São Paulo, Terça-feira, 09 de Março de 1999
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TROCA DE GUARDA
Ex-presidente do BC ataca desvalorização ao passar cargo a Fraga e diz que "faltou comando" na autarquia
Defesa do real foi abandonada, diz Franco

Sergio Lima/Folha Imagem
O ex-presidente do BC Gustavo Franco durante discurso ontem


FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco atacou ontem a desvalorização do real. "A defesa da moeda não falhou, nem caiu vítima de um irresistível ataque especulativo: foi abandonada porque muitas vozes influentes acreditavam que havia uma maneira de fazer as coisas mais fáceis", disse.
Essas "vozes influentes", segundo Franco, seriam as defensoras de um "desenvolvimentismo irresponsável (e mefistofélico)" que "tem de ser esconjurado de uma vez por todas".
Com 26 páginas, o discurso de Franco demorou uma hora e vinte minutos para ser lido durante a cerimônia de transmissão de cargo para o novo presidente da instituição, Armínio Fraga.
Os desenvolvimentistas que teriam sido os principais defensores da desvalorização do real, segundo Franco, não estariam comprometidos com o ajuste fiscal -limitar os gastos dos governos federal, estaduais e municipais apenas ao que é arrecadado em impostos, taxas e contribuições.
As críticas de Franco tinham como principal alvo os ministros José Serra (Saúde) e Paulo Renato (Educação), adversários do ex-presidente do BC.
Franco não admitiu ter cometido erros ao longo dos seis anos que passou no Banco Central, sendo os últimos 17 meses como presidente da instituição.
Pelo contrário, o ex-presidente do BC desqualificou a crítica sobre um suposto atraso na desvalorização do real.
"Como seria a decolagem do real se começássemos com uma política monetária frouxa e uma desvalorização cambial? Eu lhes digo: seria um desastre", afirmou.
Franco voltou a repetir o argumento sobre a imprevisibilidade das crises externas que contaminaram a economia brasileira.
"O real poderia ter caído vítima do El Niño ou da moratória russa (para não falar da crise da Ásia), eventos imprevisíveis e totalmente desligados da arquitetura do real, ocorridos cinco anos depois do alegado "erro" na política cambial", disse Franco.
Sobre a recente crítica ao BC, de que faltaria alguém com experiência de mercado para conter a desvalorização do real, depois que a moeda passou a ter cotação flutuante, Franco disse o seguinte: "No Banco Central do Brasil nunca faltou operador. Às vezes faltou foi comando". Uma crítica indireta ao ex-presidente Chico Lopes, demitido do cargo pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.


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