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ARTIGO
Efeitos da crise persistirão por longo tempo
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
AS NOTÍCIAS econômicas da semana foram
bastante desagradáveis.
A compressão de crédito está se
agravando, e um indicador de
tendências muito acompanhado sobre o setor de serviços
-que responde pela maioria da
atividade econômica- caiu do
penhasco. Ainda não há certeza
de que estejamos a caminho de
uma recessão, mas a probabilidade é cada vez maior.
E, se as experiências do passado servem como guia, os problemas persistirão por longo
tempo -digamos que até a metade de 2010.
Os problemas que a economia dos Estados Unidos agora
enfrenta se assemelham muito
àqueles que causaram as duas
última recessões -mas desta
vez combinados.
De um lado, o estouro da bolha da habitação está desempenhando o papel que o estouro
da bolha da internet teve em
2001. De outro, a crise do setor
de empréstimos imobiliários
de alto risco ("subprime") está
criando uma compressão de
crédito que se assemelha ao
aperto surgido com o colapso
do setor de poupança e empréstimos imobiliários, no final da
década de 1980, que gerou a recessão de 1990.
Você talvez se recorde de que
essas duas recessões foram curtas. E é verdade que as duas últimas recessões passaram em
apenas oito meses.
Mas as datas oficiais quanto
ao final das duas recessões são
profundamente enganosas, pelo menos no que tange à experiência das pessoas. Existe um
motivo para que o governo do
presidente George W. Bush, em
seus esforços (cada vez mais
transparentes) para alardear o
bom desempenho econômico
em seus anos no poder, sempre
fale sobre o número de empregos criados de agosto de 2003
para cá. Porque foi só naquele
mês, cerca de dois anos e meio
depois do início da recessão,
que a economia dos Estados
Unidos começou a registrar
uma recuperação mais sólida.
E a mesma coisa havia acontecido uma década antes: a recessão que começou em 1990 se
encerrou oficialmente em março de 1991, mas a recuperação
sem criação de empregos que
se seguiu manteve os norte-americanos desanimados
quanto à economia até a eleição
de 1992.
Já que os problemas atuais
do país parecem uma combinação dos sofridos em 1990 e
2001, a forma do atual episódio
de perturbação econômica provavelmente se assemelhará à
dos episódios anteriores: mesmo que a recessão oficial seja
curta, o momento desfavorável
perdurará por um bom tempo
no próximo governo.
Duração
E até que ponto essa perturbação se agravará? A bolha dupla subjacente à atual crise
-que combina uma bolha no
setor de habitação a uma bolha
de crédito- sugere que a situação pode bem se provar pior do
que em 1990 ou 2001.
E alguns economistas bastante respeitados estão lançando alertas preocupantes. Um
novo estudo de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, que
compara os Estados Unidos
dos últimos anos a outros países avançados que sofreram
crises financeiras, vem despertando grande interesse. Os economistas constatam em seu estudo que o perfil do país se assemelha ao das "cinco grandes
crises", lista que inclui, por
exemplo, a crise sueca de 1991,
durante a qual o desemprego
subiu de 2% para 9% em apenas
dois anos.
Talvez tenhamos sorte e algo
assim não acontecerá. Mas o
que se poderia fazer para limitar os danos?
Desde setembro, o Federal
Reserve (Fed, o banco central
dos Estados Unidos) reduziu
sua taxa de juros básica cinco
vezes, de 5,25% para 3%, e todo
mundo espera novos cortes.
Mas as taxas de juros também
sofreram cortes dramáticos nas
duas desacelerações anteriores
-e ainda assim os problemas
persistiram por anos.
Enquanto isso, o Congresso e
o governo Bush chegaram a um
acordo quanto a um pacote de
estímulo, objeto de grande
alarde. Mas o pacote, ainda que
provavelmente seja melhor do
que a inação, não deve ter efeito
forte sobre o problema -em
parte devido à insistência do
governo e dos republicanos do
Senado em bloquear exatamente as medidas que poderiam ser mais efetivas, como a
extensão do seguro-desemprego e da assistência alimentícia
às famílias de baixa renda.
Mesmo assim, em janeiro a
Casa Branca terá um novo inquilino. Caso a queda ainda esteja em curso, o que é provável,
isso permitirá que o novo presidente considere outras medidas, mais efetivas.
O momento seria especialmente bom para pensar na possibilidade de ir além dos cortes
de impostos e dos cheques de
restituição e estimular a economia americana por meio de investimentos públicos altamente necessários -por exemplo,
reparos na infra-estrutura deteriorada do país.
A queixa usual quanto ao uso
de gastos públicos como forma
de estimular a economia é que
eles demoram a fazer efeito
-no momento em que o dinheiro começa a ser injetado,
em geral a recessão já acabou.
Mas, caso a queda prove ser
longa, o que parece provável,
esse fator deixará de ser problema.
Mas não teremos nenhuma
ação inovadora em favor da
economia a menos que o próximo presidente desfrute de dois
atributos essenciais.
Primeiro, é preciso que não
use os antolhos ideológicos que
levam o atual governo e seus
aliados a se oporem ferozmente à idéia de que um governo
nada pode fazer de positivo
além de cortar impostos.
Segundo, o novo presidente
precisa conhecer, ou se interessar por, política econômica.
Um presidente em geral não
precisa comandar a sua equipe
econômica em pessoa, mas precisa estar bem informado o bastante para escolher os conselhos corretos.
Será que teremos esse tipo de
presidente? O futuro dirá.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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