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São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

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COMÉRCIO GLOBAL

Diminui a participação brasileira nas transações, enquanto países como China e México conquistam espaço

País perde boom do mercado internacional

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil que comemora as exportações de aviões e se regozija com o saldo comercial recorde do ano passado é na verdade um dos perdedores do comércio mundial nas últimas duas décadas.
A participação das vendas externas brasileiras no comércio internacional definhou desde 1985, quando elas chegaram a representar 1,3% do comércio mundial. Em 2001, último dado consolidado da série da OMC (Organização Mundial do Comércio), o país teve de se contentar com menos de 1% -0,95%.
Desde 1999, o Brasil voltou a ganhar algum espaço no mercado mundial. Mas o aumento das exportações brasileiras não foi suficiente nem sequer para recuperar a participação que o país tinha antes da estabilização da moeda.
Em 1994, o país foi responsável por pouco mais de 1% das vendas mundiais -1,01%. No ano passado, com base em estimativa otimista, o Brasil teria tido uma participação de no máximo 0,97% das exportações mundiais.
As quedas descritas acima podem parecer pequenas, mas, quando se trata de comércio mundial, medido em trilhões de dólares, fazem uma grande diferença. Se o Brasil tivesse, no ano passado, mantido a mesma participação nas exportações mundiais que tinha em 1994, teria vendido US$ 2 bilhões a mais.
Em 2002, o país exportou de fato US$ 60 bilhões. Se a participação fosse a mesma de 1985, quando o país obteve o melhor resultado desde 1980, as exportações somariam aproximadamente US$ 80 bilhões. Ou seja, a meta de vender neste ano 10% a mais que em 2002 para exportar US$ 66 bilhões já estaria mais que superada.
A derrota brasileira fica evidente quando se compara com outros países em desenvolvimento, como México, China e Índia.
Em 1985, a China exportava US$ 27,34 bilhões. Em 2001, exportou quase dez vezes mais, US$ 266,15 bilhões. O Brasil, no mesmo período, conseguiu apenas multiplicar por 2,3 suas exportações, que passaram de US$ 25,64 bilhões para US$ 58,22 bilhões. As vendas totais mundiais mais que triplicaram entre 1985 e 2001.
O caso do México também é de sucesso. Em meados dos anos 80, Brasil e México, as duas maiores economias da América Latina, exportavam praticamente o mesmo valor. Em 2001, as vendas mexicanas somaram US$ 158,55 bilhões, quase o triplo que as brasileiras.
Um dos principais problemas para o desempenho das vendas externas brasileiras é a própria pauta de exportação, que é concentrada em produtos com demanda pouco dinâmica, segundo Renato Baumann, diretor do escritório da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) no país.
"A demanda mundial por produtos de informática dispara; a de soja, não. Precisamos aumentar a exportação de produtos dinâmicos. Em vez de vender café in natura, precisamos exportar café solúvel; em vez de cacau, o chocolate", diz Baumann.
O diretor da Cepal em Brasília cita o caso da Índia como um exemplo de país que investiu em nichos de mercado com alta tecnologia e obteve sucesso.
"A Índia tem tido um desempenho exportador fantástico. Investiu em nichos de excelência tecnológica. Tem uma das maiores indústrias cinematográficas e farmacêuticas do mundo, com várias patentes. Tem também uma indústria sofisticada de informática", afirma Baumann.
A perda de mercado e a escassez de produtos dinâmicos na pauta de exportação do país se devem, em grande parte, à falta de políticas públicas de estímulo ao longo dos anos 90.
"O Brasil foi muito "exitoso" entre 1960 e 1980 com a promoção de exportação. A partir dos anos 90, falar em promoção passou a ser entendido como a pré-seleção de produtos para subsídios fiscais pouco transparentes", diz o especialista em comércio exterior.
Na última década, o país começou a apostar no paradigma liberal que previa uma modernização da indústria por meio da abertura comercial. A aposta não rendeu bons frutos, sobretudo, com a sobrevalorização do real que prevaleceu até 1999.
"Depois que o Brasil desvalorizou [a moeda", percebeu-se também que não basta ter um câmbio favorável. Era preciso política de promoção", diz Baumann.
Desde então, o diretor da Cepal afirma que o estímulo ao comércio exterior voltou a fazer parte da agenda política. Mas ainda falta muito a ser feito. O acesso a crédito para empresas, a infra-estrutura e o apoio à pesquisa e a questão tributária ainda precisam melhorar para o Brasil conquistar mercados, disse ele.

Inteligência comercial
O novo governo aposta na formação de um grupo de inteligência comercial para descobrir oportunidades para os produtores brasileiros no exterior. O presidente da Apex (Agência de Promoção de Exportação), Juan Quirós, é um dos principais responsáveis pelo grupo, criado pelo ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).
"Os países em desenvolvimento exportam cerca de 30% do seu PIB. O Brasil, apenas 14%. Temos condição de dobrar nossa participação", diz Quirós.
Seu trabalho inclui o mapeamento dos produtos de exportação de cada Estado brasileiro.



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