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CONCORRÊNCIA
Empresas que distribuíam produtos Antarctica assinaram acordo de venda por até um terço de seu valor
AmBev negocia revendas e paga pouco
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A AmBev, maior empresa de
cervejas do país -dona de quase
70% do mercado-, entrou na reta final do acordo para a venda de
sua rede de distribuição de bebidas. Para isso, colocou dinheiro
do próprio bolso -chegou a pagar aos donos desse serviço pouco
mais de um terço do valor patrimonial do negócio.
Em março de 2002 a empresa fechou um acordo com as companhias que fazem a distribuição da
marca Antarctica no Brasil. A
idéia era indicar um comprador
-chamado de incorporador-
para adquirir os negócios das distribuidoras ou, em último caso,
ela mesma comprar a operação.
Tudo foi acertado em um "Instrumento de Transação" assinado
entre as partes.
Segundo a Folha apurou, em
parte dos casos, a AmBev ajudou
interessados a comprar o negócio.
A ajuda foi dada com a compra
dos ativos da distribuidora (luminosos, vasilhames, entre outros) e
o repasse ao novo dono. No balanço financeiro, a operação entra
como "ativo depreciado". O novo
dono fica com débito a ser quitado com a companhia. A ação, que
é legal, é negada pela empresa.
Essa operação de troca de distribuidores foi, de certa forma, reflexo de um movimento anterior.
Após a fusão entre Brahma e
Antarctica, a AmBev iniciou processo de venda direta das bebidas
ao varejo. As distribuidoras se revoltaram e acusaram a AmBev de
prática ilegal, já que a ação feria o
contrato firmado entre as partes.
Como foram perdendo entregas,
as revendas reduziram a atuação e
os ganhos murcharam. A venda
do serviço para um outro interessado acabou virando a saída.
"O problema é que, com a venda direta, a AmBev passou a entregar na nossa área, por preços
menores, a mesma bebida que já
distribuíamos. Além disso, os gastos com propaganda foram pesando. Muitas revendas quebraram e não nos restou nada a não
ser vender o negócio", diz Adauto
Junqueira, da Latuf Distribuidora.
A operação de venda foi firmada com 41 distribuidores da Antarctica e a AmBev em março de
2002. As empresas concordaram
em abrir mão da distribuição, repassando o serviço a terceiros.
Em troca, não processariam a cervejaria na Justiça.
Até o final de janeiro, 35 distribuidoras, entre as 41, terão assinado o contrato de venda dos serviços para outras empresas ou para
a AmBev, pelas contas da Abradisa, que representa as distribuidoras. A AmBev fala em 22 contratos
já assinados desde o ano passado.
Essa negociação será informada
à Justiça. No dia 24, as distribuidoras repassam à SDE (Secretaria
de Direito Econômico) dados sobre como estão os acordos com a
cervejaria. A SDE abriu em 2002
processo para apurar a "ocorrência de condutas infringentes à ordem econômica" pela AmBev.
Pelos depoimentos das distribuidoras colhidos pela Folha, as
revendas devem dizer que negociaram a venda por muito menos
do que o negócio vale.
Uma distribuidora carioca foi
vendida por R$ 11 milhões em
meados de 2001 e os donos pediam R$ 30 milhões, apurou a Folha. A Lapa Distribuidora (que
não entrou no acordo das 41 empresas) vale R$ 76 milhões, segundo perícia de técnicos da Justiça
num processo da Lapa contra a
AmBev. A cervejaria dizia que o
patrimônio era de R$ 3,3 milhões.
Detalhe: o valor do negócio pago para as distribuidoras é determinado por um "simulador"
-máquina da própria AmBev
que define quanto vale a revenda.
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