Não adianta ignorar o tema, varrê-lo para debaixo do tapete: o bingo é uma praga social das mais nocivas ao país -além das suspeitas de vários níveis de autoridades de que sua exploração está ligada à contravenção e de que ocorre manipulação ampla e irrestrita nas máquinas utilizadas.
O problema é real, está sendo levantado por bravos procuradores, em vários Estados, foi levantado pela CPI do Futebol e diz respeito à moral e à saúde pública em todos os níveis. Os deputados que defendem a prorrogação das licenças, os juízes que autorizam a reabertura de bingos fechados não podem alegar ignorância em relação aos seus malefícios, assim como em relação às suspeitas que cercam a atividade.
Chegou a hora de deixar de lado a comodidade e encarar o tema. Em muitos anos de profissão, não me lembro de ter abordado um tema que provoque tamanha comoção entre as vítimas e tamanha alienação na mídia.
Assim como ontem, a palavra é dada aos leitores:
De Antonio Carlos Ozório Nunes, 7º Promotor de Justiça de Taubaté:
"Sou promotor de Justiça em Taubaté e faço parte do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado do Vale do Paraíba. Temos uma longa, difícil e cansativa luta no combate ao crime organizado e à máfia dos bingos. Os casos que o senhor mencionou retratam os dramas diários de várias pessoas, muitas delas simples, que adquirem o vício chamado "jogo patológico", que atinge boa parte da nossa já tão sofrida população. O pior é que os sorteios são fraudulentos e as máquinas são programáveis e estão sempre preparadas para fraudar. Já fizemos várias apreensões e todas elas mostram as fraudes. Já fizemos várias investigações e por trás das máquinas e dos bingos estão diversos crimes, tais como corrupção policial, estelionatos, crimes contra a economia popular, fraudes em geral e de dinheiro. O maior problema que enfrentamos é que a máfia dos bingos é muito forte e organizada, muitos em sindicatos de duvidosa legalidade. Somente o poder público não tem conseguido derrotar esses milionários esquemas mafiosos. A ajuda de pessoas como o senhor é fundamental".
De Camilo, São Paulo:
"As máquinas caça-níqueis e agora caça-notas estão em quase todos os bares e padarias de São Paulo. É incrível como as pessoas em dez minutos perdem às vezes todo seu vale ou salário em maquinas viciadas. Essas máquinas estão programadas para retornar apenas 20% do que foi arrecadado. Quem será que lucra com elas?"
De Ítalo Morelli, juiz de direito de Botucatu:
"Parabéns por abordar tão relevante tema. Chamou-me a atenção e por aqui, na minha comarca, deflagrarei um movimento nesse sentido. Verificarei como estão os caça-níqueis e eventuais bingos por aqui! Tomaremos providências! Em breve, comunicarei os resultados. Mais uma vez, muito -mas muito- obrigado por ter chamado a nossa atenção para problema social tão grave."
De Cícero Antonio Sanches, de Campinas:
"É realmente estranha, no mínimo, a ausência de pessoas da mídia que se propõem a abordar o problema social dos bingos -não apenas o prejuízo material e moral desse nefasto vício, mas a falta de fiscalização sanitária desses locais de jogos, que não obedecem a mínima condição de higiene e saúde."
De M.A.P., de Ribeirão Preto:
"Quero somar no time que pede o fechamento de todos os bingos em nosso país. Meu pai tem compulsividade para jogar e vem destruindo nossa família, apostando em bingos o dinheiro que tem e o que não tem, criando dívidas para saldar dívidas de jogo. Existem estudos sérios que mostram a desgraça que bingos e cassinos causam nas comunidades onde estão. É falso o argumento de que geram emprego etc. Os estragos que causam são muito maiores."
De Luiz Carlos, São Paulo:
"Sou um jogador compulsivo em tratamento. Mesmo sabendo que não será com o fechamento dos bingos que vou me recuperar, com certeza muitos deixarão de conhecer essa compulsão chamada jogo, que vem destruindo muitos lares. Muito obrigado, muito obrigado mesmo."

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