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TV digital decepciona as universidades
Instituições se queixam de descontinuidade de programas e da burocracia para liberar recursos para as pesquisas
Acadêmicos esperavam que introdução da tecnologia trouxesse mais recursos para pesquisa na área; governo diz que há verba
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Depois da euforia inicial do
meio acadêmico com a decisão
do governo de implantar a televisão digital com inovações tecnológicas desenvolvidas no
país, as universidades se decepcionaram com o atraso na liberação de recursos federais para
custeio das pesquisas.
O Instituto Mackenzie, de
São Paulo, aguarda há 16 meses
a assinatura de um contrato de
R$ 1 milhão com a Finep (Financiadora Projetos e Pesquisas, do Ministério da Ciência e
Tecnologia) para construir a
Estação Experimental da Televisão Digital, que medirá a qualidade de recepção dos sinais da
TV digital transmitidos pelas
emissoras.
A Finep disse que o contrato
está em vias de ser assinado.
A estação deveria ter sido implantada antes do lançamento
da televisão digital (ocorrida no
último domingo, em São Paulo), o que não foi possível por
falta de verba.
Segundo o coordenador do
projeto, Gunnar Bendicks, professor da Escola de Engenharia
da Universidade Mackenzie,
uma das funções da estação será informar à população as
áreas em que os sinais não funcionam. ""As emissoras fazem a
medição, mas não têm interesse em divulgá-las", diz ele.
A mais famosa contribuição
da academia para a televisão digital, o software da interatividade, chamado de Ginga, teve
as pesquisas custeadas pela
PUC do Rio de Janeiro por vários anos. O projeto tem a participação da Universidade Federal da Paraíba.
Um dos criadores do Ginga,
Luiz Fernando Gomes Soares,
da PUC do Rio, diz que a descontinuidade dos programas
leva à desarticulação das equipes de pesquisadores. Ele disse
que o projeto também sofreu
atrasos nos repasses da Finep.
Por isso o andamento das
pesquisas também atrasa. O
Inatel (Instituto Nacional de
Telecomunicações), de Santa
Rita do Sapucaí (MG), assinou
um convênio, de R$ 7 milhões
com a Finep há cinco anos para
desenvolver o laboratório de
homologação dos sistemas de
TV digital.
Segundo o presidente da
Fundação Inatel, Adonias Costa, o projeto era de três anos,
mas o prazo vem sendo adiado,
por falta de verba. Ainda está
pendente uma parcela de R$
630 mil. A Finep alega que o
Ministério das Comunicações
não repassou o dinheiro.
Em 2004, o governo mobilizou as universidades para apresentar soluções tecnológicas
para o sistema brasileiro de televisão digital. Foram formados 21 consórcios. As universidades dizem que quando essa
etapa terminou, em 2005, faltou uma ação do governo para
dar continuidade às pesquisas.
Ano da desarticulação
O ano de 2006, em que o governo fez a escolha pelo padrão
japonês, é considerado como o
da desarticulação dos projetos
na área acadêmica.
As discussões passaram ao
âmbito do fórum da TV digital,
no qual indústrias e radiodifusores têm maior peso de votos,
e cada universidade passou a
agir isoladamente para tentar
aprovar projetos na Finep.
O professor Marcelo Zuffo,
do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da
Escola Politécnica da USP, que
havia coordenado o consórcio
de discussão sobre o terminal
de acesso, apresentou à Finep
projeto para desenvolvimento
da caixa conversora (set top
box) em janeiro de 2006.
A USP esperou uma resposta
da Finep até outubro deste ano,
quando foi comunicada da recusa do pedido.
"Foi um processo muito desgastante. A discussão da TV digital acabou politizada, e nosso
papel é científico. Não recorremos da decisão da Finep, porque a TV digital já foi lançada, e
inovação tecnológica exige "timing" ", afirma Marcelo Zuffo
Ele diz que a USP continua as
pesquisas do conversor, com
recursos próprios, e que deve
anunciar uma novidade nessa
área em breve.
O conversor é o "calcanhar
de Aquiles" da TV digital, pelo
seu alto preço. O equipamento
chegou ao mercado com preços
entre R$ 499 e R$ 1.100, e o próprio governo pediu que os consumidores não o comprem antes que o preço caia.
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