|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Queda na arrecadação adia a desoneração de fundos e títulos
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A queda na arrecadação está
obrigando o governo a adiar
medidas de desoneração dos
fundos de investimentos e títulos públicos sendo preparadas
pelo Ministério da Fazenda.
O aquecimento no mercado
de títulos e ações nos últimos
meses levou o governo a reexaminar as medidas para melhorar as condições de negociação
e competição dos títulos do governo e estimular novas operações no mercado financeiro.
A principal medida em estudo é a mudança na tributação
dos fundos de investimentos. A
regra prevê que o imposto sobre o rendimento da aplicação
seja pago no momento do resgate das cotas. Mas, se um investidor deixar o dinheiro no
fundo por mais de seis meses
sem nenhum saque, também
será obrigado a pagar o Imposto de Renda de até 20% duas
vezes no ano.
Na prática, esse recolhimento reduz o valor das cotas do
fundo, por isso é conhecido como "come-cotas". A intenção
do governo é fazer a tributação
de quem não realizar saques
apenas uma vez no ano. Essa alteração não traria perdas de receita, mas faria com que o governo deixasse de receber cerca
de R$ 3 bilhões em maio e concentrasse uma arrecadação de
R$ 6 bilhões no fim do ano.
A assessoria de imprensa da
Fazenda confirmou que os estudos estão sendo feitos, mas
informou que "não existe espaço fiscal neste ano" para a implementação.
A lista de desonerações inclui
também o fim da cobrança do
IOF na venda de títulos públicos em prazo inferior a um mês
após a compra e alterações na
tributação de papéis do governo que pagam juros semestralmente, o chamado cupom. Juntas, as duas medidas implicam
perdas de R$ 1 bilhão ao ano.
"Essas mudanças fazem diferença para grandes investidores e poderiam dar mais liquidez [aumentar as transações]
para esse mercado de títulos
públicos", diz o analista de investimentos Celso Costa, da
Corretora Souza Barros.
O IOF sobre títulos públicos
chega a 0,96% e decresce com o
passar do tempo. Depois de 30
dias, não há cobrança do tributo. A primeira avaliação feita
pelo governo era que a perda de
arrecadação seria pequena.
Mas um estudo da Receita Federal mostrou que, com o fim
da CPMF, o mercado financeiro passou a negociar os papéis
dias antes do prazo de 30 dias,
quando o IOF já está bem baixo. Por isso a arrecadação nessas operações é estimada em
R$ 600 milhões por ano.
Outros R$ 400 milhões seriam perdidos com a mudança
na tributação dos títulos que
pagam juros aos investidores
semestralmente, o chamado
cupom. Hoje, quando esses papéis são vendidos antes do pagamento do cupom, o investidor tem que pagar o Imposto de
Renda sobre o rendimento do
período em que ficou com o título.
No entanto, no momento em
que o governo faz o pagamento
semestral dos juros ao novo dono do papel, o recolhimento do
imposto é feito considerando
todo o rendimento, não apenas
aquele acumulado desde a venda. Dessa forma, o governo cobra o tributo duas vezes.
Texto Anterior: Sem caixa, governo segura restituições Próximo Texto: Stephen Roach: Crise causa memória curta Índice
|