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Para Alpargatas, "não dá para ter a menor idéia sobre o dólar"
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem sentir o efeito da crise
na vida real, ao menos por enquanto, a Alpargatas vai vender
180 milhões de pares de Havaianas em 2008 no mundo.
Nas projeções para o próximo
ano, no entanto, as certezas são
menores. "Tentar acertar o
crescimento do PIB de 2009 já
é meio chute, mas sobre o dólar
não tenho a menor idéia", diz
Márcio Utsch, presidente da
Alpargatas, que participou ontem do seminário MaxiMídia.
FOLHA - A Alpargatas já sentiu os
efeitos da crise no consumo?
MÁRCIO UTSCH - O consumo não
foi afetado nem no Brasil nem
lá fora, pelo menos até agora. A
Alpargatas mantém o ritmo.
FOLHA - E em relação ao crédito?
UTSCH - Não tínhamos nenhum tipo de solicitação de financiamento ou ACCs [Antecipação de Contrato de Câmbio,
mecanismo usado por exportadores]. Temos um hedge forte e
natural porque importações e
exportações são equivalentes.
Nosso balanço estruturado e
conservador nos ajudará a enfrentar a turbulência.
FOLHA - A Alpargatas perdeu 36%
de seu valor nos últimos dois meses.
O que aconteceu?
UTSCH - A Bolsa vive o movimento de manada, de sobe-e-desce irracional, impulsionada
por boatos e não por fatos. As
crises levam tempo para ir decantando. Alguma coisa se perde, mas a Bolsa se acalmará. Daí
para a frente, a pergunta que fica é sobre os reflexos na economia em dois ou três anos, em
razão das perdas havidas agora.
Como fica? Não sei responder.
FOLHA - A empresa está refazendo
planos em razão de expectativas
menores de crescimento?
UTSCH - Estamos trabalhando
com crescimento do PIB de
3,5% a 4,5%, baixando um pouco a previsão inicial, mas sobre
o dólar não tenho idéia. O [incremento do] PIB já é meio
chute, mas do dólar não dá para
ter a menor noção, com a moeda variando 7% no mesmo dia.
Como temos capacidade de
ampliação da produção, não temos necessidade de investimento em ativos fixos imediatos. Investimos R$ 140 milhões
de 2006 a 2008, as fábricas estão atualizadas e com capacidade de produção.
FOLHA - A Alpargatas está mantendo investimentos?
UTSCH - Nosso investimento
no ano que vem será em marketing e ficará entre 11% e 13% do
faturamento. Desse investimento não abrimos mão porque é nosso seguro contra a crise: investir em fortalecer as
marcas. Tirar o pé do acelerador numa hora dessas é deixar
o curto prazo exercer influência grande no valor da marca, e
isso não podemos permitir.
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