São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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Pacote está descartado, insiste Lula

Crise financeira global vai perdurar por "muitas semanas", diz presidente

Lula sugere discussão em âmbito internacional para fixar regras contra "cassino internacional" e critica a ausência do FMI na crise


PEDRO SOARES
ENVIADO ESPECIAL A ANGRA DOS REIS

Apesar de alertar sobre que a crise financeira global ainda vai perdurar por "muitas semanas" e afetar a Bolsa brasileira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afastou ontem a possibilidade de lançamento de um pacote econômico no Brasil e sugeriu ainda uma discussão em âmbito internacional para a elaboração de regras para "coibir a especulação financeira".
Em discurso para cerca de 3.000 petroleiros no batismo da plataforma da Petrobras P-51, em Angra do Reis (sul fluminense), Lula disse três vezes que não haverá pacote e que as medidas virão sempre em reação aos acontecimentos.
"Quero dizer a vocês que, toda vez que se falou em pacote econômico neste país, quem ficou com o prejuízo foi o trabalhador brasileiro. Então, não tem pacote. Vamos tomando medida a medida."
O presidente voltou a dizer que o Brasil não será afetado seriamente pela crise: "Digo e insisto: se chegar, chega mais leve". Mas advertiu que o mundo viverá um período longo de grande turbulência. "Eu queria que vocês tivessem em conta: durante muitas semanas, ainda vai se falar em crise no mundo, no país. A Bolsa vai subir e vai descer. Não se abalem", disse.
Para Lula, a gênese da crise está na "especulação financeira que começou nos EUA" -"e, na hora em que a porca entorta o rabo, sobra para nós".
"Quando a gente estava comendo o pão que o diabo amassou aqui, ninguém ajudou a gente. Agora que a gente está comendo um pãozinho com mortadela, não queremos voltar a comer o pão que o diabo amassou", afirmou.
Ele sugeriu que novas regras sejam estabelecidas para coibir o que que classificou de "cassino internacional". Com viagem marcada para os EUA, Guido Mantega (Fazenda) e Henrique Meirelles (BC) serão os portadores das sugestões.
Entre as providências a serem tomadas, Lula listou, em entrevista, a redução dos níveis de alavancagem dos bancos e a restrição ao pagamento de bônus por desempenho a executivos do mercado financeiro.
"Aqui no Brasil, um banco de investimento pode alavancar no máximo dez vezes o patrimônio líquido. Nos EUA, chega a 35. Temos que acabar ainda com essa maldita figura do bônus no mercado financeiro. Ficam agiotas profissionais inventando ganhos para receber mais bônus."
Lula cobrou ainda uma posição do FMI sobre a crise. "É uma crise profunda. E ela está chegando à Europa porque também os bancos europeus participavam do cassino imobiliário dos EUA. Agora, quando era o Brasil que tinha problemas, todo dia tinha banco dando palpite. Toda a semana dizia uma equipe do FMI: faz isso, faz aquilo. E o coitado do Brasil quebrava. Cadê os palpites que eles estão dando agora na crise americana? Cadê o FMI?"
Para criticar indiretamente a oposição, Lula tomou como exemplo a construção da P-51 no Brasil, que no governo FHC seria feita no exterior, mas cuja licitação foi cancelada a pedido da equipe de transição do PT para que a obra ficasse no país.


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