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COMÉRCIO GLOBAL
Brasil terá 3 ministros na reunião de Tóquio, a partir de sexta, que avaliará avanços da Rodada de Doha
Agricultura domina estréia de Lula na OMC
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O governo Lula estréia na próxima sexta-feira no grande palco do
comércio internacional, a OMC
(Organização Mundial do Comércio), mas defendendo as mesmas propostas e posições tradicionais da diplomacia brasileira.
A estréia dar-se-á na chamada
"miniministerial" de Tóquio,
uma reunião da OMC restrita a 25
dos 145 países que integram a organização que funciona como xerife do comércio internacional.
A reunião, diz o comunicado
oficial do governo japonês, vai rever os "progressos" nas negociações lançadas em Doha, em novembro de 2001, pela Conferência
Ministerial, a instância máxima
de decisões da OMC.
Como os progressos foram
poucos, na prática o encontro servirá para tentar desfazer nós e
permitir avanços suficientes para
que a nova Ministerial (Cancún,
no México, em setembro) não repita o estrepitoso fracasso da reunião de Seattle, há pouco mais de
três anos. "Lamentavelmente, é
assim que as coisas se encaminham", diz José Alfredo Graça Lima, embaixador do Brasil junto à
União Européia, um dos mais experientes negociadores brasileiros e testemunha privilegiada do
desastre de Seattle.
A agenda de Tóquio é aberta o
suficiente para abranger toda a
vasta pauta de negociações em
que o planeta está envolvido. Mas,
na prática, o assunto dominante
será agricultura.
Aliás, a intenção do governo japonês, ao fazer o convite para a
"miniministerial", era discutir
apenas agricultura, tanto que os
ministros da área foram convidados. Mas os demais países reagiram a uma limitação tão drástica e
a pauta ficou aberta.
O Brasil vai a Tóquio com três
ministros -Celso Amorim (Relações Exteriores), Luiz Fernando
Furlan (Desenvolvimento) e Roberto Rodrigues (Agricultura)-
e uma preocupação principal.
"Não existe discussão nem na
OMC nem nas negociações Mercosul/UE nem na Alca (Área de
Livre Comércio das Américas) se
agricultura não entrar", dispara
Roberto Rodrigues.
Reforça Peter Allgeier, o segundo homem do USTr (United States Trade Representative, uma espécie de ministério de comércio
exterior dos EUA): "O fato é que
não haverá desenlace significativo
[das negociações comerciais globais" se não houver desenlace significativo em agricultura".
Postas as coisas nesses termos,
volta-se à discussão que vem incendiando todas as negociações
comerciais desde a Rodada Uruguai (1986-1994), a etapa de liberalização comercial que antecedeu a agora chamada Rodada de
Desenvolvimento de Doha.
Os países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, supostamente os 29 mais industrializados
do mundo) subsidiam seus produtores agrícolas com uma pilha
de dinheiro que chega perto de
US$ 1 bilhão por dia.
O Brasil, entre outros produtores ultracompetitivos, quer derrubar o muro protecionista. O argumento "doutrinário", como diz o
ministro Rodrigues, é o seguinte:
"O lado negro da globalização é o
aumento da brecha socioeconômica, o que ameaça a paz e a democracia. Só há um instrumento
para começar a diminuir a brecha: os países ricos abrirem seus
mercados agrícolas para o mundo
em desenvolvimento".
Esse argumento é o mesmo que
foi utilizado à exaustão durante
todo o governo Fernando Henrique Cardoso. Não colou junto ao
mundo desenvolvido, tanto que
se mantém em debate.
Chegarão a Tóquio três propostas: a do grupo de Cairns (Brasil
mais 17 grandes produtores agrícolas), pela liberalização ampla do
setor; a dos EUA, que coincide
com a de Cairns; e a da UE, bem
mais modesta, com apoio de Japão e Coréia, entre outros.
Há, no entanto, um ponto de
aproximação: a Comissão Européia acaba de lançar uma proposta, ainda modesta, mas que, de todo modo, corta em 45% os subsídios à exportação -exatamente o
mecanismo mais criticado por
países como o Brasil. "É predatório e impede a entrada de nossos
produtos em terceiros mercados", diz o ministro Rodrigues.
O problema é que a proposta é
da comissão, o órgão executivo
do conglomerado de 15 países europeus. Para ser efetivamente implementada depende de aprovação do Conselho Europeu, o organismo de cúpula, composto pelos
chefes de governo dos 15. "Só faz
sentido começar a negociar se a
proposta for mesmo adotada",
diz o embaixador Graça Lima.
A reunião de Tóquio poderá
oferecer os primeiros sinais de
que ela será implementada, o que
começaria a desbloquear a até
agora estancada negociação de
Doha.
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