São Paulo, Terça-feira, 09 de Março de 1999
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Troca de farpas marca solenidade no Banco Central

da Sucursal de Brasília

O novo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, elogiou Gustavo Franco em seu discurso na solenidade de transmissão de cargo, mas apontou fragilidades na política econômica do antecessor.
Fraga incluiu a vulnerabilidade das contas externas entre "as raízes da crise atual", ao lado das turbulências internacionais, do déficit fiscal e de questões de política interna, como derrotas no Congresso e moratória de Minas Gerais.
Ao discursar, Franco não citou o déficit externo como um detonador da crise, sublinhando apenas os três outros motivos apontados por Fraga. Pelo contrário, Franco criticou quem aponta a sobrevalorização cambial como um "mal de origem" do Plano Real.
"O déficit em nossa conta corrente do balanço de pagamentos vinha aumentando mesmo com a economia em recessão", disse o novo presidente do BC.
Fraga acrescentou que todos esses problemas levaram à "percepção de que tínhamos uma trajetória de dívida interna insustentável e que o balanço de pagamentos não era financiável".
A correção do déficit externo, segundo ele, é um dos elementos do tripé de política econômica para superar a crise atual. Os outros dois são os juros e a redução do déficit fiscal.
Fraga afirmou que a correção das contas externas está sendo conduzida de forma passiva, com a desvalorização, e de forma ativa, com a revisão do acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional)
Armínio Fraga reafirmou que hoje a dívida interna é sustentável. Segundo ele, as condições para isso foram criadas com o ajuste fiscal, as privatizações e a redução de juros que o fim do risco cambial tornará possível.

Anos perdidos
O ministro Pedro Malan (Fazenda) encerrou a solenidade no BC, elogiou o trabalho de Franco, mas mostrou incômodo com o tom pessimista do longo discurso do ex-presidente do BC.
"O tempo, o bom senso e os compromissos nos recomendam que sejamos breves", disse Malan. Em seguida, acrescentou: "Não é correta a visão de que os últimos seis anos foram uma lista de oportunidades perdidas. A política não é a arte do possível. É (a arte) de tornar possível no futuro o que nos parece impossível hoje".
As afirmações funcionaram como uma contraposição ao pessimismo de Franco.
Malan foi breve, como prometera, e entre as citações, uma foi curiosa. Ele informou que Sadam Hussein é autor da expressão "a mãe de todas as batalhas", empregada por Franco para destacar a importância do ajuste fiscal.
Para o ministro da Fazenda, a estabilidade da moeda não é um fim em si mesmo e ela permitirá o crescimento da economia e a expansão do emprego.
Fraga afirmou que tem dois objetivos na direção do BC: a estabilidade da moeda e garantir um sistema bancário eficiente e seguro.
Para cumprir esse segundo objetivo, disse, é necessário pensar em simplificação, transparência e desregulamentação -incluindo o fim do direcionamento de crédito.
Fraga também elogiou o Proer (programa de socorro aos bancos), afirmando que a situação hoje seria muito mais difícil se houvesse fragilidade no sistema bancário.
Ele voltou a dizer que não pretende romper contratos e afastou a possibilidade de "saídas fáceis", como a moratória da dívida. "Não há atalhos", disse.
Para ele, as verdadeiras bases para o crescimento da economia incluem a poupança doméstica, os investimentos, a educação, a produtividade e a integração internacional.


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