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FLUXO DE CAPITAIS
Emissões líquidas do país foram de US$ 14,2 bi em 2003; BIS vê risco de fuga de recursos se EUA elevarem juros
Brasil lidera captações entre emergentes
GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO
O Brasil foi de longe o país
emergente que mais captou recursos no mercado financeiro
mundial no ano passado. Mas, segundo o BIS (Banco de Compensações Internacionais), o país poderá enfrentar dificuldade para
obter recursos externos caso os
juros subam nos EUA.
As emissões líquidas (vendas
menos resgates) efetuadas pelo
governo brasileiro e pelas empresas totalizaram US$ 14,2 bilhões
em 2003. Os emergentes como
um todo captaram US$ 64,2 bilhões líquidos, maior volume desde 97, quando a crise asiática secou o fluxo de recursos.
O BIS, cuja sede fica na Basiléia
(Suíça), funciona como um banco
central dos bancos centrais. A instituição divulgou ontem o seu relatório trimestral sobre os fluxos
internacionais de capital, o balanço mais completo das transações
financeiras globais.
Depois do Brasil, o emergente
que mais captou foi a Coréia do
Sul, com US$ 7,8 bilhões. Em seguida aparecem China e Taiwan
(ver quadro). Por região, a maior
parte das emissões foi feita por
países asiáticos.
Segundo o BIS, os países emergentes têm aproveitado o período
de alta liquidez e de elevado apetite por risco no mercado financeiro mundial para captar recursos.
Os juros estão internacionalmente baixos, e há bastante dinheiro
para ser investido.
O ritmo de emissões seguiu intenso no começo deste ano. Em
janeiro, os emergentes captaram
US$ 18,9 bilhões. "É o maior valor
desde junho de 1997, antes da crise asiática, mais de 30% superior a
janeiro de 2003", diz o relatório.
As captações são feitas por meio
da venda de títulos de endividamento, públicos ou privados, a investidores estrangeiros. O BIS nota que boa parte das captações foi
feita por países considerados de
elevado risco, como Brasil, Turquia e Venezuela.
"A procura dos investidores por
rendimentos mais altos estimulou o robusto crescimento do endividamento dos mercados emergentes", afirma o BIS.
A taxas de juros estão em níveis
extremamente baixos nos países
ricos (1% ao ano nos EUA e 2% ao
ano na zona do euro). Com a queda nos níveis de risco nos emergentes no ano passado, mais dinheiro correu para esses países,
cujos juros são mais atraentes.
Em 2002, havia ocorrido uma
grande seca de recursos, em decorrência de um movimento de
fuga do risco e de procura por ativos mais seguros. O Brasil foi especialmente afetado no período
eleitoral, e a saída de recursos fez a
cotação do dólar subir acentuadamente, para perto de R$ 4.
O BIS afirma que países de elevado risco, como o Brasil, são
muito sensíveis a uma elevação
nos juros dos EUA. A instituição
lembra que o risco Brasil subiu
cem pontos no final de janeiro,
quando o Fed (BC dos EUA) sinalizou que poderia elevar os juros.
Quanto mais elevado o risco,
maior é a taxa de juros que um
país paga em relação à americana.
Se a taxa sobe nos EUA, o país
precisa elevar os juros internos,
sob a ameaça de haver uma saída
acentuada de recursos, em busca
de melhor remuneração com risco menor.
Apesar da melhora nas condições da América Latina no ano
passado, a região registrou, entre
julho e setembro, o sexto trimestre consecutivo de fuga de capitais. Houve, no período, uma saída líquida de US$ 13,212 bilhões.
Euro forte
Pelo segundo ano consecutivo,
as emissões globais denominadas
em euro superaram as feitas em
dólar. Em 2003, o euro teve uma
liderança ainda mais acentuada, o
que se refletiu na valorização da
moeda ante a norte-americana.
No ano passado, as emissões em
euro totalizaram US$ 834,3 bilhões, ante US$ 522,7 bilhões no
ano anterior. Em dólar, foram
US$ 463,3 bilhões em 2003 e US$
419,1 bilhões em 2002.
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