São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2004

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MUITO ALÉM DO COPOM

Índices mostram tendência de queda da inflação, porém BC deve manter cautela neste mês, dizem analistas

Preços caem, mas Selic deve ficar igual

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Indicadores de inflação recentes mostram que a tendência dos preços é a de queda e que a ameaça de fortes reajustes tão temida pelo Banco Central não está ocorrendo por enquanto. Por isso, os juros no mercado futuro despencaram nos últimos dias. Mas analistas seguem apostando em manutenção da Selic em 16,5% na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) da próxima semana.
A cautela da autoridade monetária se explicaria, segundo especialistas, por dois motivos.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), usado como referência no sistema de metas de inflação, ainda deve ter sido um pouco pressionado em fevereiro -a divulgação do resultado ocorrerá nesta semana.
Economistas esperam que o índice tenha ficado entre 0,65% e 0,75%. Um dos principais motivos para o resultado ainda elevado é a pressão dos reajustes das mensalidades escolares, que, por uma questão de metodologia de cálculo, são captados pelo IPCA apenas em fevereiro, embora tenham ocorrido em janeiro.
Além da influência que provavelmente o resultado do IPCA exercerá sobre a autoridade monetária, o BC revelou preocupação com possíveis reajustes nas últimas atas do Copom.
O temor do BC é em relação a repasses de preços da indústria para o varejo e das lojas para o consumidor final.
Manter os juros inalterados e esperar para ver os movimentos dos preços em março seria, então, uma questão de coerência, ainda que a inflação venha recuando.
Para André Braz, coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a cautela é até compreensível.
"Os IPCs de fevereiro mostraram pequenos reajustes nos produtos de linha branca. Foram repasses, em média, inferiores a 1%. Ainda que a hipótese de repasses mais fortes seja remota, dada a renda deprimida do consumidor, é preciso esperar para ver o que ocorre em março", diz Braz.
Por isso, segundo ele, embora os resultados dos índices de inflação mostrem que já há espaço para redução dos juros, o mais provável é que o BC mantenha a Selic inalterada em 16,5% ao ano.

Em queda
Apesar da esperada cautela do BC, analistas não vêem motivo para grande preocupação com a inflação, com base nos últimos índices de preços.
A FGV, por exemplo, calcula semanalmente o IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor Semanal). Entre a primeira e a última semana de fevereiro, o indicador recuou de 1,22% para 0,26%.
A mesma tendência de queda foi captada pelo ICV (Índice do Custo de Vida), do Dieese, no município de São Paulo, e pelo IPC-RJ, da FGV, divulgados ontem.
"Com certeza, esses indicadores mostram que a tendência da inflação, de agora em diante, parece boa", afirma Alexandre Maia, economista-chefe da GAP Asset Management.
Apesar disso, o economista também não acredita em corte de juros na próxima reunião do Copom. Segundo ele, os indicadores de inflação têm recuado, principalmente, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas, em outras regiões, ainda há alguma pressão.
"Nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, por exemplo, ainda há pressões nos preços dos alimentos por causa das fortes chuvas", afirma Maia.

Em abril
Embora as apostas de curto prazo continuem sendo de manutenção dos juros, analistas esperam recuo da Selic a partir de abril.
"Nas últimas semanas, por conta da crise política e da última ata do Copom, o mercado ficou muito cauteloso em relação à queda de juros, o que fez os futuros dispararem. Agora, eles estão recuando bastante", diz Carlos Cintra, gerente do banco Prosper.
Segundo Cintra, o movimento dos juros futuros chegou a mostrar que, em determinado momento, o mercado esperava novos cortes da Selic só em meados do ano. Agora, já refletem aposta em retomada do processo de queda a partir de abril.
Desde o último dia 4, os contratos de juros de janeiro de 2005, os mais negociados na BM&F, recuaram de 16,64% para 16,35% ontem.


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