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MUITO ALÉM DO COPOM
Índices mostram tendência de queda da inflação, porém BC deve manter cautela neste mês, dizem analistas
Preços caem, mas Selic deve ficar igual
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Indicadores de inflação recentes
mostram que a tendência dos preços é a de queda e que a ameaça de
fortes reajustes tão temida pelo
Banco Central não está ocorrendo
por enquanto. Por isso, os juros
no mercado futuro despencaram
nos últimos dias. Mas analistas seguem apostando em manutenção
da Selic em 16,5% na reunião do
Copom (Comitê de Política Monetária) da próxima semana.
A cautela da autoridade monetária se explicaria, segundo especialistas, por dois motivos.
O IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo), usado como referência no sistema de metas de inflação, ainda deve ter sido
um pouco pressionado em fevereiro -a divulgação do resultado
ocorrerá nesta semana.
Economistas esperam que o índice tenha ficado entre 0,65% e
0,75%. Um dos principais motivos para o resultado ainda elevado é a pressão dos reajustes das
mensalidades escolares, que, por
uma questão de metodologia de
cálculo, são captados pelo IPCA
apenas em fevereiro, embora tenham ocorrido em janeiro.
Além da influência que provavelmente o resultado do IPCA
exercerá sobre a autoridade monetária, o BC revelou preocupação com possíveis reajustes nas
últimas atas do Copom.
O temor do BC é em relação a
repasses de preços da indústria
para o varejo e das lojas para o
consumidor final.
Manter os juros inalterados e
esperar para ver os movimentos
dos preços em março seria, então,
uma questão de coerência, ainda
que a inflação venha recuando.
Para André Braz, coordenador
do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a cautela é até compreensível.
"Os IPCs de fevereiro mostraram pequenos reajustes nos produtos de linha branca. Foram repasses, em média, inferiores a 1%.
Ainda que a hipótese de repasses
mais fortes seja remota, dada a
renda deprimida do consumidor,
é preciso esperar para ver o que
ocorre em março", diz Braz.
Por isso, segundo ele, embora os
resultados dos índices de inflação
mostrem que já há espaço para redução dos juros, o mais provável é
que o BC mantenha a Selic inalterada em 16,5% ao ano.
Em queda
Apesar da esperada cautela do
BC, analistas não vêem motivo
para grande preocupação com a
inflação, com base nos últimos índices de preços.
A FGV, por exemplo, calcula semanalmente o IPC-S (Índice de
Preços ao Consumidor Semanal).
Entre a primeira e a última semana de fevereiro, o indicador recuou de 1,22% para 0,26%.
A mesma tendência de queda
foi captada pelo ICV (Índice do
Custo de Vida), do Dieese, no município de São Paulo, e pelo IPC-RJ, da FGV, divulgados ontem.
"Com certeza, esses indicadores
mostram que a tendência da inflação, de agora em diante, parece
boa", afirma Alexandre Maia,
economista-chefe da GAP Asset
Management.
Apesar disso, o economista
também não acredita em corte de
juros na próxima reunião do Copom. Segundo ele, os indicadores
de inflação têm recuado, principalmente, no Rio de Janeiro e em
São Paulo. Mas, em outras regiões, ainda há alguma pressão.
"Nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, por exemplo, ainda há
pressões nos preços dos alimentos por causa das fortes chuvas",
afirma Maia.
Em abril
Embora as apostas de curto prazo continuem sendo de manutenção dos juros, analistas esperam
recuo da Selic a partir de abril.
"Nas últimas semanas, por conta da crise política e da última ata
do Copom, o mercado ficou muito cauteloso em relação à queda
de juros, o que fez os futuros dispararem. Agora, eles estão recuando bastante", diz Carlos Cintra, gerente do banco Prosper.
Segundo Cintra, o movimento
dos juros futuros chegou a mostrar que, em determinado momento, o mercado esperava novos cortes da Selic só em meados
do ano. Agora, já refletem aposta
em retomada do processo de queda a partir de abril.
Desde o último dia 4, os contratos de juros de janeiro de 2005, os
mais negociados na BM&F, recuaram de 16,64% para 16,35%
ontem.
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