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Papéis do país podem
ser afetados ainda mais
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
Desprestigiado desde o "default" do país em 2001, o mercado
da dívida argentina poderá sofrer
mais um abalo, caso o país decida
não pagar a parcela do acordo
com o FMI (Fundo Monetário Internacional) que vence hoje.
Segundo Arturo Porsecanski,
economista-chefe de mercados
emergentes do banco ABN Amro,
os poucos investidores que ainda
investem em títulos soberanos argentinos poderiam se ver ainda
menos atraídos por esses papéis.
"Uma nova moratória afetaria o
mercado de ações, de títulos e de
moedas do país", disse.
Mesmo sem uma nova moratória, os investidores internacionais
têm diminuído as posições no
país em decorrência da queda-de-braço trimestral entre a Argentina
e o FMI. O Emerging Markets
Bond Fund, que tem US$ 24,7 bilhões aplicados em bônus dos
mercados emergentes, diminuiu
a fatia argentina no bolo da alocação de recursos do grupo. Em janeiro, os papéis argentinos tinham 2,5% de participação no total. Em fevereiro, essa participação recuou para 1,3%. Em 2000
(antes da moratória), essa fatia
chegou a 20%.
A corretora Pimco (Pacific Investment Management Company) retirou todas as posições
em papéis soberanos do país antes da moratória em 2001. A Pimco administra uma carteira de
US$ 370 bilhões em títulos da dívida de emergentes. Segundo Mohamed El-Erian, analista de mercados emergentes da instituição,
não há ainda motivação para retornar ao mercado argentino.
Walter Molano, da BCP Securities, também afirma que a forma
de a Argentina negociar com o
FMI tem fechado as portas do
mercado internacional. Nos últimos dias, representantes do governo argentino afirmaram que o
pagamento ao FMI está vinculado
à renovação do acordo com o
Fundo. Esse discurso, fortemente
encorajado pelo presidente Néstor Kirchner, tem sido visto por
Wall Street como uma estratégia
populista para atrair a simpatia da
população argentina. A tática, porém, causa efeito contrário nos investidores internacionais.
"O dilema para Kirchner é que
ele acredita que, se mudar a atitude com relação ao FMI, vai fazer
um papel ridículo", disse Molano.
"Para melhorar o acesso ao crédito externo, o governo vai ter que
encerrar essa luta com o FMI, renegociar a dívida e fazer acordo
com os seus credores. Depois disso, é só deixar as areias do tempo
cobrir o passado de moratória."
Para Porsecanski, além de populismo, há certa dose de má vontade da Argentina em lidar com
os credores. "Por razões políticas,
Kirchner escolheu não pagar os
credores. Ele não parece muito
disposto a negociar", diz.
Em carta publicada ontem no
"Wall Street Journal", o ministro
das Relações Exteriores da Argentina, Rafael Bielsa, rebateu esse tipo de acusação. "Nós temos avançado na renegociação da dívida
com credores privados, que é um
processo altamente complexo devido à enormidade das obrigações envolvidas", escreveu.
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