São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003

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CONCORRÊNCIA

Empresas que distribuíam produtos Antarctica assinaram acordo de venda por até um terço de seu valor

AmBev negocia revendas e paga pouco

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A AmBev, maior empresa de cervejas do país -dona de quase 70% do mercado-, entrou na reta final do acordo para a venda de sua rede de distribuição de bebidas. Para isso, colocou dinheiro do próprio bolso -chegou a pagar aos donos desse serviço pouco mais de um terço do valor patrimonial do negócio.
Em março de 2002 a empresa fechou um acordo com as companhias que fazem a distribuição da marca Antarctica no Brasil. A idéia era indicar um comprador -chamado de incorporador- para adquirir os negócios das distribuidoras ou, em último caso, ela mesma comprar a operação.
Tudo foi acertado em um "Instrumento de Transação" assinado entre as partes.
Segundo a Folha apurou, em parte dos casos, a AmBev ajudou interessados a comprar o negócio.
A ajuda foi dada com a compra dos ativos da distribuidora (luminosos, vasilhames, entre outros) e o repasse ao novo dono. No balanço financeiro, a operação entra como "ativo depreciado". O novo dono fica com débito a ser quitado com a companhia. A ação, que é legal, é negada pela empresa.
Essa operação de troca de distribuidores foi, de certa forma, reflexo de um movimento anterior.
Após a fusão entre Brahma e Antarctica, a AmBev iniciou processo de venda direta das bebidas ao varejo. As distribuidoras se revoltaram e acusaram a AmBev de prática ilegal, já que a ação feria o contrato firmado entre as partes. Como foram perdendo entregas, as revendas reduziram a atuação e os ganhos murcharam. A venda do serviço para um outro interessado acabou virando a saída.
"O problema é que, com a venda direta, a AmBev passou a entregar na nossa área, por preços menores, a mesma bebida que já distribuíamos. Além disso, os gastos com propaganda foram pesando. Muitas revendas quebraram e não nos restou nada a não ser vender o negócio", diz Adauto Junqueira, da Latuf Distribuidora.
A operação de venda foi firmada com 41 distribuidores da Antarctica e a AmBev em março de 2002. As empresas concordaram em abrir mão da distribuição, repassando o serviço a terceiros. Em troca, não processariam a cervejaria na Justiça.
Até o final de janeiro, 35 distribuidoras, entre as 41, terão assinado o contrato de venda dos serviços para outras empresas ou para a AmBev, pelas contas da Abradisa, que representa as distribuidoras. A AmBev fala em 22 contratos já assinados desde o ano passado.
Essa negociação será informada à Justiça. No dia 24, as distribuidoras repassam à SDE (Secretaria de Direito Econômico) dados sobre como estão os acordos com a cervejaria. A SDE abriu em 2002 processo para apurar a "ocorrência de condutas infringentes à ordem econômica" pela AmBev.
Pelos depoimentos das distribuidoras colhidos pela Folha, as revendas devem dizer que negociaram a venda por muito menos do que o negócio vale.
Uma distribuidora carioca foi vendida por R$ 11 milhões em meados de 2001 e os donos pediam R$ 30 milhões, apurou a Folha. A Lapa Distribuidora (que não entrou no acordo das 41 empresas) vale R$ 76 milhões, segundo perícia de técnicos da Justiça num processo da Lapa contra a AmBev. A cervejaria dizia que o patrimônio era de R$ 3,3 milhões.
Detalhe: o valor do negócio pago para as distribuidoras é determinado por um "simulador" -máquina da própria AmBev que define quanto vale a revenda.


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