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COMÉRCIO GLOBAL
Diminui a participação brasileira nas transações, enquanto países como China e México conquistam espaço
País perde boom do mercado internacional
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil que comemora as exportações de aviões e se regozija
com o saldo comercial recorde do
ano passado é na verdade um dos
perdedores do comércio mundial
nas últimas duas décadas.
A participação das vendas externas brasileiras no comércio internacional definhou desde 1985,
quando elas chegaram a representar 1,3% do comércio mundial. Em 2001, último dado consolidado da série da OMC (Organização Mundial do Comércio), o
país teve de se contentar com menos de 1% -0,95%.
Desde 1999, o Brasil voltou a ganhar algum espaço no mercado
mundial. Mas o aumento das exportações brasileiras não foi suficiente nem sequer para recuperar
a participação que o país tinha antes da estabilização da moeda.
Em 1994, o país foi responsável
por pouco mais de 1% das vendas
mundiais -1,01%. No ano passado, com base em estimativa otimista, o Brasil teria tido uma participação de no máximo 0,97%
das exportações mundiais.
As quedas descritas acima podem parecer pequenas, mas,
quando se trata de comércio
mundial, medido em trilhões de
dólares, fazem uma grande diferença. Se o Brasil tivesse, no ano
passado, mantido a mesma participação nas exportações mundiais que tinha em 1994, teria vendido US$ 2 bilhões a mais.
Em 2002, o país exportou de fato US$ 60 bilhões. Se a participação fosse a mesma de 1985, quando o país obteve o melhor resultado desde 1980, as exportações somariam aproximadamente US$
80 bilhões. Ou seja, a meta de vender neste ano 10% a mais que em
2002 para exportar US$ 66 bilhões
já estaria mais que superada.
A derrota brasileira fica evidente quando se compara com outros
países em desenvolvimento, como México, China e Índia.
Em 1985, a China exportava US$
27,34 bilhões. Em 2001, exportou
quase dez vezes mais, US$ 266,15
bilhões. O Brasil, no mesmo período, conseguiu apenas multiplicar por 2,3 suas exportações, que
passaram de US$ 25,64 bilhões
para US$ 58,22 bilhões. As vendas
totais mundiais mais que triplicaram entre 1985 e 2001.
O caso do México também é de
sucesso. Em meados dos anos 80,
Brasil e México, as duas maiores
economias da América Latina, exportavam praticamente o mesmo
valor. Em 2001, as vendas mexicanas somaram US$ 158,55 bilhões,
quase o triplo que as brasileiras.
Um dos principais problemas
para o desempenho das vendas
externas brasileiras é a própria
pauta de exportação, que é concentrada em produtos com demanda pouco dinâmica, segundo
Renato Baumann, diretor do escritório da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) no país.
"A demanda mundial por produtos de informática dispara; a de
soja, não. Precisamos aumentar a
exportação de produtos dinâmicos. Em vez de vender café in natura, precisamos exportar café solúvel; em vez de cacau, o chocolate", diz Baumann.
O diretor da Cepal em Brasília
cita o caso da Índia como um
exemplo de país que investiu em
nichos de mercado com alta tecnologia e obteve sucesso.
"A Índia tem tido um desempenho exportador fantástico. Investiu em nichos de excelência tecnológica. Tem uma das maiores indústrias cinematográficas e farmacêuticas do mundo, com várias patentes. Tem também uma
indústria sofisticada de informática", afirma Baumann.
A perda de mercado e a escassez
de produtos dinâmicos na pauta
de exportação do país se devem,
em grande parte, à falta de políticas públicas de estímulo ao longo
dos anos 90.
"O Brasil foi muito "exitoso" entre 1960 e 1980 com a promoção
de exportação. A partir dos anos
90, falar em promoção passou a
ser entendido como a pré-seleção
de produtos para subsídios fiscais
pouco transparentes", diz o especialista em comércio exterior.
Na última década, o país começou a apostar no paradigma liberal que previa uma modernização
da indústria por meio da abertura
comercial. A aposta não rendeu
bons frutos, sobretudo, com a sobrevalorização do real que prevaleceu até 1999.
"Depois que o Brasil desvalorizou [a moeda", percebeu-se também que não basta ter um câmbio
favorável. Era preciso política de
promoção", diz Baumann.
Desde então, o diretor da Cepal
afirma que o estímulo ao comércio exterior voltou a fazer parte da
agenda política. Mas ainda falta
muito a ser feito. O acesso a crédito para empresas, a infra-estrutura e o apoio à pesquisa e a questão
tributária ainda precisam melhorar para o Brasil conquistar mercados, disse ele.
Inteligência comercial
O novo governo aposta na formação de um grupo de inteligência comercial para descobrir
oportunidades para os produtores brasileiros no exterior. O presidente da Apex (Agência de Promoção de Exportação), Juan Quirós, é um dos principais responsáveis pelo grupo, criado pelo ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).
"Os países em desenvolvimento
exportam cerca de 30% do seu
PIB. O Brasil, apenas 14%. Temos
condição de dobrar nossa participação", diz Quirós.
Seu trabalho inclui o mapeamento dos produtos de exportação de cada Estado brasileiro.
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