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Empresa de uma pessoa só trava a Super-Receita
Senado muda texto e impede que órgão intervenha quando suspeitar de fraude
Lobby empresarial quer manter a tributação de profissionais liberais como empresas, mesmo que
não sejam empregadores
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo corre o risco de sofrer nova derrota no Congresso
para o lobby empresarial em
defesa do que se convencionou
chamar de "empresas de uma
pessoa só" -os profissionais
que prestam serviços na condição de pessoas jurídicas.
Desta vez, a disputa, iniciada
há dois anos, dificulta a votação
do projeto que unifica as estruturas de fiscalização e arrecadação dos ministérios da Fazenda e da Previdência, com a
criação da secretaria batizada
de Super-Receita.
Prioritário para a área econômica, o texto foi modificado pelo Senado e depende de nova
votação na Câmara dos Deputados. Das alterações feitas pelos senadores, a mais controversa impede a Super-Receita
de intervir quando considerar
que a contratação de pessoas
jurídicas é uma manobra para
encobrir relações trabalhistas e
driblar o fisco.
Trata-se, justamente, de uma
das maiores preocupações da
Receita Federal, que, numa
medida provisória editada no
último dia útil de 2004, tentou
elevar a tributação sobre os
prestadores de serviços para
reduzir as vantagens desse tipo
de contrato sobre o contrato
trabalhista tradicional. A MP
232 acabou criando uma associação de entidades contra o
aumento da carga tributária e
foi derrubada pelo Congresso
Nacional.
Ainda naquele ano, um lobby
liderado por empresas de comunicação conseguiu aprovar
um artigo explicitando que
profissionais liberais podem
ser tributados como pessoas jurídicas mesmo que não sejam
empregadores. Surpreendentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não atendeu à
recomendação da Receita para
o veto ao texto.
Lei da Micro e Pequena
Em 2006, o fisco conseguiu,
ao menos, impedir que as "empresas de uma pessoa só" fossem incluídas entre as beneficiárias da Lei Geral da Micro e
Pequena Empresa. Prevaleceu
o argumento de que a medida
poderia provocar uma fuga de
assalariados rumo à condição
de pessoas jurídicas, com prejuízos, em especial, para a arrecadação da Previdência.
No projeto da Super-Receita,
o artigo em favor das empresas
foi aprovado pelos senadores a
partir de um acordo entre governo e oposição: PFL e PSDB
conseguiram, ao todo, promover 35 alterações no texto, a
maior parte oriunda de um projeto pefelista conhecido como
Código de Defesa do Contribuinte.
Na Câmara, porém, o governo quer derrubar a maior parte
das mudanças, e o PFL avisou
que dará atenção especial à
"emenda nš 3" -a relacionada
aos prestadores de serviços. O
partido reage à ofensiva do secretário da Receita, Jorge Rachid, que anteontem foi ao
Congresso trabalhar para derrubar as alterações do Senado.
Os oposicionistas podem
contar com uma divisão na base aliada ao Planalto, a começar
pelo relator do projeto, deputado Pedro Novais (PMDB-MA),
que decidiu acatar integralmente 16 das emendas do Senado, entre elas a nš 3.
"Nos países avançados, a legislação trabalhista é quase
sempre extremamente liberal",
diz Novais, ao apresentar seu
relatório. Sem acordo em torno
do texto, a votação acabou adiada para a próxima semana.
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