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Pacote está descartado, insiste Lula
Crise financeira global vai perdurar por "muitas semanas", diz presidente
Lula sugere discussão em âmbito internacional para fixar regras contra "cassino internacional" e critica a ausência do FMI na crise
PEDRO SOARES
ENVIADO ESPECIAL A ANGRA DOS REIS
Apesar de alertar sobre que a
crise financeira global ainda vai
perdurar por "muitas semanas" e afetar a Bolsa brasileira,
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva afastou ontem a possibilidade de lançamento de um
pacote econômico no Brasil e
sugeriu ainda uma discussão
em âmbito internacional para a
elaboração de regras para "coibir a especulação financeira".
Em discurso para cerca de
3.000 petroleiros no batismo
da plataforma da Petrobras P-51, em Angra do Reis (sul fluminense), Lula disse três vezes
que não haverá pacote e que as
medidas virão sempre em reação aos acontecimentos.
"Quero dizer a vocês que, toda vez que se falou em pacote
econômico neste país, quem ficou com o prejuízo foi o trabalhador brasileiro. Então, não
tem pacote. Vamos tomando
medida a medida."
O presidente voltou a dizer
que o Brasil não será afetado
seriamente pela crise: "Digo e
insisto: se chegar, chega mais
leve". Mas advertiu que o mundo viverá um período longo de
grande turbulência. "Eu queria
que vocês tivessem em conta:
durante muitas semanas, ainda
vai se falar em crise no mundo,
no país. A Bolsa vai subir e vai
descer. Não se abalem", disse.
Para Lula, a gênese da crise
está na "especulação financeira
que começou nos EUA" -"e, na
hora em que a porca entorta o
rabo, sobra para nós".
"Quando a gente estava comendo o pão que o diabo amassou aqui, ninguém ajudou a
gente. Agora que a gente está
comendo um pãozinho com
mortadela, não queremos voltar a comer o pão que o diabo
amassou", afirmou.
Ele sugeriu que novas regras
sejam estabelecidas para coibir
o que que classificou de "cassino internacional". Com viagem
marcada para os EUA, Guido
Mantega (Fazenda) e Henrique
Meirelles (BC) serão os portadores das sugestões.
Entre as providências a serem tomadas, Lula listou, em
entrevista, a redução dos níveis
de alavancagem dos bancos e a
restrição ao pagamento de bônus por desempenho a executivos do mercado financeiro.
"Aqui no Brasil, um banco de
investimento pode alavancar
no máximo dez vezes o patrimônio líquido. Nos EUA, chega
a 35. Temos que acabar ainda
com essa maldita figura do bônus no mercado financeiro. Ficam agiotas profissionais inventando ganhos para receber
mais bônus."
Lula cobrou ainda uma posição do FMI sobre a crise. "É
uma crise profunda. E ela está
chegando à Europa porque
também os bancos europeus
participavam do cassino imobiliário dos EUA. Agora, quando
era o Brasil que tinha problemas, todo dia tinha banco dando palpite. Toda a semana dizia
uma equipe do FMI: faz isso,
faz aquilo. E o coitado do Brasil
quebrava. Cadê os palpites que
eles estão dando agora na crise
americana? Cadê o FMI?"
Para criticar indiretamente a
oposição, Lula tomou como
exemplo a construção da P-51
no Brasil, que no governo FHC
seria feita no exterior, mas cuja
licitação foi cancelada a pedido
da equipe de transição do PT
para que a obra ficasse no país.
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