São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2004

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FLUXO DE CAPITAIS

Emissões líquidas do país foram de US$ 14,2 bi em 2003; BIS vê risco de fuga de recursos se EUA elevarem juros

Brasil lidera captações entre emergentes

GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO

O Brasil foi de longe o país emergente que mais captou recursos no mercado financeiro mundial no ano passado. Mas, segundo o BIS (Banco de Compensações Internacionais), o país poderá enfrentar dificuldade para obter recursos externos caso os juros subam nos EUA.
As emissões líquidas (vendas menos resgates) efetuadas pelo governo brasileiro e pelas empresas totalizaram US$ 14,2 bilhões em 2003. Os emergentes como um todo captaram US$ 64,2 bilhões líquidos, maior volume desde 97, quando a crise asiática secou o fluxo de recursos.
O BIS, cuja sede fica na Basiléia (Suíça), funciona como um banco central dos bancos centrais. A instituição divulgou ontem o seu relatório trimestral sobre os fluxos internacionais de capital, o balanço mais completo das transações financeiras globais.
Depois do Brasil, o emergente que mais captou foi a Coréia do Sul, com US$ 7,8 bilhões. Em seguida aparecem China e Taiwan (ver quadro). Por região, a maior parte das emissões foi feita por países asiáticos.
Segundo o BIS, os países emergentes têm aproveitado o período de alta liquidez e de elevado apetite por risco no mercado financeiro mundial para captar recursos. Os juros estão internacionalmente baixos, e há bastante dinheiro para ser investido.
O ritmo de emissões seguiu intenso no começo deste ano. Em janeiro, os emergentes captaram US$ 18,9 bilhões. "É o maior valor desde junho de 1997, antes da crise asiática, mais de 30% superior a janeiro de 2003", diz o relatório.
As captações são feitas por meio da venda de títulos de endividamento, públicos ou privados, a investidores estrangeiros. O BIS nota que boa parte das captações foi feita por países considerados de elevado risco, como Brasil, Turquia e Venezuela.
"A procura dos investidores por rendimentos mais altos estimulou o robusto crescimento do endividamento dos mercados emergentes", afirma o BIS.
A taxas de juros estão em níveis extremamente baixos nos países ricos (1% ao ano nos EUA e 2% ao ano na zona do euro). Com a queda nos níveis de risco nos emergentes no ano passado, mais dinheiro correu para esses países, cujos juros são mais atraentes.
Em 2002, havia ocorrido uma grande seca de recursos, em decorrência de um movimento de fuga do risco e de procura por ativos mais seguros. O Brasil foi especialmente afetado no período eleitoral, e a saída de recursos fez a cotação do dólar subir acentuadamente, para perto de R$ 4.
O BIS afirma que países de elevado risco, como o Brasil, são muito sensíveis a uma elevação nos juros dos EUA. A instituição lembra que o risco Brasil subiu cem pontos no final de janeiro, quando o Fed (BC dos EUA) sinalizou que poderia elevar os juros.
Quanto mais elevado o risco, maior é a taxa de juros que um país paga em relação à americana. Se a taxa sobe nos EUA, o país precisa elevar os juros internos, sob a ameaça de haver uma saída acentuada de recursos, em busca de melhor remuneração com risco menor.
Apesar da melhora nas condições da América Latina no ano passado, a região registrou, entre julho e setembro, o sexto trimestre consecutivo de fuga de capitais. Houve, no período, uma saída líquida de US$ 13,212 bilhões.

Euro forte
Pelo segundo ano consecutivo, as emissões globais denominadas em euro superaram as feitas em dólar. Em 2003, o euro teve uma liderança ainda mais acentuada, o que se refletiu na valorização da moeda ante a norte-americana.
No ano passado, as emissões em euro totalizaram US$ 834,3 bilhões, ante US$ 522,7 bilhões no ano anterior. Em dólar, foram US$ 463,3 bilhões em 2003 e US$ 419,1 bilhões em 2002.


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