São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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BCs mundiais cogitam até moeda alternativa

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BASILEIA

A dramática queda nos financiamentos internacionais preocupa bancos centrais de todo o mundo. Sem conseguirem restaurar o crédito com ferramentas tradicionais, como cortes das taxas de juros, eles discutem ideias como o fortalecimento do poder de empréstimo do FMI (Fundo Monetário Internacional), que poderia resultar até na criação de uma moeda alternativa.
Reunidos em Basileia, na Suíça, os banqueiros consideram o bloqueio nos canais de crédito, que já derrubou em mais de 50% o comércio internacional e os investimentos estrangeiros, como o grande desafio atual no combate à crise.
No caso do Brasil, a preocupação é menor. Autoridades monetárias do país consideram que a queda nas exportações hoje se deve unicamente à diminuição da demanda internacional, já que o crédito foi restabelecido. Desde novembro, o BC brasileiro já gastou US$ 13,6 bilhões no financiamento do comércio exterior.
Uma das ideias para resolver o problema em escala global, que a União Europeia irá apresentar na reunião do G20, em abril em Londres, é dobrar os recursos do FMI para US$ 500 bilhões, a fim de garantir ajuda a países endividados.
Mas já está em discussão um montante adicional de US$ 250 bilhões. Ele seria obtido com a emissão de papéis do FMI conhecidos como Direito Especial de Saques (SDR, na sigla em inglês). Assim, os países estariam não apenas aumentando os recursos disponíveis para socorrer governos mas também fortalecendo uma moeda reserva, alternativa ao dólar, explicou um banqueiro.
O SDR é um ativo criado pelo FMI em 1969, com base numa cesta das principais moedas do mundo, para complementar as reservas oficiais dos países-membros com uma referência menos volátil que o padrão-dólar/ouro. A ideia discutida agora, e que já foi defendida por personalidades do mundo financeiro como o megaespeculador George Soros, é a de que os países ricos cederiam suas cotas de SDR para economias em dificuldade, que teriam, assim, um acesso mais fácil a moedas estrangeiras.
Essas e outras sugestões foram levantadas ontem, durante reunião do BIS (Banco para Compensações Internacionais), que funciona com uma espécie de banco central dos bancos centrais. Se há um ano o debate no BIS era sobre a extensão da crise nos Estados Unidos, hoje o foco é a paralisia no mercado de crédito.
Na discussão de ontem, que teve a presença do presidente do BC do Brasil, Henrique Meirelles, foram ventiladas soluções regionais e multilaterais. Existe consenso de que a região mais impactada pela fuga de investimentos é o Leste Europeu, onde cerca de 50% do crédito total é externo.
A preocupação de um efeito dominó na região é clara, dados os muitos empréstimos de bancos de países como Áustria, Itália e Alemanha para empresas do Leste Europeu.
Em segundo lugar na lista de preocupações, "mas bem abaixo do Leste Europeu", segundo um banqueiro que esteve na reunião do BIS, está a América Latina, onde a situação é bastante heterogênea.
De um lado Brasil, Chile e, em menor medida, México, com reservas suficientes para suprir a necessidade de crédito do mercado. De outro, países como Argentina e Venezuela sem o mesmo poder de fogo e com economias fortemente afetadas pela queda nos preços das commodities.
Nas reuniões do BIS, que continuam hoje, a conclusão é a de que o principal problema atual não é necessariamente monetário, mas de crédito. Mesmo com as taxas básicas de juros sendo cortadas em vários países, incluindo o Brasil, o "spread" continua aumentando, ou seja, o custo do crédito mantém-se elevado.


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