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BCs mundiais cogitam até moeda alternativa
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BASILEIA
A dramática queda nos financiamentos internacionais preocupa bancos centrais de todo o
mundo. Sem conseguirem restaurar o crédito com ferramentas tradicionais, como cortes
das taxas de juros, eles discutem ideias como o fortalecimento do poder de empréstimo
do FMI (Fundo Monetário Internacional), que poderia resultar até na criação de uma
moeda alternativa.
Reunidos em Basileia, na
Suíça, os banqueiros consideram o bloqueio nos canais de
crédito, que já derrubou em
mais de 50% o comércio internacional e os investimentos estrangeiros, como o grande desafio atual no combate à crise.
No caso do Brasil, a preocupação é menor. Autoridades
monetárias do país consideram
que a queda nas exportações
hoje se deve unicamente à diminuição da demanda internacional, já que o crédito foi restabelecido. Desde novembro, o
BC brasileiro já gastou US$ 13,6
bilhões no financiamento do
comércio exterior.
Uma das ideias para resolver
o problema em escala global,
que a União Europeia irá apresentar na reunião do G20, em
abril em Londres, é dobrar os
recursos do FMI para US$ 500
bilhões, a fim de garantir ajuda
a países endividados.
Mas já está em discussão um
montante adicional de US$ 250
bilhões. Ele seria obtido com a
emissão de papéis do FMI conhecidos como Direito Especial de Saques (SDR, na sigla em
inglês). Assim, os países estariam não apenas aumentando
os recursos disponíveis para
socorrer governos mas também fortalecendo uma moeda
reserva, alternativa ao dólar,
explicou um banqueiro.
O SDR é um ativo criado pelo
FMI em 1969, com base numa
cesta das principais moedas do
mundo, para complementar as
reservas oficiais dos países-membros com uma referência
menos volátil que o padrão-dólar/ouro. A ideia discutida agora, e que já foi defendida por
personalidades do mundo financeiro como o megaespeculador George Soros, é a de que
os países ricos cederiam suas
cotas de SDR para economias
em dificuldade, que teriam, assim, um acesso mais fácil a
moedas estrangeiras.
Essas e outras sugestões foram levantadas ontem, durante
reunião do BIS (Banco para
Compensações Internacionais), que funciona com uma
espécie de banco central dos
bancos centrais. Se há um ano o
debate no BIS era sobre a extensão da crise nos Estados
Unidos, hoje o foco é a paralisia
no mercado de crédito.
Na discussão de ontem, que
teve a presença do presidente
do BC do Brasil, Henrique Meirelles, foram ventiladas soluções regionais e multilaterais.
Existe consenso de que a região
mais impactada pela fuga de investimentos é o Leste Europeu,
onde cerca de 50% do crédito
total é externo.
A preocupação de um efeito
dominó na região é clara, dados
os muitos empréstimos de bancos de países como Áustria, Itália e Alemanha para empresas
do Leste Europeu.
Em segundo lugar na lista de
preocupações, "mas bem abaixo do Leste Europeu", segundo
um banqueiro que esteve na
reunião do BIS, está a América
Latina, onde a situação é bastante heterogênea.
De um lado Brasil, Chile e,
em menor medida, México,
com reservas suficientes para
suprir a necessidade de crédito
do mercado. De outro, países
como Argentina e Venezuela
sem o mesmo poder de fogo e
com economias fortemente
afetadas pela queda nos preços
das commodities.
Nas reuniões do BIS, que
continuam hoje, a conclusão é a
de que o principal problema
atual não é necessariamente
monetário, mas de crédito.
Mesmo com as taxas básicas de
juros sendo cortadas em vários
países, incluindo o Brasil, o
"spread" continua aumentando, ou seja, o custo do crédito
mantém-se elevado.
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