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agrofolha
Vinhos argentinos focam mercado brasileiro
Exportações para o Brasil crescem mais de 130% em janeiro e país passa o Reino Unido como segundo maior mercado
Indústrias brasileiras veem crescimento com apreensão; produtores argentinos dizem que meta é só trazer os vinhos de boa qualidade
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Ao comprar uma garrafa de
vinho argentino nos supermercados de São Paulo, um consumidor mais atento poderá notar que, em alguns casos, o rótulo indica que o produto tem
como procedência o país vizinho, mas a importação é de
uma empresa do Reino Unido.
Nada de errado, já que outro
selo anexado à garrafa indica o
importador brasileiro. Ou seja,
o vinho comprado em São Paulo tinha como destino inicial o
Reino Unido. Isso apenas mostra a importância que o Brasil
começa a ter para a indústria de
vinho argentina.
Neste início de ano, as exportações argentinas para o Brasil
superaram em 133% as de janeiro de 2009, atingindo 1,1 milhão de litros. Com isso, o país
passou a ser o segundo principal mercado para o país vizinho, superando os ingleses -os
EUA lideram a lista.
Os argentinos não escondem
que o Brasil passou a ser um alvo importante e que cada vez
mais o foco estará voltado para
cá. A produção está evoluindo,
e as empresas veem um mercado crescente por aqui devido ao
esperado desenvolvimento
econômico brasileiro e à elevação de renda da população.
Eles podem ganhar ainda
mais mercado no Brasil depois
que a indústria chilena de vinho foi seriamente afetada com
o terremoto em fevereiro.
Além de prejuízo na lavoura,
os chilenos tiveram grande perda de vinho engarrafado e do
que estava para ser engarrafado. Os chilenos são os principais fornecedores de vinho ao
Brasil, seguidos dos argentinos.
Consumo
Argentinos e brasileiros caminham em direções opostas.
Após ter atingido 90 litros de
consumo anual per capita na
década de 70, os argentinos
consomem atualmente 28 litros. No caso do Brasil, algumas
vinícolas trabalham com um
consumo atual de 1,8 litro per
capita por ano, mas estimam 9
litros em 20 anos.
Susana Balbo, presidente da
Wines of Argentina, entidade
que congrega as empresas exportadoras de vinho, acha essa
estimativa um pouco otimista.
Os argentinos, de fato, vão
necessitar de novos mercados.
O setor passou por uma revitalização nos últimos anos -deixou de lado a produção de volume e busca elevar a qualidade.
O capital estrangeiro desembarcou em várias das principais
vinícolas do país. Uma das presenças mais fortes é a de grandes empresas chilenas. Além
disso, novas regiões, como a Patagônia, estão sendo anexadas à
produção.
"Cai o volume consumido,
mas aumenta a qualidade", diz
Guillermo A. Barzi, presidente
da Humberto Canale, centenária vinícola da Província de Río
Negro e que ainda se mantém
nas mãos da família fundadora.
Barzi diz que dois momentos
macroeconômicos foram importantes para essa virada na
indústria de vinho. Primeiro, a
paridade de um peso por um
dólar ocorrida na década de 90,
que permitiu a modernização
das empresas com a adoção de
novas tecnologias, tanto no
campo como nas indústrias. De
1995 a 2001, os investimentos
somaram US$ 1,5 bilhão.
Mais recentemente, Barzi
aponta a crise financeira mundial como responsável pela
maior abertura do mercado externo aos vinhos argentinos.
Apreensão
A Wines of Argentina confirma essa boa fase do setor durante a crise mundial. Segundo
a presidente da entidade, enquanto muitos países tiveram
queda no comércio exterior, a
Argentina elevou em 8% as exportações em volume e em 10%
em faturamento no ano passado. "O aumento se deve à boa
relação de custo-benefício do
nosso produto", diz Balbo.
O avanço argentino no Brasil
é visto com apreensão pelas indústrias brasileiras, que acusam os vizinhos de trazer muito
produto de baixa qualidade.
Mario Giordano, da Wines,
diz que o objetivo das indústrias argentinas é a colocação
apenas de produtos de qualidade, na faixa de R$ 20 a R$ 30
por garrafa, além dos vinhos de
linha superior, em geral vendidos em lojas especializadas, em
restaurantes e em hotéis.
Uma circulada pelos supermercados, no entanto, mostra
grande leque de vinhos argentinos de R$ 7 a R$ 9 por garrafa.
José Alberto Zuccardi, diretor da vinícola Família Zuccardi, diz que "em vez de brigar,
brasileiros e argentinos devem
ser complementares para desenvolver o mercado. É bom
para todos", conclui.
Os jornalistas MAURO ZAFALON e
AYRTON VIGNOLA viajaram a convite
da Wines of Argentina
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