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Nem redução do IPI anima a venda de caminhões
Com exportações em baixa e mercado interno sem sinais de reação devido à crise, venda de veículos pesados tem queda de até 30%
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado de caminhões zero quilômetro ainda não conseguiu se recuperar da crise iniciada no último trimestre do
ano passado. Além da queda
nas exportações, o mercado interno também não dá sinais de
recuperação.
Ao contrário da reação do
segmento de carros de passeio,
as montadoras de veículos pesados ainda amargam vendas
anêmicas mesmo depois da redução da alíquota do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de 5% para zero e
da expansão de cobertura do
Finame (Financiamento de
Máquinas e Equipamentos),
principal linha de crédito do setor. A queda nas vendas varia
entre 20% e 30%.
De acordo com dados apurados pela Folha, foram vendidos
6.285 caminhões em fevereiro,
o que representa a quarta redução consecutiva.
Embora a diminuição tenha
sido marginal (0,80% na comparação com janeiro), as montadoras estão preocupadas com
a estabilização das vendas em
um nível bastante abaixo dos
registrados em 2008 -o melhor da história, quando faltava
caminhão no país.
Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes
de Veículos Automotores), o
emplacamento de novos veículos pesados em 2008 bateu recorde, alcançando 122,4 mil
unidades. No ano anterior, a
comercialização de caminhões
havia sido de 98,5 mil.
O embalo do mercado animou investimentos em expansão da capacidade. A estimativa
é que a produção hoje pode alcançar 210 mil unidades por
ano, incluindo caminhões e
ônibus. No início do ano passado, essa capacidade era de 190
mil unidades.
O ritmo de 6.000 unidades
em cada um dos dois primeiros
meses de 2009 (considerados
apenas os dados de emplacamento) projeta volumes abaixo
do registrado em 2008.
A esperança agora é ver a recuperação se iniciar neste mês,
e isso inclui a torcida pela manutenção da redução do IPI
(não decidida pelo governo) e
até um programa para a modernização da frota, hoje com
idade média de 22 anos.
Enquanto isso, a indústria
fez demissões, colocou trabalhadores sob regime de licença
e concedeu mais férias coletivas. Com isso, reduziu os estoques e enquadrou o ritmo de
produção ao ânimo fraco das
encomendas.
Recuo
A Volkswagen Caminhões e
Ônibus, a maior montadora do
país, afastou 500 trabalhadores
da unidade de Resende (RJ)
por cinco meses. Com isso, reduziu a capacidade de produção de 230 para 170 veículos
por dia.
"A decisão de pôr em licença
10% dos trabalhadores tem como fundamento a avaliação de
que o mercado interno vai se
recuperar até o fim do semestre", diz Roberto Cortez, presidente da Volkswagen.
A Ford tratou de reduzir de
113 mil para 100 mil unidades a
expectativa do mercado para
2009. "Se o mercado for de 100
mil unidades, ainda será 4% superior ao segundo melhor ano
da história do setor, o ano de
2007", afirma Oswaldo Jardim,
diretor das operações de caminhões da Ford América do Sul.
Por ora, a fábrica em São Bernardo do Campo ficará parada
até o dia 16, medida tomada para ajustar estoque e produção
ao novo patamar de vendas.
A Iveco, empresa do grupo
Fiat, instalada na cidade de Sete Lagoas (MG), espera que o
início da safra agrícola inaugure um novo período de vendas.
A empresa ainda projeta um
mercado de 115 mil unidades
no ano. A Iveco foi uma das
montadoras que concluíram
investimentos em expansão da
capacidade de produção exatamente no período de crise.
Nos dois primeiros meses de
2009, segundo números da Anfavea, a empresa produziu
1.300 veículos -média de 650
unidades por mês, bem abaixo
das 1.000 vendidas no ano passado.
Alcides Cavalcante, diretor
comercial da Iveco, nega que a
situação tenha criado algum
problema financeiro para a
montadora em virtude de recentes investimentos feitos em
Minas Gerais. Férias coletivas e
demissões, segundo a empresa,
foram suficientes, até agora,
para enquadrar o parque produtivo ao ritmo do mercado.
Sem encomenda
A redução das exportações e
o esfriamento do mercado interno fizeram os transportadores rodoviários suspenderem
os pedidos de novos caminhões
para as montadoras. Até setembro do ano passado, havia lista
de espera nas concessionárias;
hoje, há pronta entrega.
"Comprar um caminhão não
é a mesma coisa que comprar
um carro. Se a economia para,
ninguém vai investir num caminhão mais novo e bonito para deixar na garagem", diz
Newton Gibson, vice-presidente da CNT (Confederação Nacional dos Transportes).
Segundo Flávio Benatti, presidente da NTC & Logística e
membro da seção de cargas da
CNT, a redução do IPI e a ampliação de 80% para 100% do financiamento com linhas do Finame não foram suficientes para impulsionar as vendas de caminhões no país.
"Claro que a redução do IPI e
a concessão de mais crédito
ajudam, mas o sinal mais relevante é a demanda por transporte, é o crescimento econômico que gera fretes. E isso, por
enquanto, não é visto", afirma
Benatti.
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