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VINICIUS TORRES FREIRE
Zunzum sobre poupar energia
Governo toma susto e pensa
em campanha para reduzir
gasto de luz; racionamento
tende a ocorrer só para gás
HÁ UM ZUNZUM no governo a
respeito da conveniência de
iniciar "campanhas educativas de poupança de eletricidade". O
zunzum ficou mais forte desde a semana passada, quando repercutiu
fora da área técnica de energia a notícia de que dezembro foi mês ruim
de chuvas -não aumentou como esperado o "estoque" de água/energia
nos reservatórios das hidrelétricas.
Um integrante do governo federal
chegou a usar a expressão "racionalização do consumo" em conversa
com esta Folha. "Racionalização"
pode significar qualquer coisa, de
excesso de zelo a corte de luz, mas
sempre pega mal. Era a palavra
que, em março de 2001, o governo
FHC utilizava para desconversar
que o apagão, o racionamento, viria
dali a uns dois, três meses.
Para o integrante do governo, a
hipótese de racionamento é "exagero, delírio e catastrofismo", que é
impossível um racionamento neste
ano. "Neste ano"? E nos outros
também, completa o técnico oficial, pois a oferta de gás começaria
a ficar normal a partir de "maio, junho", e as obras das hidrelétricas
que dariam conta do consumo "já
estão contratadas". É preciso gás
para mover termelétricas, às quais
se recorre a fim de poupar água das
hidrelétricas em períodos secos.
O problema é que a Petrobras
não apresentou cronograma preciso de oferta adicional de gás além
daqueles vagamente pintados de
rosa, de meados de 2007, antes da
falta de gás de outubro passado.
De fato, é preciso muito azar para faltar eletricidade, no que concordam até empresas de energia e
grandes consumidores. O período
de chuva no Sudeste vai até março
-em dias, o presente paniquito pode se dissolver numa série de chuvaradas. Se faltar água mesmo, há
mais alternativas de remendar a
escassez de eletricidade do que em
2001. O que pode rarear é o gás.
No final do mês, o nível médio
d'água nos reservatórios do Sudeste teria de marcar 53%, o nível crítico, o mínimo de segurança. Estamos com 44,5%. O nível mínimo de
segurança está subindo e o "estoque" real d'água está caindo. Quando essas duas "curvas" do gráfico se
aproximam, é preciso usar mais
térmicas e menos hidrelétricas.
Quanto mais térmicas em uso,
mais gás se consome. Se não chover, falta gás para indústrias (no interior paulista, no Rio e em siderúrgicas, por exemplo) e carros. Isso pode acontecer no final do mês,
pois, mesmo que chova por agora, a
água leva um tempo para chegar
aos reservatórios, de uma a duas
semanas, dizem especialistas.
Ruim é que, aparentemente, as térmicas já estão a quase plena carga.
O novo modelo de planejamento
energético, de Lula, não parece
ruim, mas sua execução foi inepta e
lerda no caso do gás (na verdade,
houve descaso mesmo) e muito
lerda no caso da eletricidade. Foi
no tropeço de outubro que começaram a ser tomadas medidas práticas para racionar o gás e oferecer
outros combustíveis para as indústrias que ficarão sem o produto.
Enfim, trata-se de problema que
brotou faz 20 anos e que vinha sendo tratado como questão mais ou
menos periférica por todos os governos do período. E não é um rolo
que vá se resolver mesmo antes do
final do próximo governo.
vinit@uol.com.br
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