
dólar fixando este limite para o
dólar. Quando as empresas fizeram essas operações, a cotação da moeda americana estava
em cerca de R$ 1,60.
Essas operações foram registradas na BM&F, na Cetip e em
mercados de balcão fora do
Brasil ("offshore"). A pergunta
que se faz é: se ninguém apostava na alta do dólar, por que alguns bancos aceitavam comprar essas opções de alto risco
dessas empresas?
A resposta é que os bancos
compravam esses títulos e os
lançavam contabilmente no
chamado Livro de Volatilidade,
de operações de altíssimo risco,
e ao mesmo tempo faziam o
chamado "hedge" (proteção)
para se protegerem de eventuais perdas. Ou seja, o banco
não perdia com a operação e
poderia ganhar muito caso o
dólar ultrapassasse a barreira
de R$ 1,90, como aconteceu.
Muitas dessas operações de
alto risco foram casadas com
algum tipo de empréstimo contraído num banco ou num fundo de investimento. As instituições ofereciam ao mesmo tempo empréstimos a juros favorecidos caso as empresas aceitassem fazer essas opções derivativas de venda de dólar a futuro.
O mercado apelidou essas operações casadas de "tarn" -"lago
nas montanhas", em inglês.
Com a alta do dólar, as empresas, agora, estão correndo
para desfazer suas posições no
mercado de câmbio, apesar de
as opções não terem vencido
ainda. O problema é que, quanto mais sobe o dólar, maiores
são as perdas das empresas. Por
isso, as empresas estão comprando dólar para zerar suas
posições, como se diz no jargão
do mercado financeiro.
Essas operações chegaram a
ser estudadas por alguns grandes bancos, mas eles preferiram não fazê-las. Foram consideradas de risco muito elevado.
Contra a parede
Ontem, o BC voltou a realizar
um leilão de contratos de
"swap" cambial, oferecendo
aos bancos papéis que pagam a
variação do câmbio em determinado período. Em troca, o
BC recebe juros. No entanto, de
novo, foi efetivamente negociado um volume inferior ao ofertado pelo BC: US$ 1,359 bilhão,
contra US$ 2,3 bilhões.
Segundo a Folha apurou,
muitos bancos estão pedindo
taxas altas demais pelos contratos e acabam não os adquirindo porque o BC não concorda em vender nas suas condições. Essa estratégia limita o
sucesso da intervenção. Assim,
as instituições financeiras esperam forçar o BC a vender
moeda no mercado à vista.
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