São Paulo, quarta-feira, 09 de janeiro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Zunzum sobre poupar energia

Governo toma susto e pensa em campanha para reduzir gasto de luz; racionamento tende a ocorrer só para gás

HÁ UM ZUNZUM no governo a respeito da conveniência de iniciar "campanhas educativas de poupança de eletricidade". O zunzum ficou mais forte desde a semana passada, quando repercutiu fora da área técnica de energia a notícia de que dezembro foi mês ruim de chuvas -não aumentou como esperado o "estoque" de água/energia nos reservatórios das hidrelétricas.
Um integrante do governo federal chegou a usar a expressão "racionalização do consumo" em conversa com esta Folha. "Racionalização" pode significar qualquer coisa, de excesso de zelo a corte de luz, mas sempre pega mal. Era a palavra que, em março de 2001, o governo FHC utilizava para desconversar que o apagão, o racionamento, viria dali a uns dois, três meses.
Para o integrante do governo, a hipótese de racionamento é "exagero, delírio e catastrofismo", que é impossível um racionamento neste ano. "Neste ano"? E nos outros também, completa o técnico oficial, pois a oferta de gás começaria a ficar normal a partir de "maio, junho", e as obras das hidrelétricas que dariam conta do consumo "já estão contratadas". É preciso gás para mover termelétricas, às quais se recorre a fim de poupar água das hidrelétricas em períodos secos.
O problema é que a Petrobras não apresentou cronograma preciso de oferta adicional de gás além daqueles vagamente pintados de rosa, de meados de 2007, antes da falta de gás de outubro passado.
De fato, é preciso muito azar para faltar eletricidade, no que concordam até empresas de energia e grandes consumidores. O período de chuva no Sudeste vai até março -em dias, o presente paniquito pode se dissolver numa série de chuvaradas. Se faltar água mesmo, há mais alternativas de remendar a escassez de eletricidade do que em 2001. O que pode rarear é o gás.
No final do mês, o nível médio d'água nos reservatórios do Sudeste teria de marcar 53%, o nível crítico, o mínimo de segurança. Estamos com 44,5%. O nível mínimo de segurança está subindo e o "estoque" real d'água está caindo. Quando essas duas "curvas" do gráfico se aproximam, é preciso usar mais térmicas e menos hidrelétricas.
Quanto mais térmicas em uso, mais gás se consome. Se não chover, falta gás para indústrias (no interior paulista, no Rio e em siderúrgicas, por exemplo) e carros. Isso pode acontecer no final do mês, pois, mesmo que chova por agora, a água leva um tempo para chegar aos reservatórios, de uma a duas semanas, dizem especialistas.
Ruim é que, aparentemente, as térmicas já estão a quase plena carga. O novo modelo de planejamento energético, de Lula, não parece ruim, mas sua execução foi inepta e lerda no caso do gás (na verdade, houve descaso mesmo) e muito lerda no caso da eletricidade. Foi no tropeço de outubro que começaram a ser tomadas medidas práticas para racionar o gás e oferecer outros combustíveis para as indústrias que ficarão sem o produto.
Enfim, trata-se de problema que brotou faz 20 anos e que vinha sendo tratado como questão mais ou menos periférica por todos os governos do período. E não é um rolo que vá se resolver mesmo antes do final do próximo governo. vinit@uol.com.br

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