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Empresas atacam taxação de importados
Medida provisória cria alíquota para mais de dez categorias de produtos, que vão de bebidas e têxteis a aparelhos de hemodiálise
Importadores de vinho afirmam que item ficará "invendável"; medida também abre divergências dentro do próprio governo
IURI DANTAS
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou uma medida
provisória instituindo no país
medidas de comércio vistas como protecionistas por importadores e setores do próprio governo e que são criticadas há
anos pelo Brasil no cenário internacional e nas negociações
comerciais da OMC (Organização Mundial do Comércio).
A mudança unilateral também representa, na visão dos
críticos, um golpe no Mercosul,
como bloco aduaneiro. Fornecedores argentinos de empresas brasileiras se perguntam se
a mudança resulta em quebra
de contratos.
O governo não soube elucidar ontem se a nova sistemática representa uma mudança na
política externa brasileira ou
apenas um erro técnico cometido pela Receita Federal na
elaboração do texto da medida
provisória número 413, publicada numa edição extra do
"Diário Oficial" da União na
quinta-feira passada -um
"contrabando" no pacote de
medidas para compensar a perda da CPMF.
O texto institui a aplicação de
uma alíquota específica de R$
10 sobre mais de dez categorias
de produtos, segundo uma interpretação ouvida pela Folha.
Sob outra ótica, também coletada pela reportagem, a taxa
variaria de R$ 1 a R$ 10.
Esse valor seria cobrado de
cada "unidade de medida estatística", mas não há clareza sobre o que seria isso e como aplicar a questão na prática. A própria medida provisória afirma
que a sistemática só valerá depois de ser regulamentada, o
que aumentou a insegurança
de importadores ouvidos pela
Folha.
"É terrível, vai matar o setor,
80% a 90% das empresas vão
sair do mercado. Vinho de 2
pode sair por R$ 50 na gôndola.
O produto vai ser invendável.
Há muita dúvida, é uma grande
questão que o Brasil vai enfrentar", disse Raquel Salgado, presidente-executiva da ABBA
(Associação Brasileira de Exportadores e Importadores de
Bebidas).
A medida provisória provocou queixas do chanceler Celso
Amorim a Lula na sexta-feira
passada e reações negativas do
Ministério do Desenvolvimento nos bastidores.
A assessoria do Itamaraty
chegou a divulgar que o tal artigo foi incluído na MP porque a
Receita se preocupava com
"subfaturamento" das importações. Depois da perda de arrecadação da CPMF, a interpretação era a de que a Receita
planejava arrecadar mais com
essa medida.
Já a Receita nega. "Essa medida nunca teve finalidade arrecadatória, e sim regulatória.
Visa-se um controle efetivo de
comércio exterior", contestou
o secretário em exercício Carlos Alberto Barreto. Ele disse
que a Receita não chegou a fazer um levantamento de quanto a norma poderia gerar em
arrecadação.
Ontem, Amorim discutiu a
nova medida com os ministros
em exercício Ivan Ramalho
(Desenvolvimento) e Nelson
Machado (Fazenda), mas o
conteúdo da discussão não foi
divulgado, o que também gerou
críticas de empresários. O governo federal acena que o tema
será resolvido em fevereiro pela Camex (Câmara de Comércio Exterior).
"Enquanto isso, deixam-nos
60 dias com uma espada em cima da cabeça. Isso não é política adequada. Todo mundo está
com pé atrás, quem ia fazer negócio não faz", disse Cláudio
Marques, secretário-executivo
da Abimed (Associação Brasileira de Importadores de Equipamentos, Produtos e Suprimentos Médico-Hospitalares).
A medida provisória de Lula
afeta 13% das importações brasileiras, ou R$ 14,7 bilhões. Inclui bebidas, plásticos, borrachas, têxteis e confecções, calçados, ferramentas, aparelhos
médicos, relojoaria, móveis e
outros. Segundo Marques, da
Abimed, também inclui preservativos, luvas de borracha, aparelhos de raios-X, aparelhos de
hemodiálise, microscópios.
Se mantiver a aplicação de
alíquota específica para unidade de produto, o Brasil irá contra acordo firmado com a OMC
sobre tarifas máximas de 35%,
representará quebra de compromisso com o Mercosul e firmará posição prática contrária
ao que vem defendendo com o
G20, grupo de países em desenvolvimento que negociam
em conjunto a Rodada Doha de
comércio.
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